Na retórica habitual das organizações internacionais que assumem o papel de guardiãs da globalização neoliberal - FMI, Banco Mundial e OMC - e de muitos manuais de Economia, a adesão dos países em desenvolvimento ao processo de globalização contemporâneo é uma consequência do insucesso das estratégias de desenvolvimento nacionalistas adoptadas durante as décadas de 1960 e 1970 em vários países (principalmente da América Latina e de África).
No entanto, esta ideia é dificilmente suportada pela história. Mais do que uma opção nacional, a adesão às receitas neoliberais pelos países em desenvolvimento resultou da imposição do FMI e do Banco Mundial, cuja interferência na condução das políticas públicas se intensificou após a Crise da Dívida de 1982.
Confrontados com a necessidade de financiar as suas dívidas (num contexto de crise económica mundial e de subida das taxas de juro), os países em desenvolvimento tiveram de aceitar as várias condições impostas pelo FMI e pelo BM para a concessão de empréstimos - condições essas que foram muito além do que seria estritamente necessário para a gestão da balança de pagamentos. Tais condições incluíam: fortes restrições aos deficits orçamentais, privatização de empresas públicas, redução da administração pública, liberalização do comércio, desregulamentação do investimento estrangeiro, desregulamentação dos mercados de capitais, convertibilidade total das moedas, etc.
A adopção de tais políticas de cariz neoliberal teve como consequência um aumento da desigualdade e da instabilidade, mas o crescimento económico reduziu-se significativamente. Nas décadas de 1960 e 1970, quando as estratégias proteccionistas e intervencionistas foram largamente prosseguidas nos países em desenvolvimento, o crescimento destas economias foi em média de 3% por ano, muito superior aos 1-1,5% verificados desde então.
Contrariamente ao que é sugerido, não foi o mau desempenho das estratégias nacionalistas de desenvolvimento que conduziu à adesão dos países do 3º Mundo à globalização neoliberal. A liberalização foi (e ainda é) imposta a partir de fora - e os bons resultados estão longe de estar garantidos. Pelo contrário, segundo Chang, as regras impostas aos países do Sul são a receita para a persistência do sub-desenvolvimento em vastas regiões do mundo.
Os próximos capítulos da série «As lições de Chang» ajudarão a perceber porquê.
Há de se convir que os países latino-americanos sempre fizeram(e ainda fazem) mau uso dos recursos públicos, o Estado é inchado, o governo gasta muito mal e recorre a aumento de tributos. No mínimo essa "política neoliberal" serviu para que os mesmo tivessem mais responsabilidade com o dinheiro "público", considerando-se que, na sua grande maioria, os representates políticos de tais nações acham que os recursos públicos "nascem em árvores" e que são infindáveis. E, também, o seu povo não tem a devida consciência de que quem financia esses "representantes", e o Estado, é o dinheiro que sai do seu bolso com o pagamento de impostos.
ResponderEliminar"No mínimo essa "política neoliberal" serviu para que os mesmo tivessem mais responsabilidade com o dinheiro "público""
ResponderEliminarE o Sol anda a volta da Terra, não é?
O estimado anónimo tem a noção de que o que diz não faz qualquer sentido? É pura diarreia mental, sem qualquer fundamento teórico!
Mais, essa de passar atestado de incompetência aos povos da América Latina demonstra bem a falta de interesse do anónimo em discutir as causas da desigualdade e da pobreza dos países do chamado 3º mundo.
Não passei atestado de incompetência aos povos dos países latino-americanos(isso é opinião sua). Por viver em um país latino-americano acho que sei do que estou falando. O q tentei dizer foi que seus governantes(representantes) não são incompetentes(aliás são é muito competentes pra meter a mão no q é alheio) mas sim corruptos, irresponsáveis com o dinheiro público, daí as causas das desigualdades e da pobreza dos países do 3º mundo. E o fundamento teórico meu caro, é só fazer um comparativo das contas públicas do meu estimado país(Brasil) do período anterior e posterior aos governos FHC e Lula. Não q tenha melhorado grande coisa, mas a responsabilidade com a coisa pública aumentou consideravelmente. Quanto maior o Estado meu caro, maior a corrupção. Eu não teorizo isso, eu convivo diariamente com isso. Os jornais daqui só falam de corrupção. Já viu um telejornal daqui do Brasil?
ResponderEliminarCaro António Ferro, peço desculpa, por me ter excedido no meu comentário e, quiçá, ter feito um julgamento precipitado.
ResponderEliminarContudo, a corrupção, à semelhança do que ocorre na generalidade dos países em condições de pobreza e desigualdade semelhantes ao Brasil, é uma consequência indirecta das políticas de índole neoliberal que esses países foram de alguma forma coagidos a adoptar (pelo FMI, ONU, Banco Mundial, etc.) que impedem uma regulamentação eficaz da actividade das grandes empresas (estrangeiras e brasileiras).
Ora, essa ausência de regulamentação - que não se deve a políticos corruptos mas antes a uma ideologia corrupta - impede o desenvolvimento equilibrado de qualquer país, levando a tremendas desigualdades socio-económicas.
São precisamente essas desigualdades que fazem com que a corrupção seja incomparavelmente maior no Brasil do que na Finlândia, onde também existe, por força da natureza humana e não por malvadez dos políticos.
Em qualquer país, o garante da transparência e honestidade dos governos e instituições públicas é o escrutínio popular. Acontece que este depende do grau de informação e cultura disponíveis ao cidadão comum, o que já de si é reflexo das suas condições materiais.
Por esse motivo, o António não pode exigir à generalidade do povo Brasileiro que tenha como prioridade a participação activa na vida pública, pois muitos estão demasiado ocupados a tentar sobreviver à justa.
A melhor maneira de combater a corrupção em qualquer país, será sempre apostar na educação e na melhoria das condições de vida da população e, para isso, é necessário adoptar políticas económicas e sociais justas e adequadas ao grau de desenvolvimento do país.
Pelo contrário, o neoliberalismo, ao acabar com direitos sociais e enfraquecer a participação activa dos cidadãos na sociedade provocam inevitavelmente uma maior dificuldade em controlar as actividades não só do Estado mas também das empresas.
O António afirma que as políticas neoliberais no Brasil, que na realidade são anteriores ao governo de FHC, não melhoraram grande coisa (a nível da qualidade de vida presumo eu), mas pelo menos aumentaram a responsabilidade com a coisa pública.
Resta saber, contudo, se também aumentaram a responsabilidade com a "coisa privada" porque, ao contrário do que defende o liberalismo, a má gestão das empresas privadas é tão danosa quanto a má gestão do aparelho do Estado, uma vez que se essas empresas vão à falência ou fogem aos impostos, afectam directamente toda a sociedade.