quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Os intelectuais dos negócios

Um responsável político da direita holandesa vem a Portugal declarar que o «SNS já não tem grande futuro» e defender a privatização progressiva do sistema. Reconhece que «os serviços públicos fazem um trabalho razoável», mas que «não podem satisfazer todos os cidadãos». A alternativa é deixar «o mercado funcionar», ou seja, o Estado organiza a concorrência entre as seguradoras, garantido-lhes os lucros, e encarrega-se caritativamente dos pobres. Obviamente, segundo o Jornal de Negócios (sem link), é apenas um «especialista» a falar.

O critério é simples: é especialista quem é porta-voz das seguradoras, a grande força a puxar pelo modelo neoliberal. Assim se alimenta a propaganda que pretende substituir o princípio da provisão pública segundo as necessidades, porque somos todos cidadãos, pelo principio da provisão privada segundo a capacidade de cada um para pagar, porque alguns são mais cidadãos do que outros. No fundo, a privatização do SNS é apenas mais uma forma de impor «escolhas trágicas» evitáveis aos grupos sociais mais vulneráveis: «Um amputado que teve de escolher o dedo que poderia ver de volta olhando para o seu saldo bancário. Uma mulher que não foi aceite por uma seguradora por ser demasiado gorda. Um médico que assina de cruz todas as recusas e ganha um bónus por cada tostão que poupa à empresa». É este pesadelo que queremos?

1 comentário:

  1. Realmente, se só houver apenas uma seguradora a fazer seguros de saúde, ficamos pior que com o Estado-monopolista. Com concorrência entre seguradoras, nem por isso. Talvez esta pressão sirva para que o Estado se esforce em melhorar o mau serviço que presta. Duvido muito mas eu sou um optimista nato.

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