Uma das ideias mais fortes da chamada economia institucionalista é a da necessária «impureza do capitalismo», no sentido em que a viabilidade do sistema requer sempre uma mediação política e a existência de instituições não-mercantis. De facto, parece ser plausível a ideia de que o segredo para o fôlego do capitalismo tem residido na sua plasticidade e maleabilidade para acomodar até certo ponto lógicas de redistribuição da riqueza e de acesso a bens e serviços cruciais sem a medição mercantil. Lógicas que implicam uma permanente redefinição de quem controla os activos da economia e que por sua vez asseguram não só a legitimidade do sistema como acabam por melhorar, ao contrário do que possam pensar alguns dos seus mais empedernidos defensores, a sua performance económica.
A partir destas ideias tem emergido uma abundante literatura que mostra como, mesmo hoje, num de tempo de hegemonia do neoliberalismo, o capitalismo está longe de ser monolítico, coexistindo à escala nacional e regional uma grande variedade de arranjos institucionais que limitam a lógica do mercado capitalista e que devem ser tenazmente defendidos e reinventados porque permitem conciliar uma certa ideia de justiça social com um bom desempenho económico. Mesmo em tempos sombrios, o futuro está num certo sentido aberto porque a natureza de cada formação social (complexa articulação de vários modos de produção para usar Marx) é sobretudo o fruto da acção colectiva deliberada, da luta social, e não o simples resultado de forças económicas ocultas e não controláveis.
É evidente que reconhecer isto teoricamente implica romper com o individualismo metodológico, com a hipótese do egoísmo possessivo generalizado, com a racionalidade optimizadora do «agente representativo» sem género, classe, etnia, sem compromissos ou sem identidade social, com a visão utópica de que devemos, a golpes de engenharia social, criar mercados que se aproximem da concorrência perfeita ou com um critério de eficiência (o de Pareto, o único que tem «rigor cientifico») absolutamente implausível. «Idealismos» que, em última instância, não servem para absolutamente nada fora dos modelos fechados que os economistas ortodoxos vão construindo. E implica reentrar no mundo fascinante da história, dos sistemas socioeconómicos, das relações de poder e da moral. No mundo da economia política do capitalismo. Um mundo onde sabemos que provavelmente, como afirmou Amartya Sen, só poderemos estar vagamente certos. Mas, como também disse Sen (ou terá sido Keynes?), mais vale estar vagamente certo do que rigorosamente errado.
Imagino que o Sen concorde, mas a frase é mesmo do Keynes.
ResponderEliminarObrigado. Li-a num texto do Sen e por isso não tinha a certeza.
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