terça-feira, 1 de abril de 2008

Os privilegiados do modelo falhado

Famílias endividadas com a compra de habitação a preços inflacionados e a braços com encargos crescentes com a dívida. Um tecido frágil de pequenas e médias empresas com níveis de endividamento também elevados. Relações necessariamente assimétricas. Apesar de todas as dificuldades, os níveis de crédito dito mal parado continuam a ser bastante reduzidos. Os portugueses, contrariando ideias feitas, exibem um notável respeito pelos contratos financeiros. Depois temos um poder político complacente, com ligações umbilicais ao sector financeiro e disposto a criar todas as condições, de um offshore até a um leque de benefícios fiscais, para que a banca seja o sector económico com a mais baixa taxa efectiva de IRC. Junte-se a tudo isto um processo de privatizações que dura há duas décadas e a correspondente abertura aos grupos económicos, agora financeirizados, de sectores estratégicos onde os lucros estão mais ou menos garantidos. Este é o cenário ideal para o sector bancário: «Os bancos portugueses obtiveram em 2007 lucros de 2,4 mil milhões de euros, mais 9,1% que no ano passado (. . . ) Os impostos pagos sobre os lucros caíram 28,7%» (DN). Querem um verdadeiro grupo de interesse constituído por privilegiados? Aqui está ele. É pena que o governo «socialista» (nunca as aspas foram tão merecidas) tenha outra noção de privilégio. Assente não se percebe bem em quê.

25 comentários:

  1. De onde veem e, sobretudo, para onde vão os governantes quando deixam de sê-lo? Quem financia os partigos com "vocação" de Poder? Quando foi que o antagonismo de classes foi eliminado?

    Por seu lado, as perguntas "deles" são outras: onde podemos... tirar mais?, quanto tempo teremos ainda para continuar a roubar o património público?

    Que estejam descansados: o salazarismo não se aguentou quase 50 anos?! E não tinha o apoio dos "socialistas"...

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  2. Discutamos o essencial deste post que é o seu início, pressuposto de todo o resto.

    Em que fundamentos se baseia para dizer que a compra de habitação é ou foi a preços inflacionados ?

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  3. As casas foram inflaccionadas pelo abaixamento das taxas de juro, não?
    Eu só há uns anos comecei a tentar compreender mecanismos económicos e políticos, face á mudança de atmosfera que sentia à minha volta, no trabalho e na sociedade. Mas se houve coisa que percebi logo, é que as casas estavam a subir de preço em função do abaixamento do preço do dinheiro.

    Se num mercado a oferta excede a procura e os preços não descem, como é o caso da habitação, não haverá algo que artificialmente os mantém elevados?

    Quanto ao cumprimento por parte dos portugueses, os Banqueiros descobriram há uns anos uma coisa extraordinária (aos olhos deles quase delirante): os pobres são honestos.

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  4. Eu diria q olhando para a crise nos EUA, onde o valor das casas é já menor que o valor das hipotecas, é uma afirmação com um intervalo de confiança bastante grande, para não dizer que é na mouche. Se não bastasse esse facto a baixa das taxas de juro veio inflacionar os preços das casas!

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  5. Tudo isto sinal da atrofia causada pelo peso do estado, pela sua promiscuidade na gestão dos bancos privados, no monopólio da emissão monetária dos bancos centrais, e na ingerência e regulação dos mercados financeiros.

    Aqui, como sempre, os visionários intervencionistas vêm nos sintomas da economia atrofiada pelos seus acólitos que pelo contrário deveriam ter ainda mais poderes intervencionistas para poderem controlar a economia, a moeda e a banca.

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  6. O filipe sousa continua a proselitizar a sua utopia dos homens sós e livres, em que o mais forte tem razão apenas por ser mais forte.

    Mas o homem forte impõe (regula) que os seus adversários o defrontem one-on-one. Se dois mais fracos se unirem para o derrotar, já considera batota e grita que foi vitima do socialismo, coisa que não é natural.

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  7. Claro, homens livres sim. E acredite que a liberdade não traz solidão, são é livres de se relacionar com quem querem. E deixam de ser parceiros de pessoas indesejáveis.

    Os tais que se "unem" para se tornar meus amigos mesmo que eu não o queira.

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  8. Vejo que ignorou prudentemente a questão das relações de poder.

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  9. Quais relações? Eu relaciono-me com quem quero. Se tiver, um grupo restrito, não aceito autoridade da maioria para deixar de haver restrição.

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  10. Alguém que faz exclusivamente o que quer ou é deus ou é um sociopata.
    Foi vc que falou em "indesejáveis"?

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  11. Temos fel e verborreia hostil. Cuidado, que aqui não se gosta de homens livres. Os indesejáveis estão prestes a tudo.

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  12. Não é fel, caro sousa melo,
    trata-se apenas aplicar o seu raciocínio à realidade.

    Outro exercício:
    VC vivia a sua vida de homem livre na sua propriedade, que ficava nas imediações de uma castelo que servia de refúgio à população em caso de necessidade.
    Um pequeno grupo dessa população,(os que tomavam conta das armas) armava-se e tomava o castelo, a partir do qual governava instituindo uma tirania.

