Tal como nos anos anteriores, dezenas de milhar de candidatos (45 mil) ficaram por colocar nos concursos para professores dos ensinos básico e secundário. Tal como nos anos anteriores os sindicatos fazem alarde dos números do desemprego (aqui). Tal como nos anos anteriores, o Ministério da Educação (ME) minimiza o tema, afirma que tudo está a correr pelo melhor e, lamentando o desemprego, apressa-se a afirmar que o Estado não pode dar emprego a todos os que se candidatam a um lugar no ensino (aqui).
É um facto que muitos dos candidatos à docência são recém-licenciados, os quais nunca ensinaram. E é um facto que o Estado não pode garantir o emprego a qualquer indivíduo que se apresente a concurso. No entanto, o ME é desonesto quando tenta passar a ideia de que é esta a situação da generalidade dos candidatos que ficaram por colocar. A Fenprof calcula em cerca de 13 mil os professores que já ensinaram e que ficaram este ano sem emprego. Não sei se os números são correctos, mas o ME não se esforça por corrigi-los.
O que nem o ME nem os sindicatos afirmam é que a generalidade dos professores contratados que estiveram a ensinar no ano passado - incluindo não apenas os que ficaram sem emprego, mas também os 3.252 professores agora colocados - passou o ano lectivo de 2006-2007 sem saber se estaria na mesma escola no ano seguinte (sem saber, portanto, quais os investimentos de médio-prazo que valeria a pena fazer nas suas actividades lectivas e extra-lectivas).
O que continuo, inexplicavelmente, a não ver afirmado pelos sindicatos nem reconhecido pelo ME, é que existem no país algumas dezenas de milhar de professores que são manifestamente necessários ao ensino, mas que todos os anos são obrigados a passar o verão sem saber se vão estar colocados numa escola e, caso o sejam, em que escola vão trabalhar, com que alunos, em nome de que projecto educativo - com as consequências que isto tem para as suas vidas pessoais e para a qualidade do ensino.
Os professores contratados são úteis ao ME: não progridem na carreira (por definição, não têm carreira para progredir) - o que permite poupar no orçamento -, são facilmente descartáveis em caso de necessidade, podem ser alocados a diferentes escolas sem qualquer possibilidade de resistência. Com a escassa abertura dos lugares no quadro docente, uma proporção crescente de professores passa nisto largos anos da sua vida - alguns ultrapassam os 20 anos de itenerância e de incerteza. Isto independentemente das suas habilitações, da sua competência, da sua entrega ao ensino. E independentemente da óbvia necessidade que o sistema de ensino tem dos seus serviços.
É difícil compreender como é possível uma situação tão absurda e tão gritante de precariedade continuar a merecer o silêncio de sindicatos (que tipicamente concentram as suas preocupações nos problemas dos professores de carreira, como é o caso do concurso para professores titulares) e mesmo de partidos de oposição.
teste
ResponderEliminarNão me parece verdade que os sindicatos calem essa situação. Acontece muitas vezes que os atingidos são já de uma geração que não recorre aos sindicatos nem á luta de classe - isso sim talvez por culpa dos sindicatos.
ResponderEliminarPreocupante a velhacaria com que todos, todos os professores têm sido tratados, preocupante o consentimento com que se vem assistindo à destruição da escola pública, preocupante passar para a opinião pública que esses Professores ficam no desemprego porque não são necessários ou porque diminui o número de alunos, preocupante o país não se estar a aperceber daquilo que se está a passar na educação. Preocupante em primeiro plano o modo "porco" como se trata a vida de jovens professores.
Parabens pela verticalidade e pelo equilíbrio que mantém as bicicletas!
Leio o seu "post" e pergunto-lhe:
ResponderEliminarSe fosse Ministro da Educação o que faria?
Não creio que um blog seja o espaço mais adequado para apresentar um programa de governo para a educação. Em qualquer caso, é interessante notar que, de todas as recomendações sugeridas pela OCDE no seu último relatório sobre Porugal no respeitante à educação (ver resumo aqui: http://www.oecd.org/dataoecd/62/28/36497355.pdf), a única que não foi tida em conta por esta equipa ministerial foi a relativa à necessidade de motivar os professores.
ResponderEliminarE esta não é uma recomendação menor: é fácil criar incentivos materiais para levar aalguém a produzir mais chouriços; mas quando está em causa proporcionar um ensino de qualidade(que não seja apenas virado para os resulados dos exames), criar o gosto pela aprendizagem (ingrediente fundamental a uma sociedade onde o ciclo de vida dos conhecimentos é veloz) ou combater o insucesso escolar (uma das maiores pragas da sociedade e da economia portuguesas), como consegui-lo sem garantir a motivação das pessoas?
O que faria? Seguramente, não começaria por apresentar os professores, de forma indiscriinada, como fonte dos problemas do ensino em Portugal.
Os professores não são fonte de problemas- são apenas o elo mais fraco. Perante a incapacidade para levar a sociedade a procurar respostas no sistema de ensino (digam o que disserem, continuamos a ter empresas que não procuram grandes níveis de formação), os objectivos políticos para o sector limitam-se a procurar reduzir custos e a dar a entender que é a escola que vai resolver problemas sociais (é a teoria da mobilidade social pelo aumento de habilitações, é o mito da relação directa entre escolaridade e desenvolvimento económico, é o faz de conta da inclusão social pela escolarização). É preciso reconhecer que estas balelas conseguiram adeptos na sociedade portuguesa, sendo hoje frequente ver reproduzida a ideia de que a escolarização é causa e não consequência do desenvolvimento económico. Perante isto, a posição dos professores é extremamente incómoda e frágil: por um lado, ganham mal e não recebem qualquer motivação; por outro, são apontados como os responsáveis pelo fraquíssimo desempenho da nossa economia e pelos crecentes problemas sociais. Soluções de curto prazo? Quem tiver hipótese, mude de ramo...
ResponderEliminar