2. O segundo problema da argumentação de RPP é que continua a reduzir o problema da falta de diálogo na educação a um mero problema de confrontação entre o governo e os sindicatos. Tal é, porém, totalmente errado.
No meu artigo do Público (17/11/08) a este respeito (“O pecado original de um governo iluminado”), afirmei o seguinte:
“O pecado original foi, de novo, recordado pela gigantesca manifestação de professores: cerca de 120 mil desfilaram pelas ruas de Lisboa não só contra o sistema de avaliação proposto, mas também contra o modelo de gestão escolar e o novel estatuto da carreira docente. Só míopes podem atribuir manifestações desta grandeza a uma manipulação dos sindicatos.
O pecado original radica na ilusão de que é possível fazer reformas, nomeadamente na educação, sem mobilizar os profissionais para as mudanças (por maioria de razão quando estes são altamente qualificados e gozam de significativa autonomia), não só tornando claras para esses profissionais as vantagens das mudanças, mas também oferecendo contrapartidas para as perdas que porventura se perspectivam no seu estatuto e direitos (sem um trade off significativo não há efectiva negociação).”
3. Aliás, num artigo de opinião publicado no Público (22/11/08), intitulado “E depois da maré vazar?”, a jornalista São José Almeida explicou magistralmente porque é que, primeiro, há muito que a contestação na educação ultrapassou os sindicatos e, segundo, porque é que, goste-se ou não (destes) sindicatos, sem eles tudo poderá ainda ser pior: “É importante que ninguém esqueça que não há sindicalismo em parte nenhuma do mundo que consiga o que a atitude sistemática de afronta à dignidade dos professores seguida pela ministra da Educação conseguiu em Portugal: colocar a classe docente na rua com manifestações sucessivas e um calendário de acções reivindicativas que passa pela greve nacional e pelo boicote às notas do primeiro período.
De facto, os sindicatos assinaram um acordo com a ministra e aceitaram um tipo de avaliação que foi lançada e posta a funcionar. Só que os sindicatos não são as escolas. Os sindicatos representam professores, não são os professores. E é evidente em toda esta guerra que os sindicatos foram ultrapassados pela rua. E só resta aos dirigentes sindicais engolir em seco, rasgar o acordo que assinaram e tentar navegar na crista da onda da rua, sob pena de serem afogados pela voragem da rebentação e acabarem a não representar ninguém. E, por mais que a posição de Mário Nogueira e de outros dirigentes sindicalistas seja de pura sobrevivência política, é bom que sobrevivam e que o poder negocial não caia de todo na rua. A bem do ensino público e do que restar da escola, quando a maré vazar.”
São, sem sombra de dúvida, palavras sábias desta prestigiada jornalista. E, acrescento eu: o PS faria muito melhor em dar profunda atenção a estas sábias palavras do que em andar a aconselhar-se com os spin doctors da estratégia da confrontação.
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