quarta-feira, 11 de junho de 2008

A pobreza infantil e a terceira via

Ao contrário dos mitos do cinema, o modelo de capitalismo anglo-saxónico é conhecido pelos elevadas taxas de pobreza infantil. Aquilo que os indivíduos podem ser e fazer nas suas vidas depende demasiado do sítio onde nasceram. A classe conta e muito. Em 1999, o «novo trabalhismo» britânico anunciou o ambicioso objectivo de reduzir para metade a pobreza infantil até 2010. Dada a sua aceitação e apoio à ordem neoliberal herdada de Thatcher, o seu fracasso era esperado. A actual desaceleração da economia faz as suas primeiras vitimas entre os mais vulneráveis: mais cem mil crianças a viver na pobreza em apenas um ano.

4 comentários:

  1. Ah, estatísticas, estatísticas.

    Como saberão o índice de pobreza é relativo.

    Pela definição de pobreza usada o Belmiro de Azevedo é pobre se estiver na mesma sala que o Bill Gates, Richard Branson e Warren Buffett.

    Vivo numa das cidades mais pobres de Inglaterra (Liverpool), e como alguém disse, pobreza infantil aqui é não ter uma playstation. Talvez seja um exagero, mas não muito grande.

    Já vivi em Gondomar, onde pobreza significava fome.

    PS - não tenho nenhuma simpatia pelo "new labour", antes pelo contrário. Mas tenho ainda menos simpatia por distorções da realidade em nome de ideologia.

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  2. João,

    Na mesma notícia lê-se:

    «The government's child poverty targets lay in tatters today as new figures showed that 2.9 million children are officially living below the breadline in the UK – up 100,000 since 2005-06.
    (...)
    Tony Blair announced in 1999 the target of halving child poverty by 2010 and eliminating it by 2020. Nine years ago the figure stood at 3.4 million.»

    Isto quer dizer que o mesmo New Labour retirou, em 7 anos (de 1999a 2006), 600 mil (de 3.4 milhões para 2.8 milhões) crianças da pobreza. O problema - real - das 100 mil crianças desde 2005-6 serão mais os efeitos da crise económica do que os do "novo trabalhismo".

    Hugo

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  3. Bem, eu não vivo actualmente em Inglaterra e não conheço Liverpool, mas já tive oportunidade de calcorrear os arredores de Londres e de visitar alguns bairros da "social welfare", há cerca de 8 anos atrás e a impressão com que fiquei não coincide nada com a do tiago.
    Contudo, ele está lá agora e eu não, pelo que devo aceitar a sua opinião.
    Nota: Confesso que também não conheço Gondomar, pelo que tambéem neste caso não tenho qualquer motivo para duvidar da veracidade do que afirma o tiago.

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  4. Ze,

    Note que eu não digo nada sobre ser ou não ser desagradável, violento, depressivo.

    É tudo isso. Mais ainda, nota-se que as pessoas sofrem socialmente bastante.

    Liverpool é depressivo (as partes pobres). Conheço também bem algumas zonas pobres de Birmingham. Roubos, violência, decadência.

    Fome? Nunca tal vi.
    Suspeito que aquilo que tenha visto fosse desagradável, mas tenho dificuldades em crer que tenha visto fome. Esses council estates podem ser desagradáveis, mas as casas são razoáveis (melhores em alguns casos que muita classe média portuguesa).
    Que eu me lembre toda a gente tem uma casa razoável para viver e comida na mesa. O ambiente social pode ser desastroso, e é.

    Em Gondomar, fome foi do _menos mau_ que vi, e por aqui me calo.

    Em qualquer caso, o argumento inicial não funciona, por ser um argumento de pobreza relativa. Só para por a fraqueza do argumento a nu, uma maneira de baixar esta dita pobreza relativa, é empobrecer a classe média (assim, algumas pessoas saltariam da definição de pobre para classe média).


    O argumento da playstation está neste artigo
    http://news.scotsman.com/latestnews/Child-poverty-as-Labour-discovers.4171617.jp
    (que eu subscrevo da experiência quotidiana que tenho)

    Outro exemplo, na Holanda é-se pobre (relativamente) com um mensal limpo de 850 Euros em 2005 (solteiro)... qual é a relação disso com o salário MÉDIO português, referência: http://www.volkskrant.nl/binnenland/article149709.ece/Armoede_in_Nederland_groeit_sterk

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