sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O que ainda falta para a crise bater no fundo


Quem ler com atenção as previsões de Outono da Comissão Europeia e a actualização do World Economic Outlook do FMI, ambas publicadas esta semana, dá-se rapidamente conta de um facto: ninguém sabe neste momento onde esta crise pode parar. Não me lembro de documentos de previsão macroeconómica em que o reconhecimento das incertezas e dos downsize risks (perdoem-me o recurso à expressão original - a natureza eufemística da mesma perder-se-ia na tradução...) fosse tão claro.

Um dos factos que deixa os analistas mais nervosos é o que está reflectido no gráfico acima (que construí com dados retirados do site da OCDE). Desde a a chegada dos neoliberais ao poder nos EUA que o mercado bolsista foi deixando (primeiro lentamente, depois de forma acentuada) de ter qualquer coisa a ver com a economia real.

Acontece que, mais cedo ou mais tarde, a evolução dos preços das acções deve reflectir o desempenho real dos activos que representam. Agora, das duas uma: ou a linha vermelha (a do crescimento da economia real) inflecte acentuadamente para cima ou a linha azul (a dos índices bolsistas) ainda tem muito para descer (o que significará a destruição de riqueza de muita gente, incluindo daqueles que decidiram apostar na bolsa para 'garantir as suas reformas'...).

Olhando para o gráfico, o que é que vos parece mais provável?

2 comentários:

  1. As alternativas que são colocadas tem implicita a hipótese de que a linha azul reflecte uma relação de equilíbrio. Ora, 1981 a % dos lucros das sociedades no PIB dos EUA foi somente 7,2% face a uma média desde 48 de cerca de 9,5%. Além disso, para combater a inflação (acima dos 10%) as taxas de juro estavam num nível extremamente elevado com as taxas de referência a chegarem a ultrapassar os 19% (!!!). Apenas para ilustrar a importância do ano base escolhido se em vez de 1981 fizessemos um exercício semelhante escolhendo 1999 como ano base chegaríamos à conclusão absurda de que o SP500 (que fechou ontem nos 930 pontos) deveria estar hoje em cerca de 2040 pontos.

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  2. Embora o comentário anterior não seja totalmente esclarecedor, acho que aponta bem para a questão de que a partir das duas tendências assinaladas não se poder estabelecer uma relação directa e linear de, diria, "causalidade".

    Os indicadores económicos prestam-se precisamente a estas refracções erróneas, tanto a partir daqueles que advogam por um paradigma de equilíbrio como daqueles que arvoram fazer a sua crítica.

    No capitalismo hodierno, os vários indicadores de mercado são suposto manterem uma existência própria, cujo suporte é virtual, e que configura acima de tudo a "racionalidade dos agentes": pelo paradigma dos mercados eficientes, indepedentemente de quanto exorbitantes possam parecer os números que aparecem no ecrã, não há nada como acreditar que os mercados estão a resolver de maneira óptima o problema da alocação alternativa dos recursos. Foi assim ainda muito recentemente, com a subida do preço do petróleo e como todos os altos representantes a afirmarem que tinha chegado o fim da energia barata. De um momento para o outro, a maré inverteu-se, o sinal também, e todos deixamos de falar do valor dos contratos de futuros para 2014.

    Comparar a evolução do índice bolsista com o crescimento do PIB não pode deixar de ser considerado ver as coisas pela rama: afinal, de que é que é feito do lucro que as acções prometeram? Que vai ser do crescimento quando os lucros se desvanecerem?

    Mas, por mim, até se poderia ter tentado confrontado: produção mundial de batatas (em termos reais); e a cotação de Les Demoiselles d'Avignon (termos nominais).. Não teríamos, porventura, sensivelmente os mesmos valores?!

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