Temas que estão a regressar ao debate público. Felizmente. Este artigo de Luís Nazaré e este de João Pinto e Castro, publicados no Jornal de Negócios, abordam alguns problemas centrais nesta área. Há algum tempo que trabalhamos sobre isto (no plural porque se trata de projecto colectivo): economia social e moral. O Elgar Companion to Social Economics, acabado de sair, conta com um artigo escrito por mim, em co-autoria com Luís Francisco Carvalho. Em português intitular-se-ia Onde pára o mercado? Para compreender os discursos e as práticas de mercadorização. No quadro da chamada economia social, é um esforço para perceber como certos desenvolvimentos da teoria económica inspiraram discursos e práticas de promoção da extensão do mercado ou de processos de «mimetismo mercantil» a esferas que não lhe estavam até há pouco subordinadas. Imperialismo económico, performatividade e outros temas. Procura também oferecer uma grelha capaz de escrutinar os efeitos mais corrosivos de uma teoria e de uma prática que começam agora a ser postas em causa um pouco por todo o lado. José Maria Castro Caldas, em co-autoria com Helena Lopes, faz o mesmo para as teorias da empresa. Dado o escandaloso preço desta obra colectiva, habitual neste tipo de livros, resta-me apelar às bibliotecas nacionais de ciências sociais. Não temos comissão…
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
A Economia é sempre social e moral
O editorial de ontem de José Manuel Fernandes cita um artigo de Raymond Plant publicado no Diário Económico. Tirando a interpretação de Keynes, abaixo criticada, o artigo de Plant é bastante bom e está próximo de temas que o José Maria já aqui explorou: economia moral. Raymond Plant também tem escrito sobre a corrosão moral engendrada pelo desenvolvimento sem freios do capitalismo. Faz parte de uma tradição que, inspirada entre outros pelo economista Fred Hirsch, tem criticado o neoliberalismo, incluindo a sua versão neoconservadora, não tanto por esquecer que nenhum sistema socioeconómico sobrevive sem virtudes morais, mas antes por ignorar que essas virtudes podem ser postas em causa pela expansão da instituição do mercado, pelas pressões concorrenciais engendradas e pelo tipo de valores e de relações sociais fomentadas: as consequências perversas do império do famoso «nexo-dinheiro».
Temas que estão a regressar ao debate público. Felizmente. Este artigo de Luís Nazaré e este de João Pinto e Castro, publicados no Jornal de Negócios, abordam alguns problemas centrais nesta área. Há algum tempo que trabalhamos sobre isto (no plural porque se trata de projecto colectivo): economia social e moral. O Elgar Companion to Social Economics, acabado de sair, conta com um artigo escrito por mim, em co-autoria com Luís Francisco Carvalho. Em português intitular-se-ia Onde pára o mercado? Para compreender os discursos e as práticas de mercadorização. No quadro da chamada economia social, é um esforço para perceber como certos desenvolvimentos da teoria económica inspiraram discursos e práticas de promoção da extensão do mercado ou de processos de «mimetismo mercantil» a esferas que não lhe estavam até há pouco subordinadas. Imperialismo económico, performatividade e outros temas. Procura também oferecer uma grelha capaz de escrutinar os efeitos mais corrosivos de uma teoria e de uma prática que começam agora a ser postas em causa um pouco por todo o lado. José Maria Castro Caldas, em co-autoria com Helena Lopes, faz o mesmo para as teorias da empresa. Dado o escandaloso preço desta obra colectiva, habitual neste tipo de livros, resta-me apelar às bibliotecas nacionais de ciências sociais. Não temos comissão…
Temas que estão a regressar ao debate público. Felizmente. Este artigo de Luís Nazaré e este de João Pinto e Castro, publicados no Jornal de Negócios, abordam alguns problemas centrais nesta área. Há algum tempo que trabalhamos sobre isto (no plural porque se trata de projecto colectivo): economia social e moral. O Elgar Companion to Social Economics, acabado de sair, conta com um artigo escrito por mim, em co-autoria com Luís Francisco Carvalho. Em português intitular-se-ia Onde pára o mercado? Para compreender os discursos e as práticas de mercadorização. No quadro da chamada economia social, é um esforço para perceber como certos desenvolvimentos da teoria económica inspiraram discursos e práticas de promoção da extensão do mercado ou de processos de «mimetismo mercantil» a esferas que não lhe estavam até há pouco subordinadas. Imperialismo económico, performatividade e outros temas. Procura também oferecer uma grelha capaz de escrutinar os efeitos mais corrosivos de uma teoria e de uma prática que começam agora a ser postas em causa um pouco por todo o lado. José Maria Castro Caldas, em co-autoria com Helena Lopes, faz o mesmo para as teorias da empresa. Dado o escandaloso preço desta obra colectiva, habitual neste tipo de livros, resta-me apelar às bibliotecas nacionais de ciências sociais. Não temos comissão…
Por falar em economia moral:
ResponderEliminarBerlin calls for Swiss to be on tax blacklist
Sempre? Porque e' que a economia ha' de ser sempre carne ou peixe? Nao pode a economia ser gelida tecnocracia? Nao pode a economia ser romantico moralismo? Porque e' que tem ser so' um dos dois?
