quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Para não cair nos mesmos erros



Lendo sobre as causas e as consequências da actual crise económica, há uma ideia que ressalta: a profunda interdependência entre os vários tipos de mercados e de regiões do globo. Dizer-se que uma crise no mercado imobiliário gerou uma crise financeira nos EUA que por sua vez "contagiou" o sistema finaceiro europeu e, agora, se "transmite" à economia real um pouco por todo o mundo é demasiado mecanicista e linear para dar conta da complexidade do fenómeno. Há retroacções e não-linearidades que fazem da actual crise um processo de enorme complexidade. Talvez único na História.

A complexidade é hoje muito maior que nas primeiras décadas do século passado. Mas há mecanismos comuns nas crises do capitalismo e nas dificuldades que os estados têm tido em enfrentá-las. Um artigo de Krugman escrito em 1999 - publicou um livro com o mesmo título - na sequência de crises financeiras e cambiais em diversos países entre os quais o Japão, termina com um parágrafo que continua válido:

"é difícil deixar de concluir que, mais tarde ou mais cedo, vamos ter de voltar pelo menos parcialmente à situação anterior: limitar os movimentos de capitais nos países que não estejam em condições de aderir a uma união monetária ou adoptar câmbios flutuantes; re-regular em alguma medida os mercados financeiros; e procurar manter uma inflação baixa, mas não demasiado baixa, em vez da estabilidade dos preços. Temos de prestar atenção às lições da Economia da Depressão, antes que sejamos obrigados a reaprendê-las à nossa custa."

À atenção dos que discutem e/ou fazem a política económica nos dias que correm.

4 comentários:

  1. Sei pouco de economia, mas, "limitar os movimentos de capitais nos países que não estejam em condições de aderir a uma união monetária ou adoptar câmbios flutuantes", como diz Krugman, não significaria, tal como se vê, limitá-los, por exemplo, nos Estados Unidos? Gostaria de explicação. Obrigado

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  2. Caro oscar de lis

    A citação de Krugman tem uma data, 1999. Na altura, o autor referia-se sobretudo aos países como o Brasil, México, Japão, etc. A restrição (entradas/saídas taxadas, aministrativamente controladas) dos movimentos de capitais de curto prazo asociados à especulação, permite aos Estados aumentar a autonomia da sua política económica através da manipulação da taxa de juro sem estar sujeitos a ataques especulativos contra a sua moeda ou provocar recessões.
    Hoje, dada a natureza (ainda mais)global da crise, estas restrições voltam a estar na ordem do dia e não vai ser possível uma nova arquitectura do sistema financeiro global sem um acordo que envolva os EUA. A procissão ainda vai no adro ... mas a eleição de Obama dava uma grande ajuda. E um "governo económico" da Europa também!
    Jorge Bateira

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  3. Krugman também diz, hoje, que a capitulação do consumidor americano pode estar a caminho. Mas já havia começado antes desta crise financeira e não será ele (consumidor) que a resolverá,... alguém terá de fazer o lugar dos consumidores..

    http://www.nytimes.com/2008/10/31/opinion/31krugman.html


    António

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  4. E já agora, o novo escandalo Bush

    http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/10/30/AR2008103004749.html?hpid=topnews



    António

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