Portugal foi o país de toda a União Europeia (a 27) que mais cortou no investimento público em 2007: quase 15%, escreve hoje o Jornal de Negócios. Em Itália, o investimento do Estado cresceu quase 2%, na Grécia aumentou 11%, na Irlanda 14% e em Espanha 17%. E isto acontece no 8º país (em 27) que menos investe em percentagem do PIB: 2,29%, o mesmo que em Itália, mas bem menos do que na Grécia (2,9%), em França (3,7%) ou Espanha (3,9)%. Dito isto, não é de admirar que sejamos também o país que menos cresce na União Europeia.
Quando há necessidade de colocar as finanças públicas em dia o investimento público costuma ser um dos sacrificados.
ResponderEliminarE quando há necessidade de reduzir o investimento público, o crescimento e o emprego costumam ser uns dos sacrificados.
ResponderEliminarMas voltando mais atrás, será que há mesmo "necessidade de colocar as finanças públicas em dia"? Fica a deixa para o João Rodrigues ou o Nuno Teles.
será que há mesmo "necessidade de colocar as finanças públicas em dia"
ResponderEliminarMas ainda há dúvidas?...
Há bastantes dúvidas. Tudo depende do nosso ponto de partida. Se aceitamos sem discutir os constrangimentos impostos pelo pacto de estabilidade sem crescimento, então não temos alternativa a não ser cortar ("os nossos compromissos com Bruxelas"). Mas se virmos o pacto como um arranjo institucional que traduz uma certa concepção do papel da política económica, então podemos ter uma discussão frutuosa e muitas dúvidas. O que é certo é que se aceitamos o pacto, aceitamos um regime macroeconómico em que a saída da recessão se faz pelo aumento do desemprego e pela deterioração da posição dos assalariados que não é nunca compensada e se torna assim estrutural com múltiplas consequências (problemas de procura, quebra do movimento sindical, fim das coligações que suportam o estado providência...). Prometo desenvolver estas ideias...
ResponderEliminar"Se aceitamos sem discutir os constrangimentos impostos pelo pacto de estabilidade sem crescimento, então não temos alternativa a não ser cortar ("os nossos compromissos com Bruxelas")."
ResponderEliminarJoão, mas existe, na prática, esse compromisso. Podemos discutir realidades alternativas ou paralelas. Mas, de qualquer forma, no momento de decidir elas não contam para grande coisa. Portanto, uma vez aceite o PEC, como dizes, então "não temos alternativa a não ser cortar", não te parece?
... quando desenvolveres nao te esquecas da moeda. O euro nao para de subir mas ainda assim ha renascenca industrial na Alemanha. Sendo que o motivo nao pode ser os termos de troca, entao pergunto como entrou a balanca de capitais neste jogo? Alguma vantagem houve para o centro europeu o euro elevado, conseguido com os bons comportamentos fiscais das periferias.
ResponderEliminarHugo,
ResponderEliminarO problema é esse: deixamos de ver o constrangimento e assim aceitamos a sua naturalização. E esquecemos que estamos perante escolhas políticas feitas por governos eleitos. O drama é quando as nossas opções se fazem tomando como dado um enquadramento mutável. É sempre desejável pensar em alternativas. Até porque mais tarde ou mais cedo os governos vão ter que o fazer...
A. Cabral desenvolve. Não percebi. Ou melhor só percebo se argumentares que os sectores exportadores beneficiam com a estagnação salarial, gerada, entre outros factores, por um desemprego duradouramente elevado, que mais do que compensa a valorização do euro.
Sera a valorizacao do euro um "bad" para o crescimento economico? E' se olharmos para a balanca comercial e para as tentativas de vender barato nos mercados internacionais.
ResponderEliminarE se olharmos para a balanca de capitais? O que acontece aos capitais que afluem para europa em busca do euro? Sera que entram no investimento productivo da Siemens, da Nokia, da BMW? O juro alto e a autarcia fiscal talvez favoreca algum investimento productivo, aquele que nao compete a precos e que se financia nos mercados internacionais.
