segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Produtos-conhecimento

Sendo certo que a reforma do Ensino Superior em Portugal moldou finalmente a Universidade às orientações hegemónicas do neoliberalismo, torna-se por isso extremamente frustrante constatar que estamos a pôr em prática um modelo de funcionamento desenhado para servir um mundo que, a montante, está a ruir. E aqui surgem as piores inquietações: se é teoricamente claro o rotundo falhanço do capitalismo de casino, por que razão o discurso dominante se centra apenas nas “oportunidades” da crise?

De facto, esta crise parecia dar bons motivos para a construção de um novo patamar de regulação global, com os apelos sonantes à “refundação do capitalismo”, e ao “capitalismo de rosto humano” mas, entretanto, os offshores continuam e continuarão incólumes, permitindo a fraude fiscal e o roubo de dinheiros públicos; os melhores políticos continuarão incapazes de fazer aprovar medidas contra a corrupção; a promiscuidade entre o estado, as empresas, as câmaras e os partidos terá ainda muito para oferecer aos ambiciosos e, claro, os currículos académicos continuarão a doutrinar novas gerações de estudantes com base no dogma da imaculada escassez.

Os apóstolos do dinheirismo e da teologia do mercado – incluindo todos aqueles vampiros que directa ou indirectamente encontram em toda a parte, na crise, na fome, na guerra, uma oportunidade para negociar e enriquecer – não desapareceram. E, ao que parece, estão aí as novas oportunidades de negócio, de promoção pessoal e enriquecimento para os que, graças à liturgia do empreendedorismo e da inovação, souberem tirar partido da estrutura de oportunidades emergente. A “ambição” e a “competitividade”, como células gémeas de um cancro que não se extirpa, aí estão mais fortes do que nunca, corroendo o que resta de um modelo de desenvolvimento falhado. Que mercadorias fictícias, que produtos-conhecimento, virão a seguir alimentar toda esta hysteresis?

7 comentários:

  1. Estou fazendo uma campanha de doações para criar uma minibiblioteca comunitaria na minha comunidade carente aqui no Rio de Janeiro,preciso da ajuda de todos.Doações no Banco do Brasil agencia 3082-1 conta 9.799-3 Que DEUS abençõe todos nos.Meu e-mail asilvareis10@gmail.com

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  2. Francisco,

    Quando dizes que "esta crise parecia dar bons motivos para a construção de um novo patamar de regulação global", achas que a crise foi causada pela falta de regulação ou por um certo tipo de regulação?

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  3. A posta de Nuno Teles em 29 de Outubro de 2008 - "Breve história da liberalização dos mercados financeiros..." ajuda a encontrar resposta para essa questão. À margem das questões substantivas, parece-me que há também uma questão semântica a considerar: podemos chamar "desregulação" a um certo tipo de regulação - como aquela, justamente, que nas últimas 3 décadas, foi orientada para a especulação, para a privatização dos bens públicos e para a mercadorização, acarretando uma brutal transferência de riqueza das classes médias para as élites, o aumento da dívida dos países pobres, etc.?

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  4. Fui ver a posta de N.Teles, outra de J.M.C. Caldas de 9 de Outubro e os comentários a esta última.
    Embora pareça, a questão para mim não é totalmente semântica. "Desregulada", falta de regulação, não tem a mão do estado e "um certo tipo de regulação" tem a mão do Estado.
    Caso continue a dizer-me que a questão é semântica, então deixê-mo-la, e pergunto: havia algum tipo de regulação ou não?
    Só depois desta questão estar resolvida, é que posso comentar sobre as restantes questões da sua posta, como "os apóstolos do dinheirismo" e a "teologia do mercado."

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  5. Sim, a posta do J.M. Castro Caldas é a que eu procurava. Há regulação, sim, mas com características e num sentido que torna semanticamente aceitável que, politicamente, se fale em desregulação.

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  6. Claro que há regulação, tal como há para abertura duma superfície comercial ou a venda de castanhas no canto da rua, para não falar em direitos de autor e registo de patentes.
    Todos sabemos que o objectivo é fazer dinheiro/lucro, seja ela capitalismo de casino ou de rosto humano, e que em ambos existe a ambição e a competitividade, senão não se chamava capitalismo.
    E é ele que dá a oportunidade de negociar e enriquecer, independentemente se há crise, fome ou guerra.
    Por outro lado, se há regulação para os offshores, e esta pelos governos, não se pode acabar com eles se não se mudar os governos.

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  7. Estamos nós aqui a falar de menos competitividade e eis o que Krugman nos diz hoje:"So what can Spain do? It needs to become more competitive"
    E eu quero acreditar que Krugman é mais pelo capitalismo de rosto humano do que o de casino. Mas onde começa um e acaba o outro!? E de que tipo de competitividade?

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