segunda-feira, 18 de junho de 2007

As origens da crise na UE (I)

«Na ausência de outros instrumentos de política económica, é como se os governos só tivessem à sua disposição políticas tendentes a reduzir os custos relativos do trabalho através da concorrência fiscal e social (. . .) É uma espécie de tragédia grega: a partir do momento em que os instrumentos de gestão da política económica estão bloqueados, os governos não têm outra escolha a não ser praticar políticas económicas que agravam a situação».

Jean-Paul Fitoussi, um dos mais prestigiados economistas franceses, numa notável entrevista. Estes bloqueios não são uma inevitabilidade. São o resultado de escolhas políticas que definiram a arquitectura do «governo» económico europeu, cristalizadas no infame Pacto de Estabilidade ou no estatuto do BCE. Esta escolhas impedem políticas públicas coordenadas de relançamento. Única via para aumentar o crescimento e diminuir o desemprego. São elas que estão na base da actual crise do projecto europeu.

10 comentários:

  1. Absolutamente de acordo.
    Quem manda nisto, não é o José Sócrates, nem é o Cavaco Silva, nem é o "grande capital". Quem manda em Portugal é a UE.
    A UE diz: têm que atingir tal meta (em relação a Orçamento de Estado, PIB, défice etc...). Depois, as medidas, são escolhidas pelo governo. Só que não há muitas alternativas a exigências como "Reduzir a intervenção do estado na economia". Neste caso, as medidas a aplicar são impostas pela exigência que é feita. E, como disseste, isso não permitirá mais investimento...

    A UE quer, à força toda, americanizar a Europa. Por isso é que eu digo que a UE é anti-europeísta, pois tudo o que faz (em matéria económica... é disso que estamos a falar), fá-lo contra os valores europeus.

    Ou a Europa muda, ou deixa de ser Europa.
    E se a Europa está em crise... então África, Ásia, América do Sul estão em quê? Esses sim, estão em crise!
    A Europa é o continente onde existe menos desigualdades e mais humanismo. É o continente mais próspero. Vamos estragar isso em troca de uns dólares, que só vão chegar a alguns? Tenham juízo!

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  2. E nesta batalha contra a Europa podem começar com a luta contra a PAC, por exemplo?

    Se começarem por aí eu tambem alinho na manif...


    Falando a sério. O PCP foi o único partido da altura que entendeu o alcance da entrada na UE...

    O Cavaco quando saiu do governo para dar aulas bem explicava que a UE é um excelente bode expiatório. A medida é impopular? A UE obriga...

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  3. "É o continente mais próspero. Vamos estragar isso em troca de uns dólares, que só vão chegar a alguns? Tenham juízo!"

    De facto à frente da Europa continua a América do Norte. Apesar de acolher todos os anos imigrantes pobres de todo o mundo.

    "Que só vão chegar a alguns" - É que hoje ninguem, mas ninguem acredita nessas palavras de ordem. Todos, mas todos vivem melhor.

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  4. «"É o continente mais próspero. Vamos estragar isso em troca de uns dólares, que só vão chegar a alguns? Tenham juízo!"

    De facto à frente da Europa continua a América do Norte. Apesar de acolher todos os anos imigrantes pobres de todo o mundo.»

    Prosperidade. Não disse PIB, disse propsperidade. Para mim, só há prosperidade se houver uma relativa distribuição dos rendimentos. A América do Norte é o "continente" mais rico. A Europa é ligeiramente mais pobre, mas o dinheiro está muito melhor distribuído, e eu prefiro assim.


    «"Que só vão chegar a alguns" - É que hoje ninguem, mas ninguem acredita nessas palavras de ordem. Todos, mas todos vivem melhor.»

    Claro que todos vivem melhor desde a entrada de Portugal para a UE... O problema é que a UE está a americanizar-se e assim, provavelmente, a maioria viverá pior.

    Na América existe muita desigualdade. Cá não existe. Porque é que a Europa quer ser uma "Little USA"? Eu não percebo...

    Ah, e já agora, a "América do Norte" não é um continente... o continente é a América. E a América, no total, vive pior que a Europa... mas ok, eu aceito a diferenciação cultural, em vez da geográfica.

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  5. «De facto à frente da Europa continua a América do Norte.»

    A que América do Norte se refere você? àquela que tem mais de 1% da população nas prisões e 20% a viver abaixo do limiar de pobreza? Com não sei quantos milhões de crianças subnutridas e uma percentagem elevadíssima de analfabeto?
    De facto a desigualdade e a concentração de riqueza nos EUA está em valores muito elevados face à sua própria história. Não é uma palavra de ordem, é uma realidade abjecta! E não me venha dizer que é por causa da liberdade e do mérito:
    http://www.economicmobility.org/assets/pdfs/EMP%20American%20Dream%20Report.pdf%20
    http://money.cnn.com/2006/09/20/commentary/sahadi/index.htm
    http://www.thecorporatelibrary.com/index.php?F=Shop&p=shop&s=srr

    Esse lugar comum de dizer que os EUA têm melhores condições de vida que a Europa já não acerta com a realidade!

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  6. Parece que os links não ficaram bem. Aqui vão outra vez:

    http://www.thecorporatelibrary.com
    /index.php?F=Shop&p=shop&s=srr


    http://money.cnn.com/2006/09/20/
    commentary/sahadi/index.htm


    http://www.economicmobility.org/assets/pdfs/
    EMP%20American%20Dream%20Report.pdf%20

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  7. Caro J.M. Sousa,

    Sabe que está a usar indicadores relativos de pobreza?

    Sabe que um pobre americano é classe média em portugal em PPP?

    Nos EUA usam a regra de 3 vezes o rendimento necessário para viver com dignidade como barreira de pobreza. Na Europa, salvo erro usa-se 60% da mediana do rendimento per capita como barreira.

    Essas percentagens são importantes para quem se preocupa mais com a igualdade do que com a prosperidade. Quem tem pouco preocupa-se em ter mais, não em que os que tenham mais tenham menos.

    De acordo com o critério Europeu, Cuba é um país quase sem pobres. Já esteve em Cuba?

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  8. Caro Ricardo

    Você usa muitos conceitos abstractos, sem o devido enquadramento. E fico-me por aqui.

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  9. CAro J.M. Sousa,

    Como por exemplo "pobreza"? É um problema abstracto mas real. E medido. E para se entender o problema precisamos entender os indicadores, como são construídos em tese e na prática.

    Os indicadores de pobreza são dos mais importantes no que toca a instrumentalização da Economia como ciência política nos dias de hoje.

    Eu estou contextualizado. Aposto que só Hoje é que o J. Sousa soube como eram calculadas essas % de pobres que são tantas vezes anunciadas. Ignorance is bliss, e por aqui não me fico.

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