quinta-feira, 19 de junho de 2008

A força e a fraqueza do projecto neoliberal europeu

O economista político F. A. Hayek, uma das grandes referências intelectuais do fundamentalismo de mercado no século XX, defendeu, nos anos setenta, a ideia de que a promoção política da expansão das forças de mercado, o desmantelamento progressivo do Estado Social e o fim das políticas keynesianas de pleno emprego exigiriam um poder político em larga medida blindado às pressões democráticas, ou seja, uma democracia atrofiada e de muito fraco alcance. Actualmente, vários cientistas sociais, de Perry Anderson a Alain Supiot, têm precisamente defendido que os arranjos institucionais da União Europeia, as normas legais que os enquadram e as prioridades políticas que deles emanam podem ser entendidas como a materialização do projecto de Hayek: uma elite política transnacional, dotada de instrumentos para substituir a economia mista, único terreno onde uma democracia forte alguma vez floresceu, por uma ordem capitalista crescentemente pura. O resto pode ser lido no Jornal de Negócios.

4 comentários:

  1. Passei só para referir que o Tratado de Lisboa foi ontem ratificado pela Inglaterra com a Irlanda do Norte e tudo!
    A Inglaterra essa velha democracia que é também o mais populoso país da UE.
    É verdade. Esse tratado que muitos já tinham enterrado , volta à vida e está aí para lavar e durar.
    MFerrer

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  2. João, o que mais me perturba no teu discurso é que os maior neo-liberais deste continente votariam ao teu lado num referendo ao Tratado. O referendo na Irlanda foi um exemplo de como um tubarão neo-liberal, Declan Ganley, se mobilizou com todas as forças pelo NÃO.

    Se os neo-liberais são assim tão perversos em tudo o que fazem, será que são ingénuos na hora do voto? Ou será que uma parte da esquerda, que supostamente já deveria ter feito o luto do fim do bloco soviético, anda a trote dos partidos comunistas europeus, esses que ainda sonham com a Europa do Pacto de Varsóvia?

    Li e traduzi textos do GUE sobre os tratados europeus, que eram uma miséria de saudosismo, em que numa introdução histórica se apagava da memória a ocupação soviética dos países de leste, a opressão, o gulag, onde até o Maio de 68 estava ausente, em que se dizia que os povos europeus viveram felizes da vida desde 1945 até à Europa de Maastricht (coincide mais ou menos com a queda do muro) e foram textos desses que serviram de base para alguns textos de política europeia do BE. Para mim, é muito claro o que se passa na minoria de esquerda contra o tratado e lamento que a Europa fique entregue à bicharada (a esquerda conformista), verdadeiramente mais vulnerável aos neo-liberais, perdendo-se tempo imenso com estes NÃO a questões que alteram muito pouco a UE, perdendo-se oportunidades de lidar com problemas globais urgentes, em que apenas a Europa tem capacidade para se opor às asneiras dos EUA.

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  3. Caro Rui,

    Não fiz as "contas" para saber se a maioria dos neoliberais votariam ou não como eu. Mas estou convencido que a maioria dos neoliberais que querem transformar a política que conta (não a versão anarco-capitalista que anda pela blogoesfera, que é a versão de romance para ingénuos) é pelo tratado. Basta ver a posição dos actores políticos que contam por toda a Europa. É preciso um poder imunizado da política democrática para construir mercados...

    De qualquer forma, prefiro falar de argumentos substantivos sobre o processo europeu e não de processos de intenção sobre supostas preferências ideológicas.

    Quem confia nas suas ideias não tem medo de más companhias. Isto vale para os dois lados desta barricada...

    É uma ilusão pensar que este tratado dá resposta às questões que julgo que nos preocupam. O tratado só pioraria a situação porque cristalizaria opções que subordinam a Europa e corroem o modelo social. Fanáticos à parte, todos em Washington sabem isso. E a França Sarkozy até já vai regressar ao comando estratégico da NATO...

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  4. "É preciso um poder imunizado da política democrática para construir mercados..."

    Não percebo, o parlamento é eleito directamente e tem poder co-legislativo, o Conselho é constituido por elementos todos eles eleitos democraticamente, o presidente da comissão é eleito pelo parlamento europeu que como já disse foi eleito democraticamente e até o presidente do BCE é nomeado pelos governos europeus todos eles eleitos democraticamente.

    Onde é que está a imunização democrática deste processo?

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