sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
mas Sarkozy só quer a felicidade
Como assinala Sérgio Aníbal, um dos nossos jornalistas económicos de referência, Sarkozy, em abrupta queda de popularidade, decidiu romper com a ideia, subjacente ao PIB, de que «o que não se conta não conta» e encomendar a Amartya Sen e Joseph Stiglitz, dois dos principais economistas da actualidade e cuja obra rompe com todas as ideias feitas do senso comum neoliberal, «o cálculo de uma medida de crescimento que leve em conta a qualidade e não apenas a quantidade». Muito pertinente. No entanto, como vários economistas têm afirmado, e Sérgio Aníbal não se esquece de nos lembrar, esta iniciativa é contraditória com os esforços de Sarkozy para instituir em França um ‘regime norte-americano’ com semanas de trabalho cada vez mais longas e indivíduos cada vez mais focados no consumo e na acumulação de activos. Sobretrabalho, sobreconsumo e sobreendividamento . A melhor receita para a infelicidade.
Bem, a ter essa componente de realização/felicidade é porque vai ser mesmo uma "encomenda".
ResponderEliminarDaqui tiro uma ilação, os números sãos maus e Sarkozy aponta para uma felicidade fingida, deve ser isso.
É fácil brincar com os números e fazê-los mentir por nós, então com a felicidade é mesmo uma palhaçada geral. Basta pensar nos critérios, João Rodrigues aponta o sobre-trabalho, o sobre-consumo e o sobre-endividamento como atributos para a infelicidade. Brinquemos com esses conceitos e temos trabalhadores super-motivados (sobre-trabalho), realização plena das necessidades (sobre-consumo) e forte investimento (sobre-endividamento).
Falar dos números do país em termos de crescimento do PIB é sempre um mecanismo populista e pouco sério, porque sozinho o crescimento do país não é o bálsamo que precisávamos para ter emprego e salários de qualidade. A questão fulcral é mesmo interna, trata-se de resolver o eterno conflito entre os detentores dos meios de produção e os dependentes, o conflito é de fácil resolução, ou entramos por um regime de propriedade colectiva dos meios de produção (não digo Estatal, mas sim dividido porque quem trabalha com eles) ou então regulamos os rendimentos dando margens aceitáveis para os mesmos.
João,
ResponderEliminarNão entendo como é que horas demasiadas de trabalho quer dizer super-motivação, adquirir o que não necessitamos é a realização plena das necessidades e o endividamento é investimento.
Spin, meu caro João, Spin.
ResponderEliminarAconselho ao Sarkozy, e a quem mais estiver interessado em indicadores alternativos ao PIB como medida de "desenvolvimento", a leitura do trabalho desenvolvido pela New Economics Foundation, aqui:
ResponderEliminarhttp://www.neweconomics.org/gen/well_being_top.aspx?page=1038&folder=174&
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ResponderEliminarZé Miguel:
ResponderEliminarEu estava a tentar demonstrar como se pode descontextualizar factores negativos e fingi-los positivos, pessoalmente acho que qualquer um deles é um factor negativo.
Por exemplo, Sócrates diz que vai salvar o Estado social diminuindo a despesa e considera que está a fazer reformas importantes na saúde nesse mesmo sentido, sobre a mesma matéria eu considero que se está a atacar o Estado social e a diminuir a qualidade dos seus serviços prestados. Ou seja, sobre o exacto e mesmo assunto temos uma visão completamente oposta.
Em relação à descontextualização dos termos concretos:
sobre-trabalho -> como sabe
Sarkozy propôs que quem quisesse trabalhar mais assim o podia fazer, logo ele pode descontextualizar e dizer que existe uma grande motivação dos franceses e dizer que eles estão motivados ao ponto de fazer horas extra.
sobre-consumo -> Sarkozy pode alegar que os franceses estão confiantes na economia e que optam satisfazer as suas necessidades em pleno
sobre-endividamento -> pode ser usado no sentido de dizer que existe um recurso massivo ao crédito, e que isso é (outra vez)um sinal de confiança na economia e vontade de investir em bens ou serviços.
Entendido.
ResponderEliminarBom bom jornalista economico e' aquele gajo do DN que agora me falha o nome...
ResponderEliminarObrigado João Dias pelo seu contributo. A verdade é que pretendi apontar a contradição entre este discurso e as medidas de extensão do horário de trabalho, de cortes nos impostos dos mais ricos, etc. Medidas que se destinam a mudar as finalidades sociais. Vou ver o site Pedro Viana. Acho que sei de quem estás a falar A. Cabral. Um dos desenvolvimentos interessantes a acompanhar é o surgimento de um punhado de bons jornalistas económicos em Portugal...
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