Numa publicação acabada de sair, a OCDE afirma que «as pessoas esquecem-se frequentemente de reconhecer o impacto crucial das normas e dos valores no funcionamento eficiente das instituições formais. Tais instituições informais - tradições, costumes e normas sociais - providenciam os fundamentos da ordem social e são por isso centrais para a compreensão das interacções humanas e para o desempenho das economias» (a tradução é minha).
Na verdade, onde se lê «as pessoas» deverá entender-se «os economistas da corrente dominante». São esses que insistem desde há décadas em explicar o desempenho económico dos países em termos de recursos produtivos e de incentivos, ignorando a diversidade e complexidade das estruturas sociais em cada contexto e o modo como estas moldam as interacções humanas.
A incapacidade de compreender (ou de aceitar) a importância das instituições, formais e informais, levou o FMI e o Banco Mundial (organizações onde reina a ortodoxia económica) a aplicar, de forma basicamente indiferenciada, programas de ajustamento económico a países com estruturas socio-económicas muito distintas, com os resultados desastrosos que se conhecem (ver, por exemplo, este magnífico livro, já aqui referido). Hoje é cada vez mais difícil ignorar este facto e daí esta 'descoberta' que a OCDE agora nos traz.
O que esta nova publicação faz não é mais do que reconhecer aquilo que parte da ciência económica vem dizendo desde há mais de 200 anos: o papel dos valores e das normas sociais na vida económica está presente no trabalho de Adam Smith e de Stuart Mill (ver este post), constituindo o aspecto fundamental da análise da chamada 'velha' economia institucionalista de Veblen e Commons. Mas na ciência económica contemporânea é assim: o que não se pode medir nem traduzir sob a forma de equações não tem direito de existência; só quando os erros são demasiados graves e óbvios se começa a olhar para as ideias de autores mortos e esquecidos, que outros, por teimosia, insistiram em manter vivas.
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