Já aqui me tinha referido aos movimentos especulativos que dominam os mercados de matérias primas e como estes movimentos se devem sobretudo aos mercados financeiros e aos seus contratos de futuros. Entretanto, devido ao aumento dos preços dos combustíveis e à cada vez mais consensual avaliação que boa parte da subida dos preços do petróleo se deve a um movimento especulativo, a blogoesfera neoliberal veio em peso negar a evidência ou defender o papel dos especuladores. Difícil tarefa.
Luís Aguiar Conraria argumenta que a especulação ajuda à estabilidade de preços. Como? As bolhas especulativas são, por definição, aumentos de preços muito acima dos supostos «fundamentais» do mercado. Mais cedo do que tarde, as bolas explodem, conduzindo a quedas abruptas dos preços. No entanto, para LAC, o mercado funciona quase sempre de forma perfeita, tendencialmente em equilíbrio, com informação disponível para todos, com agentes mais ou menos omniscientes e sem qualquer relação de poder. Quem especula sabe bem que não é assim: expectativas precárias, incerteza, assimetria, volatilidade e reflexividade. Seja como for, o caso do mercado do petróleo, onde os agentes são poucos e actuam de forma concertada, é bem emblemático de como os mercados podem variar e furar as análises. Aliás, no seu quadro de referência, a especulação nem sequer existe. Para ser rigoroso, LAC devia, por isso, substituir «especulação» por «arbitragem».
«e à cada vez mais consensual avaliação que boa parte da subida dos preços do petróleo se deve a um movimento especulativo,»
ResponderEliminarEu não me incluo na direita liberal, mas não estou de acordo consigo quanto ao papel predominante dos especuladores:
http://www.rgemonitor.com/globalmacro-monitor/252692/oil_price_fundamentals
http://europe.theoildrum.com/node/4007
Já agora sugiro este texto de David Strahan:
ResponderEliminarhttp://futureatrisk.blogspot.com/2008/05/ideia-segundo-qual-as-companhias.html
»É a escassez que torna os “futuros” sobre o petróleo tão atractivos para os investidores.»
A escassez não no sentido do açambarcamento, mas de dificuldade de produzir ao ritmo da procura.
"Para ser rigoroso, LAC devia, por isso, substituir «especulação» por «arbitragem»."
ResponderEliminarNada disso. Na arbitragem não há risco. É lucro garantido. Nunca presumi tal hipótese, e no debate que se seguiu nos comentários, ficou claro que eu considerava a hipótese de os especuladores perderem dinheiro. Portanto, para ser rigoroso, aquilo de que falei nada tem a ver com arbitragem.
Quanto ao resto do seu 'post', fico contente por ver que depois de tanto tempo a queixarem-se da especulação, da mesma forma que os crentes se queixam do Diabo, finalmente tentam explicar a sério a forma como a especulação pode estar a actuar (isto independentemente de não concordar com os argumentos). Penso que o comentário que deixei no blasfémias, e promovido a post pelo JMiranda, contribuiu para isso. Óptimo.
Finalmente, deixei-lhe um pergunta no seu post anterior sobre refereeing e processos de trbunal. Pergunto-lhe novamente: sabe se esse é caso único? É uma notícia preocupante para a ciência.
Caro LAC,
ResponderEliminarPeço desculpa pela demora da minha resposta. De facto, não conheço mais casos como o do New England Journal of Medicine. No entanto, penso que este episódio se inscreve numa ofensiva mais ampla sobre a investigação cientifica. Escreverei mais sobre o assunto nos próximos tempos.
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