ResponderEliminarConsigo perceber perfeitamente as afinidades entre o conservadorismo moral e o capitalismo (neo-liberal). Ambos acham desejável uma sociedade estratificada, onde alguns mandam e outros obedecem. Daí ambos serem alvos da Esquerda, e por isso se tornaram aliados ao longo do processo histórico. Basicamente, a Igreja, no sentido lato, sempre gostou da protecção do poder temporal, e este viu no poder da Igreja uma preciosa ajuda na submissão da maioria explorada. Quem dizia que a religião é o ópio do povo?...
ResponderEliminarNo entanto, na aliança entre Igreja e Capitalismo houve sempre uma tensão subjacente. Tal deriva de, pelo menos, dois factores: a clara discrepância entre parte da mensagem central de todas as religiões, nomeadamente a igualdade intrínseca a todos os seres humanos e a denúncia da ambição desmedida e da usura; o facto do Capitalismo promover quer a substituição da relação de dependência necessária à religião organizada por uma relação de dependência do consumo, quer a uniformização social e cultural como meio de criar mercados cada vez mais maiores e portanto lucrativos. Ou seja, o Capitalismo destroí a noção de comunidade (central no apelo da religião organizada) e substitui o ópio da religião pelo ópio do consumo. Já Marx tinha identificado como uma das características do Capitalismo a mudança constante que impõe às sociedades onde impera. Parece-me ser assim completamente incoerente querer o crescimento, ou até a simples manutenção, duma ética colectiva que promova o bem-comum (em particular de origem religiosa), defendendo ao meso tempo uma sociedade onde o Capitalismo exige a maximização do consumo individual, exige que nada se intreponha entre o desejo de consumir e a sua concretização.
A propósito do tema, aqui fica o link
ResponderEliminarpara o webcast de um debate realizado na Universidade de Columbia em torno do tema "Podemos salvar a economia mundial?". Os oradores convidados foram George Soros, Nouriel Roubini e Jeffrey Sachs.
O webcast é algo comprido (cerca de uma hora com as intervenções dos oradores e os restantes 44 minutos de debate propriamente dito) mas vale a pena. Gostei em particular da intervenção do Jeffrey Sachs que aborda pontos que são tocados pelo João Rodrigues nesta entrada e que recomendo vivamente. Apenas algumas ideias que me ficaram na memória:
- estamos perante a explosão de enormes "bolhas intelectuais" em diversos domínios, após um período de predomínio de uma "irrealidade profunda" - a crença de que tudo está bem, que "nada precisamos fazer que não tornarmo-nos ricos"; esta crença é agora abalada pela percepção de que os contextos socio-económicos, tal como na esfera bio/geofísica, estão sujeitos a "não linearidades abruptas" - o que exige uma coordenação global extensiva a vários domínios (e que obriga, por exemplo, a que os EUA reequacionem a sua posição no mundo);
- há uma discrepância entre o que vemos à superfície e os mecanismos que lhe são subjacentes, o que choca com a forma como (desde os anos oitenta), na economia e na política "mainstream", se ensina as pessoas a pensar; as pessoas não são ensinadas a serem cépticas de forma a terem o discernimento para distinguirem a superfície da realidade.
Vale mesmo a pena ouvir...