quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Querem mesmo normalizar o crédito?
Os empresários têm-se queixado que a banca está a agravar as dificuldades das empresas. Como seria de esperar, esta situação não é apenas portuguesa e Willem Buiter destaca uma razão que me parece muito importante: o receio dos bancos de uma ‘intervenção’ do Estado pelo facto de terem rácios de solvabilidade demasiado baixos. Sobretudo se, por uma razão moral, a intervenção vier acompanhada da demissão dos gestores, ou de uma forte penalização dos seus rendimentos.
Convém não esquecer, por aquilo que temos visto, que as contas dos bancos devem ser tudo menos um exemplo de legalidade e transparência. Por isso, por mais exortações que os Governos façam, o objectivo número um dos bancos é agora acumular rapidamente a liquidez que for necessária para não se sujeitarem a uma intervenção pública.
Assim, se os empresários querem mesmo ver o crédito à economia normalizado, e não concordam que a ganância e a fraude financeira devam ser pagas pelos cidadãos em geral, então devem dizer ao Governo que reveja a sua actuação no BPN e faça o seguinte:
“injectar mais capital nos bancos como forma de os tornar propriedade pública. Como único proprietário, poderá despedir as administrações e executivos de topo sem indemnizações chorudas. … Mandatar os novos quadros do banco para assumirem uma gestão comercial em termos normais. … a criação de um ‘mau banco’ [ou vários] que ficaria com um balanço onde se registariam todos os activos ‘tóxicos’ actualmente na posse dos bancos comerciais. … Tratar-se-ia de uma redistribuição de riqueza entre entidades públicas. … O ‘mau banco’ ficaria com todos os activos tóxicos [e de cobrança duvidosa] e receberia os rendimentos que aqueles activos viessem a proporcionar até que a liquidez do mercado ficasse restabelecida. No limite, o ‘mau banco’ ficaria com os activos tóxicos até ao respectivo vencimento. Os bancos públicos [os ‘bons bancos’] seriam reprivatizados quando os mercados financeiros estabilizassem e a economia recuperasse. Seria bom que nessa altura já estivesse em vigor um melhor regime de regulação e supervisão dos bancos.” (Ver aqui o artigo todo)
Discordo da conclusão de Buiter. Como socialista, prefiro a “socialização” do sistema de crédito (não é estatização!) aqui defendida pelo Nuno Teles. Ainda assim, como também já aqui escrevi, acho que o Estado devia ficar com outro banco além da CGD. Teria um mandato específico: microcrédito, financiamento de cooperativas e de pequenas empresas. Em nome do interesse público.
O Sr. Manuel tem um talho, durante anos vendeu carne de 3ª a preço de 1ª o que lhe deu lucros fantásticos, comprou casa nova, trocou de carro e viveu uma vida regalada, cheia de luxos e extravagancias . Um belo dia, a clientela descobriu que afinal a carne não tinha a qualidade pretendida e era afinal carne de 3ª. O talho viu assim toda a clientela habitual desaparecer de um dia para o outro, estava agora em apuros, não tinha sequer dinheiro para comprar a carne para o seu estabelecimento. Perante esse cenário o dono do supermercado resolve lançar um apelo a todos os seus clientes. Comprem gordura a preço de lombo para ajudar o Sr.Manuel!
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