    VC
    a)Submetia-se à tirania e tentava tirar o melhor partido dela.

    b)conspirava com outros homens livres da terra (a maioria, apesar de pior armada) para derrubar a tirania, já que sozinho estaria condenado ao fracasso.

    c)não agia, limitando-se a pagar o tributo.

    d) outra, e nesse caso, qual.

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  13. Percebe-se perfeitamente quem são os tais homens com armas.

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  14. NICOLAS HULOT, militant écologiste, ami de Sarkozy, producteur et animateur de la célébrissime émission télé Ushuaïa déclarait récemment: « On ne peut pas admettre que 70 % de la production de richesses dans le monde ne profite qu’à 20 à 30 % de la planète (…). Nous sommes condamnés à ce que les États interviennent. C’en est fini du libéralisme. »

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  15. Nicolas Hulot veut un autre modèle de développement
    voir ici:
    http://www.lexpress.fr/info/infojour/reuters.asp?id=68027&1134

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  16. Karl Polanyi escreveu "A Grande Transformação" na convicção de que o Liberalismo teria chegado ao fim do seu tempo, e que o rasto de destruição, juntamente com as reformas sociais com que o mundo lhe reagiu, o impediriam de ser considerado como principio político e económico. Como hoje podemos tristemente constatar, não faltou quem o mantivesse vivo, e quem tivesse todo o interesse em alimentá-lo.
    Não dá para baixar a guarda...
    (Eu podia tentar dizer isto em francês mas não me ia sair bem...)

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  17. “ O commercio está arruinado. A lavoura está decadente. A propriedade está
    hypothecada.
    Só prosperam, só se procriam, só se reproduzem indefinidamente as
    instituições de jogo e de usura, as casas de penhores e os bancos! in ”AS FARPAS”.

    Há mais de um século, foi assim…
    Hoje, Bruxelas decide, o BCE estipula, o “bom aluno” cumpre!
    No entanto, a MÃO INVISÍVEL, um ícone, vai mostrando que afinal é de barro.

    Apesar da crise económica e social, e como se de um passe de mágica se tratasse, só a Banca prospera! O tratamento de excepção que o Estado concede à Banca, também concorre para esse fim. As privatizações de sectores importantes têm gerado grandes negócios (que a banca agradece); os cargos no Estado, mesmo que efémeros, vão servindo de trampolim para “novas oportunidades”.

    Socialista, este governo, só se for mesmo com aspas…

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  18. Então se é Bruxelas e o BCE que estipulam, como se pode dizer que a culpa da crise é do mercado livre?

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  19. Este comentário foi removido pelo autor.

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  20. Pedro Sá,
    Apenas fazia referência à mais do que conhecida evolução do preço da habitação:
    http://dn.sapo.pt/2008/01/29/economia/preco_casas_triplica_ultimos_anos.html
    De resto, a questão central da demissão fiscal do PS não depende disto.

    L. Rodrigues, concordo que Polanyi talvez fosse um pouco optimista nas suas previsões, embora a sua análise admita reversões e imprevisibilidade nas saidas para a crise. Deixou-nos uma das obras mais importantes para compreender as consequências desastrosas das utopias de mercado. Faz mesmo falta uma tradução.

    Filipe Melo Sousa, a crise financeira, como muitas vezes se reconhece nesses orgãos da conspiração colectivista que são a Economist e o FT, é o produto do fracasso dos mercados financeiros realmente existentes, fruto de duas décadas de desregulamentação que alimentou formas "tóxicas" de inovação financeira. Não sei o que seja o mercado livre (http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2008/03/o-mito-do-mercado-livre.html). Acho que é apenas o produto da sua imaginação e da leitura de romances de mercado que começam com um Robinson Crusoé (adulto e já formado) numa ilha deserta...

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  21. Desregulamentação? E eu que pensava que os bancos centrais decretavam o custo e a oferta de dinheiro como entidades monopolistas.

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  22. E a RTP quanto é que paga de imposto sobre o lucro?

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  23. Abram os olhos

    porque já vos foram

    aos bolsos

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  24. Em relação à especulação imobiliária gostava de dar alguns dados extra, mais micro económicos do macro...mas muito decisivos.

    A inflação das casas em Portugal deve-se também à incansável aptidão das elites portugueses de enriquecer com mecanismos não produtivos. As elites adquirem casas, várias, e como têm posses que permitem manter essas casas à venda durante muito tempo...assim o fazem, mantendo os preços altos. As casas novas são caras por si, o mercado de segunda mão está cheio de oportunistas. Inclusive, chegam a usar cooperativas de habitação para especular, adquirindo casas a custo de produção para depois especularem com muito mais margem de lucro.

    E essencialmente o factor decisivo é a arbitrariedade, alguém sabe algum mecanismo que regule a atribuição de preços no mercado imobiliário?
    As empresas de mediação também não ajudam nada, porque levam 10 a 5% do valor da transacção, ora o proprietário para vender a sua casa ao preço exacto que lhe custou (sem especulação) vê imediatamente a sua casa inflacionada pela compensação que tem de ser feita a esses 5/10%.
    O IMT (imposto municipal sobre transacções) é pago pelo comprador e não pelo vendedor, o que está incorrecto, porque se fosse pago pelo vendedor serviria como medida/estímulo de contenção da inflação das casas.

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