terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Ele há liberalismo e liberalismo


Dizendo não saber o que é o neoliberalismo relembram os novos liberais (editorial do Público) que Keynes era um liberal da cepa anglo-saxónica de Adam Smith ou Stuart Mill. O curioso é que desta forma fica mais claro o que o ‘neo’ está a fazer em neoliberal. Serve exactamente para vincar que existe um liberalismo contemporâneo que nada tem a ver nem com Keynes, nem com Smith, e muito menos com Mill e tudo tem a dever a Mises, Hayek e Friedman. Um liberalismo (neo) que só se incomoda com o poder quando é político (e apesar de tudo sujeito a escrutínio democrático) e fecha os olhos a poderes privados hoje por vezes mais poderosos do que os primeiros (que se eximem de prestar contas a quem quer que seja).

Um liberalismo que não se opõe a ‘associações de capitais’ com poder bastante para fazer de todos nós reféns, merecia pior do que um ‘neo’ para vincar a diferença relativamente à venerável tradição de que se quis apropriar. ‘Associações de capitais’ a quem temos de pagar para continuar a ter emprego? Não vale a pena perguntar a Smith ou Mill o que achariam disto se cá viessem abaixo outra vez, eles deixaram escrito.

13 comentários:

  1. Pior que "neo"... Que tal cleptoliberalismo?

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  2. O Neoliberalismo nada tem que ver com o Novo liberalismo e é este que deve ser contraposto ao Liberalismo clássico, um pouco como o Novum organum de Bacon se veio contrapor ao Organon de Aristóteles. Em ambos os casos, tem-se uma inflexão ainda que sem abdicar dos pressupostos mais gerais que tornam reconhecível ou o liberalismo ou a ideia de um organon, ou um qualquer outro exemplo. Poderíamos, por exemplo, falar de novos marxistas que nada teriam que ver com os neomarxistas. Agora, a ideia contida no prefixo ‘neo-‘ é inteiramente distinta tanto no conteúdo como no ânimo, por assim dizer. Trata-se de uma revitalização do sentido essencial do que é assim reafirmado, seja o liberalismo seja o marxismo, sem, pois, nenhuma inflexão, bem pelo contrário, dogmatizando de forma programática um conjunto de princípios difíceis de conciliar com uma perspectiva de pensamento crítico. É o resultado de uma reacção ao novo liberalismo que justifica o neoliberalismo, um pouco como uma contra-reforma… Aliás, pouco inspirada teoricamente, pois a sua motivação era essencialmente política. Lembramo-nos de Tatcher não de grandes economistas ou filósofos. Em todo o caso, Hayek também não é um neoliberal...é simplesmente um liberal. E José Manuel Fernandes é, obviamente, um neoliberal, o que só torna mais divertida a leitura do seu editorial.

    AB

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  3. Com todo o respeito que me merecem os pontos de vista que até agora vi expressos a propósito da "má teoria" dos cinco economistas, discordo completamente das abordagens que aquele suspiro suscitou.

    Partiram "os cinco" do princípio que a crise germinou e explodiu em consequência de umas teorias malévolas que ensinaram aos banqueiros na escola, e que eles, coitados deles, inocentemente fiados no catecismo do mal aplicaram com todo o rigor, porque lhes enchia os bolsos, e, deste modo espatifaram o sistema.

    Tretas, meus amigos.

    Não há nenhuma teoria económica conhecida que proponha o roubo. Ladrão não precisa de frequentar as escolas de gestão e munir-se de um MBA para roubar.

    Criou o neo liberalismo as ocasiões que fizeram os ladrões?

    Temos de confrontar essa hipótese com a contrária. E confrontando-a, sabe-se há muito que não há sistema imune ao roubo quando as leis são frouxas ou os juízes venais.

    A União Soviética implodiu porquê? Por várias razões mas sobretudo porque a nomenclatura se apoderou do poder sem limitações e das mordomias reservadas à clique que manobrava a seu belo prazer.

    Não quero ser tão ingénuo que não reconheça a permeabilidade do liberalismo (o neo ou outro) às tentações dos instintos primários.
    Mas não penso que o sistema contrário se lhe oponha com mais garantias.

    Mas, sobretudo, recuso-me a aceitar que os desaforos cometidos possam ser atribuídos a uma teoria (se for má não é teoria, é um flop)ilibando os verdadeiros culpados.

    Não meus amigos, não tragam, por este motivo, Stuart Mill ou Adam Smith, Keynes ou Friedman, Mises ou Hayek, a depor.

    Porque se o fizerem estão a fazer esquecer o que deve ser feito: Levar os burlões à barra, encarcerá-los e obrigá-los a devolver o que espoliaram.

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  4. Volto só pra acrescentar que surpreendentemente, ou não, voltaram a aparecer os pequenos cartazes, toscos, que oferecem a intermediação para o financiamento ou refinanciamento de habitações, na hora. "Bad credit ok".
    Sintomático que a subprime continua à venda na rua, pelo menos na zona de Washington.

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  5. O José Manuel Fernandes é, antes de tudo, um grandessissimo e alternadissimo vira-casaca.!!
    Um perú velho, que é como se dizia.
    Mas vira casacas como ele, neste país é o que há mais.
    Vejam, por ex o Presidente da Comissão Europeia(um dos expoentes europeus do neoliberalismo)e outras Zitas Seabras que por aí andam.
    Tudo, claro, em nome dos direitos humanos e da liberdade, como diz o que por pouco não levou com uma bota na cabeça.
    Tudo boa gente, claro.

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  6. Rui Fonseca, qual é a hipótese contrária ao neoliberalismo?

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  7. "qual é a hipótese contrária ao neoliberalismo?"

    Na esquina do neoliberalismo, voltada para o lado oposto, fica a
    anarquia. Os extremos tocam-se, como sabe.

    Entre esses extremos podem situar-se as sociedades livres mas sujeitas leis que previnam os abusos, os roubos, "a irracional exuberância", e outros vícios a que a humanidade é propensa.

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  8. "Criou o neo liberalismo as ocasiões que fizeram os ladrões?"

    Creio que foi exactamente disto que se tratou.

    O enfase na "responsabilidade individual" ignora aspectos fundamentais da natureza humana, bem descritos quer na sabedoria popular quer na mais recente psicologia.

    Quando a culpa de uma divida é colocada totalmente em quem se endividou, e não nos politicos e banqueiros, que se uniram para usar o endividamento para mascarar o congelamento do poder de compra, podendo uns apresentar niveis de crescimento invejaveis (e fingir prosperidade) e outros capturar riqueza, legitimados por uma ideologia que apregoava a desregulação e o desmantelar do Estado, que é havemos de concluir?

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  9. O Neoliberalismo, é o maior retrocesso civilizacional desde que o Hitler, o Bush e outros quejandos fizeram o que fizeram a este mundo.
    O Neoliberalismo é o laissez- faire, laissez-passé tão querido pelos seus arautos.
    O Neoliberalismo é uma das outras faces negras do capitalismo selvagem que há muito parasita este mundo.
    O Neoliberalismo é, enfim, tudo isto e muito mais cuja descrição não caberia aqui.
    Politicamente, sob a capa de paladino dos direitos humanos e da liberdade, o Neoliberalismo mais não é do que outra face do Nazismo e do Fascismo.

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