No final de 2008, Alan Greenspan, discípulo da romancista anarco-capitalista Ayn Rand e ex-presidente da Reserva Federal, reconhecia: «Cometi um erro ao confiar que o livre mercado pode regular-se a si próprio sem a supervisão da administração». Greenspan vem agora defender a nacionalização temporária de mais «
alguns bancos». O que defenderá a seguir? Pena é que a administração Obama continue a resistir a esta saída. Por quanto tempo? Apesar de alguns sinais positivos, não nos esqueçamos que nela pontificam economistas que estiveram na origem do romance dos «novos democratas» com os mercados financeiros liberalizados.
Lembram-se? Anos noventa…
Sobre a nacionalização do sistema financeiro, não deixem de ler
este artigo do Nuno Teles.
100% de acordo. Mas os mercados são os mesmos que ontem não gostaram que o Obama tomasse uma visão social do problema da crise imobiliária.
ResponderEliminarEu acho que faltou coragem de nacionalizar a banca, como a SUÉCIA (!!) fez em 92.
A minha modesta opinião em:
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/02/o-que-temem-os-mercados-no-plano-de.html
Carlos,
ResponderEliminarPelos vistos, os "mercados" não contribuíram muito para a boa saúde do...Mercado! Alguma coisa se passa que não tem nada a ver com aquilo que os Modelos Económicos actuais conseguem explicar... mas "algo" que deve ter a ver mais com a realidade Económica... digo eu que não percebo nada de Ciência Económica!
‘Capitalismo e pulsão de morte’
ResponderEliminarAcusado de ter desregulado tudo durante 18 anos e de ter dado total liberdade de ação aos banqueiros, o ex-presidente do Federal Reserve americano, Alan Greenspan, em depoimento no Congresso para onde foi convocado para falar sobre a crise financeira, disse essa surpreendente frase. Seu principal erro, avalia o banqueiro dos banqueiros, foi “acreditar que o interesse próprio dos banqueiros era a melhor proteção dos acionistas”.
A reportagem é de Jean-Pierre Tuquoi e publicada no Le Monde, 03-02-2009. A tradução é do Cepat.
A quem obedecem, pois, os banqueiros e, além deles, os diferentes atores do capitalismo, se este não é o seu interesse? Sigmund Freud (1856-1939) tinha sua resposta: a uma “pulsão de morte”, escreveu em Além do princípio de prazer (1920). A um amor irracional do dinheiro, responde o economista John Maynard Keynes (1883-1946) em muitos de seus escritos.
As duas explicações parecem divergentes. Na realidade, elas são complementares, e este é o mérito de Capitalisme et pulsion de mort (Albin Michel), livro erudito do economista Bernard Maris e do historiador Gilles Dostaler (especialista em Keynes), ao se acercar ao pensamento do pai da psicanálise e do economista britânico.
Freud está convencido de que no mais íntimo do indivíduo se aninha “a humana pulsão de agressão e de auto-aniquilamento”. Ela se abriga em nós e confronta incessantemente a pulsão de vida que estimula os indivíduos a se unirem uns aos outros para “garantir a sobrevivência da espécie”.
Com Keynes, mudamos de ponto de vista para chegar, com outros instrumentos, à mesma constatação. A pulsão de morte é o amor ao dinheiro. Se ele tranquiliza a nossa inquietude, o dinheiro é também “o problema moral de nosso tempo”. Através da concorrência entre nações – fermento do capitalismo – ou entre classes sociais, o dinheiro, escrevem os autores do livro, alimenta uma “guerra interminável” que ameaça a sobrevivência tanto da natureza como da espécie humana. E citam esta frase de Keynes: “Nós seríamos capazes de esperar pelo sol e pelas estrelas porque eles não rendem nenhum dividendo”.
O atual estado do planeta confirma, segundo os autores, o diagnóstico de Freud e de Keynes. A mundialização, longe de ser pacífica, engendra conflitos armados entrevistos por Freud quando falava do “narcisismo das pequenas diferenças”. Quanto à crise financeira, ela veio para confirmar o lugar excessivo tomado pelo dinheiro. Keynes queria “a eutanásia do rentista”. Quando se responde ao debate sobre uma nova distribuição do valor agregado entre o trabalho e o capital, o tema volta a ter atualidade. Já era sem tempo.