“Qualquer grande fracasso deveria levar a questionarmo-nos. A actual crise económica é um grande fracasso do sistema de mercado. Como George Soros bem referiu, “o aspecto marcante da actual crise financeira é que ela não foi causada por um qualquer choque externo do tipo OPEP… a crise foi originada pelo próprio sistema.” Foi gerada nos EUA, o coração do sistema financeiro mundial e a fonte de grande parte da sua inovação financeira. Por isso a crise é global, na realidade é uma crise da globalização.
Houve três tipos de fracassos. O primeiro, discutido por John Kay neste número, foi institucional: os bancos deixaram de ser infraestruturas ao serviço da sociedade para se transformarem em casinos. No entanto, fizeram-no porque eles próprios, os seus reguladores, e os decisores políticos acima dos reguladores, todos se deixaram seduzir por algo chamado “a hipótese do mercado eficiente”: a ideia de que os mercados financeiros não podiam sistematicamente tolerar preços ‘desalinhados’ e, por conseguinte, precisavam de pouca regulação.
O segundo fracasso é intelectual. O seu mais espantoso reconhecimento veio do anterior presidente da Reserva Federal Alan Greenspan, no Outono de 2008, quando admitiu que o regime de gestão monetária do Fed tinha sido baseado num “erro”. “Todo o edifício intelectual”, disse ele, “colapsou no Verão do ano passado”. Subjacente à ideia do mercado eficiente está o fracasso intelectual do pensamento económico dominante. …
Mas a crise também representa um fracasso moral: a de um sistema construído sobre o endividamento. No coração do fracasso moral está a veneração do crescimento pelo crescimento, em vez de fazer dele um instrumento para se alcançar uma “vida boa”. … Esta lacuna moral explica a aceitação acrítica da globalização e da inovação financeira.”
(Minha tradução dos primeiros parágrafos deste artigo do Prof. Robert Skidelsky na revista Prospect Janeiro 2009; Figura via http://freenj.blogspot.com/2008/10/credit-crisis-redux.html)
Houve três tipos de fracassos. O primeiro, discutido por John Kay neste número, foi institucional: os bancos deixaram de ser infraestruturas ao serviço da sociedade para se transformarem em casinos. No entanto, fizeram-no porque eles próprios, os seus reguladores, e os decisores políticos acima dos reguladores, todos se deixaram seduzir por algo chamado “a hipótese do mercado eficiente”: a ideia de que os mercados financeiros não podiam sistematicamente tolerar preços ‘desalinhados’ e, por conseguinte, precisavam de pouca regulação.
O segundo fracasso é intelectual. O seu mais espantoso reconhecimento veio do anterior presidente da Reserva Federal Alan Greenspan, no Outono de 2008, quando admitiu que o regime de gestão monetária do Fed tinha sido baseado num “erro”. “Todo o edifício intelectual”, disse ele, “colapsou no Verão do ano passado”. Subjacente à ideia do mercado eficiente está o fracasso intelectual do pensamento económico dominante. …
Mas a crise também representa um fracasso moral: a de um sistema construído sobre o endividamento. No coração do fracasso moral está a veneração do crescimento pelo crescimento, em vez de fazer dele um instrumento para se alcançar uma “vida boa”. … Esta lacuna moral explica a aceitação acrítica da globalização e da inovação financeira.”
(Minha tradução dos primeiros parágrafos deste artigo do Prof. Robert Skidelsky na revista Prospect Janeiro 2009; Figura via http://freenj.blogspot.com/2008/10/credit-crisis-redux.html)
Não sei se já leu "The Origin of Financial Crises" de George Cooper, saído em Novembro último.
ResponderEliminarAborda precisamente o tema do "Financial Instability Hypothesis", a revisita a Minsky e a auto ignição do sistema.
Penso que vale a leitura.
Mas também continuo a pensar que a causa interior da crise, decorrente em muitos casos de crimes de abuso de confiança, não pode ter apenas uma resposta preventiva para novas crises de natureza meramente reguladora. Mais tarde ou mais cedo os reguladores acabarão por ser capturados se não existirem sanções francamente desmotivadoras e processos expeditos para as aplicar.
Por outro lado, e vou repetir-me, nenhum sistema será alguma vez suficientemente regulado se continuarem a existir off-shores. Como não é nada provável que estes acabem, só vejo uma solução: Criarem-se bancos "ecológicos", entendendo por "banco ecológico" aquele que assuma perante terceiros o compromisso de não operar com off-shores.
Se há espaços para fumadores e não fumadores porque não passarem a existir bancos contaminados e descontaminados?
Como seria se a União Soviética tivesse aguentado mais uns 20 anos? Se com a crise actual ela existisse, se se mantivessem os movimentos revolucionários e guerrilheiros da América Latina, etc. Ou, ao contrário, se esta crise tivesse tido lugar quando existia o bloco socialista?
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