Será que ao enfatizarem um certo retrato das motivações individuais, onde como David Hume afirmou, «cada homem é suposto ser um aldrabão e não ter em todas as suas acções qualquer outro fim que não seja o seu interesse privado», a maioria dos economistas não tem estado a favorecer a criação de contextos institucionais que, ao «economizarem» excessivamente na generosidade, moldam os seres humanos de tal forma que o retrato de Hume se torna perigosamente realista? Será que assim não se delapidam valores sociais tão necessários para a construção de uma sociedade decente?
O trabalho do economista Samuel Bowles tem contribuido para colocar de novo estas e outras interessantes questões na agenda de investigação da ciência económica.
David Hume, por muito que nos custe, tem razão.
ResponderEliminarSó é possível alguém esforçar-se a sério por algo, se beneficiar com isso. Talvez por isso o comunismo soviético não tenha funcionado.
A imperfeição humana dá-nos vontade de virar a cara, mas ela existe.
A construção de uma sociedade "socialista" só poderá acontecer se os cidadãos sentirem que benefeciam individualmente com o socialismo.
O egoísmo é humano. Deixemo-nos de utopias. Por muito que nos custe.
O texto fala do valor da generosidade.
ResponderEliminarEu penso que a generosidade nasce do sentimento de culpa proveniente do egoísmo, que todos nós temos.
Vivemos a vida a querer mais dinheiro e melhor qualidade de vida. Depois, quando vemos as campanhas da AMI a mostrar africanos ultra-magros com moscas nos olhos, temos vontade de ajudar. Porque pensamos "sou mesmo egoísta" ou "a sorte que eu tive em nascer no Ocidente".
Muitos dizem (nem que seja no inconsciente) "e se fosse eu?"- cá está: o egoísmo. A mais infame característica humana. Repito: humana.
Assumir o egoísmo e combatê-lo é a atitude realista, em alternativa ao romantismo kantiano.
O trabalho de Hume nao e' tanto descritivo como e' normativo, isto e' parte de uma campanha de instituir um regime de lei privada quando a nocao do individuo era historicamente imberbe. Portanto, baldassare, David Hume nao tinha razao nos seculo XVIII como talvez nao tera agora (fica a questao para alguem tera que fazer a cliometria).
ResponderEliminarEu disse que ele tinha razão naquela frase. O resto, desconheço.
ResponderEliminarE por que é que o egoísmo há-de ser mais "humano", ou seja, mais "natural, do que a solidariedade? Ainda não encontrei quem me conseguisse convencer que as coisas são naturalmente assim. Também não acredito, já agora, no contrário. O que me parece é que o homem é em grande medida aquilo que lhe ensinam a ser. Se nos ensinam a ser agressivos e concorrenciais, somos isso; se nos ensinam que isso é mau, somos o contrário. Claro que é muito mais fácil (e conveniente, pois claro) acreditar que a acção moral ou imoral é determinada pela genéticas e tal. Mas quem acredita na liberdade humana não vai muito nessa conversa da "natureza humana". A natureza humana é a capacidade de aprendizagem com que deus nosssenhor nos dotou. Tudo o mais, nesse âmbito, são construções ideologicas.
ResponderEliminarjms diz "E por que é que o egoísmo há-de ser mais "humano", ou seja, mais "natural, do que a solidariedade?"
ResponderEliminarDepois diz que "quem acredita na liberdade humana não vai muito nessa conversa da "natureza humana"". Então há ou não há natureza humana?
Existem certos valores comuns a toda a humanidade. Quando os enumeramos é costume esquecermo-nos dos valores maus. Porque só há valores bons? Não, porque a imperfeição custa.
É claro que se pode educar contra determinada característica humana. Eu disse isso no meu comment: "Assumir o egoísmo e COMBATÊ-LO é a atitude realista".
Enquanto negarmos as nossas características menos bonitas, não as vamos poder combater. O egoísmo é um dos valores mais presentes na nossa sociedade, quer queiramos quer não. A concorrência não é assim tão negativa quanto isso. De qualquer forma, se queremos combater alguma coisa, temos que a reconhecer. Não é fechando os olhos que vamos encontrar a agulha no palheiro.
Eu não nego que o egoísmo seja tambem "humano", nem a sua ampla presença nas nossas sociedades. Insurjo-me sobretudo contra quem tende a justificar os valores negativos com um "somos assim" que remete para a noção, que me parece absurda, de uma "natureza humana", pois esse "somos assim" é muitas vezes usado para justificar a "inevitabilidade" do capitalismo e o descrédito daquilo a que depreciativamente é referido como "utopia".
ResponderEliminarClaro que tem toda a razão nisto: não devemos embarcar em ficções angélicas sobre a natural bondade e etc. Mas a demonização também não faz sentido. Realismo, portanto, e vontade de mudança. Acho que estamos de acordo.
Claro que estamos de acordo.
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