sábado, 4 de outubro de 2008

As nacionalizações ou a hora das reformas estruturais

«O apoio do Estado deve ter um preço. Proponho que, como parte desse preço, o Estado se torne accionista permanente das instituições que beneficiem do seu apoio. Pode ser que esta proposta se torne redundante porque a maior parte do sector financeiro acabará por ser nacionalizado à medida que a crise se desenrola». Willem Buiter da London School of Economics no seu blogue no Financial Times. A presença pública directa no sistema financeiro, associada a uma série de outras reformas estruturais, é a única forma de assegurar a estabilidade financeira sistémica e de proteger minimamente os cidadãos. Bem público. Não é só o neoliberalismo, concebido como a renovada ficção do mercado auto-regulado, que tem de ser deitado para o caixote do lixo da história. É a ideia, associada a uma versão mais sofisticada do movimento e que fez o seu caminho na «esquerda moderna», de que a propriedade pública já não interessa para nada e que basta criar reguladores «independentes». Independentes do poder político democrático. Inevitavelmente dependentes dos interesses irresponsáveis e predatórios dos operadores dos mercados financeiros ou de outros sectores estratégicos em mãos privadas.

10 comentários:

  1. Caro João Rodrigues,

    Seria realmente justo que se seguisse por esse caminho mas ou eu não me chamo Pedro ou nem o PS nem o PSD têm o estofo político e pessoal (dos líderes) para fazer reformas tão profundas de forma correcta. A última coisa que querem é nacionalizar seja o que for ou zangar certos interesses...

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  2. Onde você falha completamente, João Rodrigues, é na suposição de que a propriedade pública é pública.

    Quem pensa você que controla o Banco de Portugal, ou o BCE ou o FED? O poder político?

    Supondo que fosse, quem controla o poder político? Quem os financia? Que lhes mostra a cara e a voz nas televisões e nos jornais?


    O problema, meu caro, é que as instituições políticas, há muito, estão privatizadas. Nenhum político chega a um cargo de poder se não estiver nas mãos de um poder económico.

    Donde, qualquer decisão política é uma decisão dos interesses económicos que controlam esses «políticos».

    É isso que muitos «democratas» ainda não perceberam. As instituições políticas foram privatizadas pelo poder económico. Enquanto não se perceber isto, não se percebe nada.

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  3. Também gostava de pensar que a partir de agora a propriedade pública fosse novamente valorizada, mas, como já disse o Diogo, duvido muito que com esta classe política venhamos a assistir a mudanças significativas na concepção dos bens públicos.

    Aliás, os custos titânicos deste bailout fazem-me crer que, mais cedo ou mais tarde, os custos serão transferidos para os trabalhadores, ou seja, veremos sucessivas ondas de repressão cada vez mais pesadas.

    No meio disto tudo, perguntaremos onde é que esteve a esquerda. Nem com este presente caído dos céus conseguem ganhar a vantagem no combate de ideias, o que diz muito sobre o seu estado...

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  4. O plano Bush/Paulson, que prevê a "injecção" 700.000 milhões de dólares na compra dos "créditos tóxicos" constitui mais um enigma.

    Toda a gente fala no sub-prime como a causa da presente crise na medida em que foi concedido crédito a quem agora não pode pagar e as casas que servem de garantia perderam parte do seu valor. Vejamos alguns números:

    Se o valor médio de tais empréstimos for 300.000 dólares e se as casas que os garantem tiverem perdido 40 % do seu valor, cerca de 120.000 dólares, então a verba prevista no plano Bush/Paulson seria suficiente para cobrir quase seis milhões de hipotecas.

    Ora o número de hipotecas que tenho visto referido é muito inferior a seis milhões. Que outros "créditos tóxicos" se propõe então o Estado americano, também ele profundamente endividado, comprar ?

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  5. F. Penin Redondo,

    Suponho que todos os outros que por causa do efeito contágio (não só ao sector bancário mas a toda a economia) já não conseguem colocar no mercado.

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  6. Caro João Rodrigues,

    Concordo com muitas ideias e argumentos do Willem Buiter, mas não que a sua proposta seja «redundante», como se de repente chegássemos a um patamar da História que despejasse automaticamente no caixote de lixo da História um par de décadas de políticas económicas.
    Vivemos em democracia. Basta que um partido chegue ao poder daqui a uns anos, depois da crise ser digerida, com um projecto de privatizações no programa para se reverterem as «reformas estruturais». Em Portugal a irreversibilidade das nacionalizações estava garantida pela Constituição e o que aconteceu foi que um parlamento com legitimidade eleitoral mudou a Constituição e levou a cabo um programa de privatizações.
    Eu concordo que o apoio do Estado deve ter um «preço» elevado, mas esse preço deve ser definido de forma a poder ser mesmo cobrado. O meu ponto de vista: o apoio do Estado «custava» uma nacionalização nas condições definidas por Willem Buiter por um período mínimo - dez ou quinze anos - durante o qual o processo não era reversível. A partir desse período mínimo tornava-se possível a privatização, mas em condições previamente definidas: o resultado dos dividendos e do encaixe com a privatização tinha ser usado na redução da dívida pública, na redução do défice orçamental, em investimentos públicos, em políticas sociais. Tratava-se de adaptar o modelo seguido pela Suécia após a crise financeira de 1991.
    Se eu sou céptico em relação a um processo de nacionalizações permanentes, acho que a actual crise vem reforçar a ideia de que os chamados «monopólios naturais» devem continuar nas mãos do Estado; que em Portugal a Caixa Geral de Depósitos não deve ser privatizada, pois a privatização não é uma fórmula mágica de produtividade e mesmo que fosse esse não deve ser o único critério de uma política económica - a estabilidade e a confiança são valores fundamentais; que o Estado deve manter ou reforçar uma forte regulamentação no sector financeiro.
    O problema do plano agora aprovado pela administração Bush é o seu carácter híbrido: no fundo trata-se de aumentar a dívida pública para financiar empresas privadas. A ironia é que o modelo norte-americano costuma ser usado para criticar a «subsidiodependência» europeia e a mania de subsidiar sectores de maior fragilidade económica. E agora os norte-americanos vão subsidiar empresas que eram das melhores do mundo e foram à falência por erros de gestão privada.
    Falência ou nacionalização - o meio termo não serve.
    PS É curioso que o Banco Nacional da Islândia tenha ido à falência e não se fale disso - isto não é uma crítica a este blogue que muito aprecio. Ninguém fala mesmo da falência do Banco Nacional da Islândia e dos esforços da União Europeia para salvá-lo.

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  7. Sócrates continua sorridente

    nesta europa no limite

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  8. Pedro Fontela,

    se considerarmos que os bancos americanos venderam uma parte do problema a bancos de outros países então ainda se torna mais incompreensível necessitarem de 700.000 milhões.

    Será que nos está a ser ocultada alguma informação crucial ?

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  9. o Penin Redondo coloca excelentes questões.

    Onde é que estão os prejuízos dos bancos de investimento? Que valores atingem?

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