terça-feira, 8 de abril de 2008

O que se passa com o FMI?

Nos anos oitenta e noventa, o Fundo Monetário Internacional foi um dos pilares do chamado Consenso de Washington. Este assentava na defesa das virtudes irrestritas da desregulamentação, privatizações em massa e liberalização comercial e financeira. Tudo acompanhado por uma política orçamental e monetária conservadora. Está última era a grande especialidade do fundo. No longo prazo, os mercados têm sempre razão, mesmo que estejamos todos mortos. O colapso da economia argentina no princípio do milénio assinalou a falência destas prescrições e o esvaziamento da influência do FMI. Agora tudo parece mudar. Uma crise grave atinge os EUA e ameaça o capitalismo financeirizado típico do modelo anglo-saxónico. Dominique Strauss-Kahn, dirigente máximo do FMI, parece apostado em fazer com que a instituição regresse, pelo menos por um breve instante, ao espírito de um dos economistas que a imaginou nos anos quarenta: John Maynard Keynes. Ontem tivemos mais uma declaração em ruptura com o que é habitual ouvir por essas bandas: é necessário que os governos intervenham em larga escala nos mercados, em todos os mercados, em dificuldades. Uma intervenção que funcione como uma «terceira linha de defesa» a suportar uma política monetária e fiscal contra-cíclica. A falência intelectual da agenda que o FMI andou a prescrever durante mais de duas décadas é agora publicamente assumida. Tempos interessantes.

8 comentários:

  1. Com efeito, são tempos interessantes. Porém, preocupa-me ainda a excessiva força do corporativismo e a capacidade para os liberais (da direita e da esquerda) assumirem sem reparo uma deificação do mercado. Após tudo, também houve crise no Chile e na Argentina, e no Brasil, e mesmo no Uruguai após a intervenção ultraliberal e antiintervencionista da Escola de Chicago, e olha: esses regimes apenas foram condenados pela sua barbárie (militar) assassina, e não pela sua barbárie económica assassina. O que se passará? Sim, são tempos interessantes

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  2. Não acho que haja uma "falência intelectual". Parece-me que o FMI quer continuar o que sempre fez: atacar os mais pequenos (neste caso os contribuintes) para benefício dos tubarões.
    Concordo, no entanto, que tenha havido mudança no discurso. Mas os aldrabões são exímios em adaptar os discursos às circunstâncias...

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  3. This is a good summary of what Strauss-Kahn reported: Credit crunch

    This is my opinion:

    Like the Utopia envisaged by Lenin, the global unregulated free market aims for a state of affairs that has never hitherto existed in human society - and which goes far beyond the mid-Victorian English free market and the liberal international economic order that existed until 1914. In a global free market the movements of goods, services and capital are unfettered by government controls imposed by any sovereign state, and markets have been detached from their original societies and cultures. This is a Utopia divorced from history, hostile to vital human needs, and finally as self-destroying as any that has been attempted in the last 100 years or so.

    Both the Soviet system and the free markets are experiments in economic rationalism. Free marketeers tell us that the unprecedented productivity of a rational economic system will remove the causes of social conflict and war. Soviet Communists used to assure us that socialist planning would make scarcity a thing of the past. Both tell us that rising productivity will itself solve most social problems, both exalt economic growth over all other goals and values. The Utopia of unfettered free market has not incurred a human cost in the way that Communism did. Yet overtime it may come to rival it in the suffering that it inflicts.

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  4. O banco central da argentina, entidade monpolista do estado emitia pesos ao valor de dólares (que não tinha). Quando os argentinos pediram os dinheiro bom em troca do dinheiro mau que o papel fiduciário pretendia valer, o estado congela coercivamente as contas dos privados. Depois admirem-se da crise.

    Conclusão: o mercado livre falhou.

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  5. Interessante achega de hydrofluoric.
    Entre a Utopia da economia planificada e centralizada de Lenine, e a outra, a Utopia neoliberal que se quer divorciar da História, ignorando sociedades e culturas, ambas exaltando a aumento da produtividade para a resolução dos problemas sociais, venha o diabo e escolha.

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  6. A ancoragem ao dólar era parte do pacote do FMI para a Argentina. Para reduzir a inflação e dar "credibilidade" à economia "garantindo" aos investidores internacionais e nacionais a diminuição do risco cambial e atando a política monetária. Deve ser do seu agrado. Nos seus dias gradualistas. Antes da destruição final do Estado e da emergência do paraíso de um mercado de ficção. Bom, tudo isto foi regado por um dos mais vastos programas de privatização da história: da banca aos correios, das telecomunicações à segurança social. Tudo mas mesmo tudo foi privatizado. Também deve apreciar. Um passo de cada vez. Neoliberalismo puro e duro na década de noventa. Resultado? O colapso económico. O preço da utopia dos economistas da sua estirpe que fazem política. Provavelmente leram Rand, mas sabem que, enfim, depois da adolescência vem a fase adulta. Fica o egoísmo e a adoração do mercado. Começam com leituras económicas mais sérias: Friedman, Lucas, etc. E começa o trabalho no quadro das instituições. O congelamento das contas foi apenas um sintoma do processo de colapso e não o pode explicar porque quando foi decretado já a economia estava num bom buraco e por ele só foram atingidos os pequenos aforradores. Como sempre. Felizmente que se seguiu um governo que mudou a orientação da política económica e que reverteu parte do anterior saque repercutindo alguns dos custos sobre os especuladores ao renegociar a dívida acumulada graças a uma politica desastrosa. Com excelentes resultados económicos.

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  7. Quase fica a sensação de que afinal fazer bem é simples: basta fazer ao contrário do que (quem nós sabemos) apregoam.

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  8. Joao, acho que de facto, especialmente aqui na AAsia, o conselho do FMI foi devastador, especialmente por prolongar os pegs e as poliiticas monetaarias da sua defesa... Na Argentina, teraa pecado por omissao no que de facto foi uma crise fiscal de raiizes no desenho institucional orcamental (uma licao agora para todos os paiises que se aventuram em descentralizacao fiscal). O currency board serviu muito bem no iniicio, e deveria ter sido abandonado assim que a credibilidade monetaaria foi estabelecida. Outras alternativas haveria, claro, como Dornbush escreveu...

    Concordo muitas vezes coisas que escreves, mas acho que temos que abandonar estes argumentos "blanket". Existe muita gente no FMI que cometeu erros de apreciacao fruto de dogmatismo, e existe muita gente que acerta na mouche quando faz um diagnoostico correcto da solucao para crises na balanca de pagamentos.

    Acho tambeem que por culpa de todos (inclusive um dos meus autores preferidos), o termo Washington Consensus tem sido muito mal tratado, e muitas vezes por gente que nunca leu o artigo orginal de John Williamson. Daa uma vista de olhos nas explicacoes do tipo, e vais ver que, por exemplo, os deeficits soo sao problemaaticos se levarem a uma espiral de diivida ou a uma orgia de monetizacao de diivida...

    Joao

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