Ouve-se muitas vezes, demasiadas vezes, pessoas cultas e politizadas de esquerda afirmarem com um certo desdém que não percebem nada de economia (está implícito que não querem perceber) e que «saltam» sempre os suplementos e as secções de economia nos jornais. É preciso confrontar e questionar esta atitude: Estado Social e sua viabilidade? Mundo do trabalho e regras que determinam quem se apropria do quê e porquê? Como se organiza o processo de provisão dos bens essenciais à vida? Globalização? Desigualdades e pobreza? Políticas de alternativa ao neoliberalismo? Crises financeiras e perversidades dos capitalismo financeirizado? Crises alimentares? Será que tudo isto não interessa? E não é preciso estar informado e ter algum conhecimento de economia para intervir politicamente? Economia como parte integrante da cultura geral.
É claro que há uma ideia dominante do que é a economia, uma representação. Associa-se a economia aos «números», ao «vil» dinheiro ou à imagem do economista neoliberal que domina, com os seus argumentos «técnicos», a discussão na televisão, nos jornais, nas instituições públicas ou na academia. Muitas vezes à esquerda opta-se por falar do «social» e do «cultural» por oposição ao «económico». Erguem-se barreiras artificiais que reificam categorias e que entregam campos de intervenção essenciais à direita.
É urgente terminar com este estado de coisas. Este livro dá uma boa ajuda. Ao contrário do que o infeliz subtítulo dá a entender, não é um simples manual, mas sim um excelente guia introdutório aos mais importantes debates do desenvolvimento económico. É escrito numa linguagem acessível e desfaz com rigor vários mitos da história económica que os neoliberais gostam de alimentar (1ªparte) para a seguir entrar numa discussão detalhada do menu de políticas progressistas para o desenvolvimento económico no quadro de uma economia mista onde os grandes objectivos da esquerda podem ser concretizados. É da autoria de Ha-Joon Chang (um dos economistas favoritos deste blogue; vejam, por exemplo, esta recensão do Ricardo ao seu último livro) e de Irene Grabel, especialista em questões de economia financeira internacional. Já aqui foi referido a propósito da discussão sobre as virtudes do controlo de capitais ainda em vigor em muitos países que conseguiram, graças a eles, evitar as crises financeiras da década de noventa (casos da China e da Índia). Controlo de capitais, proteccionismo selectivo, políticas económicas e industriais vigorosas são alguns das áreas cobertas. É editado pela sururu. Com a sua colecção Economia e Democracia, esta editora presta um grande serviço a todos. Definitivamente, a economia é demasiado importante para ser deixada aos economistas. Acho que este livro explica bem porquê.
Nao li o livro, pelo que nao posso opinar sobre ele. Mas estou totalmente de acordo com a mensagem dos dois primeiros paragrafos do post. Muito bem.
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