domingo, 15 de fevereiro de 2009

O silêncio da economia social (II)

No quadro do debate sobre formas plurais de conceber a economia, é importante conhecer as experiências – potencialidades, dificuldades, propostas – das organizações da economia social. Porque estruturam a sua actividade económica e social sem terem como objectivo a distribuição de lucros, apesar de gerarem excedentes, mas antes a defesa do interesse geral. E porque são organizações que operam segundo uma lógica de sustentabilidade dos projectos e do emprego, dando prioridade à sua responsabilidade social. Além disso, o seu funcionamento assenta numa concepção democrática da gestão interna e na propriedade comum por parte dos seus membros.

Seria útil, por exemplo, conhecer melhor os mecanismos de regulação e supervisão inscritos na própria matriz da economia social, bem como a forma como têm evoluído e sido avaliados. Tal como ter mais informação sobre as modalidades de justa repartição dos excedentes e sua relação com o investimento produtivo e a criação de emprego. Ou ainda, reflectir sobre os desafios que se colocam a estruturas que actuam em simultâneo, sem abdicar dos seus princípios e valores, no mundo mercantil e não-mercantil, monetário e não-monetário.

Como estarão a passar por esta crise as instituições de crédito da economia social? Está o «terceiro sector» a ter acesso a planos de incentivo ao emprego? Se sim, isso está a verificar-se de forma generalizada aos seus sub-sectores ou apenas a áreas que já tinham mais visibilidade na relação com o Estado, como o ramo da solidariedade social? Que estratégias de âmbito regional e internacional têm sido desenvolvidas?

Seja como for, dois aspectos serão sempre importantes neste debate. Em primeiro lugar, recordar que a economia social partilha com o poder público a orientação da actividade para o interesse geral, mas que não se destina a aligeirar a carga do Estado se este quiser escapar às suas obrigações sociais. Em segundo lugar, recordar que a presença da economia social – tal como a do Estado – no sector produtivo, exibindo resultados social e ambientalmente sustentados, será sempre uma forma de contrariar todos os defensores da mercadorização do mundo que insistem em repetir que «os outros» só querem redistribuir a riqueza que eles, e só eles, produzem. Com os resultados ensurdecedores que se tem visto…

3 comentários:

  1. Olá, Sandra! Concordo com as questões que põe, mas falta entre nós ir mais longe.
    Por exemplo: as cooperativas de produção não serão, a maior parte das vezes, alternativas com alguma viabilidade na substituição de empresários que se demitem? Não poderiam os trabalhadores, organizados dessa forma e apoiados pelos sindicatos e por estruturas estatais, regionais e locais, negociar a posse das empresas viáveis que já não dão tanto lucro como o patrão deseja?

    Parece que há os desejosos apenas de grandes e catastróficos títulos sobre a crise. Não admira, vivem da crise.

    Mas já me admira muito que os que estão, ou deveriam estar, ao lado dos que morrem com a crise cometam as mesmas... omissões.

    Um beijito.

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  2. Bom dia José, claro que concordo que essa é uma solução possível e positiva para as empresas que não dão o lucro que o patrão deseja mas que são perfeitamente viáveis. E também que esse será um terreno em que poderão ser desenvolvidas acções conjuntas com todos os actores que sugere, com benefício de toda a sociedade.
    Quando existem, há que dar visibilidade aos casos de empresas recuperadas por assalariados; quando não, manter essa proposta no campo dos possíveis e construir as redes de conhecimento e acção conjunta que possam favorecer o seu aparecimento.
    Obrigada pelo comentário.

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  3. Ora aqui está um tema muito cá de casa num jovem partido que faz da emancipação e reforço do terceiro sector um dos pilares da sua mensagem de afirmação política. A acompanhar com redobrado interesse. Fica também o convite a passar pelo nosso sítio na net, a saber: MEP .

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