sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A França deprime-se porque é desigual...

Ao contrário do que muitas vezes se pensa, a França é um país com uma das taxas de sindicalização mais baixas do mundo desenvolvido e com uma das maiores diferenças, antes de impostos, entre o salário médio dos quadros superiores e profissões intelectuais e o salário médio dos trabalhadores menos qualificados (2,38). Só é ultrapassada pela Eslovénia (2,56) e, claro, por Portugal (3,33) onde a preocupação fundada com os efeitos nefastos das desigualdades é apelida de «populista». Na Suécia e na Dinamarca, economias altamente competitivas, com elevados níveis de sindicalização e com uma tradição de concertação social e de fixação dos salários mais ou menos centralizada, as desigualdades salariais são muito inferiores (1,83 e 1,79 respectivamente). Em países à partida menos desiguais é muito mais fácil financiar um estado social generoso que protege as pessoas contra os «ventos frios» do mercado. Estas coisas só se podem ler na Alternatives Economiques, a melhor revista de informação económica de esquerda.

8 comentários:

  1. O problema é precisamente a pouca diferença que há entre uns e outros.
    Acha razoável um economista ganhar € 1500 e um administrativo € 1000 ? Eu não.

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  2. O problema é que as diferenças não se cifram em 50%, mas em diferenças de 32 vezes (ao que parece segundo estudo da Mercer) ou de 128 vezes (se me não engano no exemplo da PT dado no último número da Visão)

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  3. Até tenho vergonha de dizer alguma coisa aqui, porque acho que as diferenças existentes são abismais e já dizia o Sérgio Godinho que:

    "Os que têm muito, devem muito aos que têm muito pouco."

    Somos demasiado egoístas (os portugueses) para aceitar menores diferenças, principipalmente quem está por cima, veja-se os salários da administração publica, começando pelos da assembleia da républica.

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  4. Antes de mais convém esclarecer que a taxa de sindicalização não exprime o impacto total de um sindicato no trabalho de uma determinada industria. É preciso também analisar a taxa de cobertura desse sindicato. Por exemplo em Portugal apesar de nem todos os bancários estarem sindicalizados, todos os bancários estão cobertos pelo acordo sindical. Na França essa cobertura é das mais elevadas do Mundo (apesar da baixa taxa de sindicalização).

    O aumento das desigualdades salariais é facilmente explicado pelo crescimento enviesado da produtividade para os trabalhadores qualificados em relação aos desqualificados nas últimas décadas. Para manter o rácio emprego desqualificado e qualificado constante torna-se evidente que os custos para as empresas do trabalho têm de aumentar para os trabalhadores qualificados em relação aos desqualificados. A solução de mercado é o aumento das diferenças salariais de qualificados para desqualificados. Para diminuir a importância desta solução de mercado a França aplicou medidas de tributação nos empregos mais qualificados em relação aos menos qualificados (tributação altamente progressiva) tendo desigualdades salariais abaixo da média da OECD, na linha da Dinamarca. No entanto uma solução alternativa consiste em diminuir a quantidade de trabalho desqualificado através da requalificação dos trabalhadores para que a diferença de produtividade entre estes dois tipos de trabalhadores diminuía. É claro que esta solução gerará um desemprego elevado, embora de caracter temporário. Esta foi a solução seguida pela Suécia e os resultados saltam à vista com desigualdade salariais mais baixas do mundo. O custo de tal resultado foi o disparo do desemprego nos anos 90 de valores de ~2% para ~10%. Na minha opinião o benefício superou o custo. (o principal indicador utilizado foi o rácio de rendimento salarial do 5º decil para o 1º calculados numa base normalizada pela OECD).

    Apenas mais um comentário sobre o papel dos sindicatos e da concertação social. Na Bélgica o acordo de concertação social estipula que o crescimento máximo salarial médio não pode ultrapassar o crescimento dos custos de trabalho dos países vizinhos Alemanha, França e Holanda, revelando uma clara preocupação dos actores sociais com a competitividade. Não sei se essa preocupação é em geral relevante nos acordos que por cá se fazem.

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  6. Uma coisa que eu gostava de consultar era um gráfico onde nas abcissas constasse o valor dos salários em euros e nas ordenadas o número de pessoas que rebecebe o ornedado de determinado valor.
    Alguém me sabe dizer onde posso encontrar um gráfico desse tipo?
    Deve haver esta informação em algum lado, senão seria impossível calcular o ordenado médio.
    Obrigado.

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  7. Caro Tiago Tavares,

    Acho essa explicação das qualficações e do enviesamento tecnológico pouco satisfatória. Teria que demonstrar que a evolução tecnológica mudou de natureza e por que é que isso aconteceu no final dos anos oitenta e nos anos noventa. Já agora é de notar que o período de maior aceleração da produtividade na Europa coincidiu com o processo de compressão salarial. Porquê? Acho que temos de olhar com mais atenção para as instituições que influenciam e medeiam os impactos do «desenvolvimento das forças produtivas». Aqui entra a sua pertinente observação sobre a cobertura dos acordos sindicais e a diferença entre os vários modelos de capitalismo na Europa.
    Ver também para os EUA:
    http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2007/12/ser-que-as-coisas-esto-mudar-iv.html

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  8. Uma explicação para esse impacto tecnológico enviesado na produtividade dos trabalhadores mais qualificados deriva de uma deslocação da actividade produtiva da industria manufactureira (onde os ganhos de produtividade eram rapidamente conseguidos com a utilização de mais capital) para o sector de serviços, com um crescimento da produtividade mais lento. Esta deslocação em parte explica o abrandamento de crescimento das economias mais desenvolvidas no início dos anos 70.

    A introdução de novas tecnologias de informação ocorrida a meados dos anos 80 beneficiou principalmente o sector dos serviços, em particular os que melhor sabiam lidar com esta tecnologia - os trabalhadores qualificados. Observou-se assim um ressurgimento no crescimento da produtividade mas mais enviesado para os trabalhadores mais qualificados (que neste momento estará a abrandar nos países mais desenvolvidos).

    Relativamente à questão da compressão salarial julgo não ser esse o cerne da questão, uma vez que não parece haver grande evidência nesse sentido (por exemplo nos EUA e UK a parte dos salários do total do produto é superior à maior parte dos países europeus). Mais grave é a questão da desigualdade na distribuição da parte dos salários na população, levantada nesta discussão (neste aspecto os EUA estão francamente mal).

    Concluo com felicitações para o blog e para as discussões que por aqui se têm desenvolvido. Bom trabalho!

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