"deixamos de ver o constrangimento e assim aceitamos a sua naturalização. E esquecemos que estamos perante escolhas políticas feitas por governos eleitos."
ResponderEliminarNão é uma questão de "naturalização" (não há nada de metafísico aqui), mas de realismo político. E a pensar numa alternativa, é uma alternativa europeia, não é Portugal que vai quebrar unilateralmente os seus "compromissos com Bruxelas". Quanto às escolhas democráticas, o Governo que tomou a "decisão" ou "escolheu o que escolheu", está legitimado democraticamente.
"Até porque mais tarde ou mais cedo os governos vão ter que o
fazer"
Não percebo que isto quer dizer.
os representantes legitimados democraticamente parece é que nao gostam de referendar a europa...
ResponderEliminarHugo,
ResponderEliminarMuitos socialistas aderiram de corpo e alma às ideias pre-keynesianas do equilíbrio orçamental. Isto tem implicações tremendas em termos do regime económico e da repartição dos custos de qualquer ajustamento. O que me espanta é não ver economistas da área do PS a discutir política económica fora dos cânones ortodoxos. Quanto ao governo: e que tal fazer pressão para mudar as regras? Isto tem de começar por algum lado. Mas tens razão quando dizes que a alternativa é europeia. E que tal pensar nisto? Algumas ideias «utópicas»: harmonização fiscal, fim da independência do BCE, aumento do orçamento europeu, reforço do BEI, emissão de dívida europeia; mecanismos coordenados de controlo de capitais; regras sobre o nível do salário mínimo (60% do salário médio...); mecanismos para estabelecer regras para as deslocalizações de empresas…É isto que os governos vão ter de discutir. Para isso é preciso mudar os termos da agenda e do debate das ideias.
João,
ResponderEliminar"Muitos socialistas aderiram de corpo e alma às ideias pre-keynesianas do equilíbrio orçamental."
Há bons motivos ou não? Queremos, por exemplo, que, como acontece em França, o juro da dívida pública consuma, anualmente, o valor que o Estado arrecada dos impostos sobre o rendimento individual?
Eu não acho que seja impossível ou negativo mudar algumas regras a nível europeu, em particular algumas que referes - embora outras me pareçam fora o horizonte, seja exequível ou desejável: parece-me que se os bancos centrais não mantêm independência, lá se vai qualquer esforço de rigor; aumentar o salário mínimo assim para aumentar ainda MAIS o desemprego?; harmonização fiscal entre, say, a Suécia e Portugal? isso não me parece fazer grande sentido; e as regras sobre as deslocalizações, acho muito difícil implantá-las a nível global, e na maior parte dos casos não acho que isso positivo. É preciso é um Estado social que amortize decentemente os choques que estas implicam, e não apenas reactivamente. Para isso é preciso muito dinheiro, bem usado. E implica não gastar noutras coisas que não interessam tanto.
De qualquer, também não é expectável pensar que propostas de mudança venham de Portugal. Qualquer debate terá de emergir e consolidar-se a partir do eixo Paris-Bona.
Não há bons motivos: o aumento da dívida pública é o resultado de uma trajectória de crescimento anémico que só pode ser invertida com políticas coordenadas de relançamento do mercado interno europeu. Quanto à dívida a questão é do encadeamento vicioso que se estabeleceu em resultado de períodos de taxas de juro real positivas combinadas com crescimento anémico. Uma forma mais de captura de rendas...
ResponderEliminarRigor no BCE? O que é isso de rigor? Política monetária obcecada com a inflação a 2% (quando se sabe que a inflação pode ir acima dos 10% sem prejudicar o crescimento). Banco central independente equivale auma dependência em relação às prioridades do capital financeiro e a falta de controlo democrático. Harmonização fiscal corresponde à fixação de tectos mínimos para vários impostos (sobretudo os que recaem sobre os factores móveis, isto é sobre o capital) para bloquear a concorrência fiscal.
O problema não é descobrir de onde virão as propostas (elas existem), o problema é os socialistas terem aceite em 1997 um arranjo institucional à escala europeia desenhado para corroer aquilo que justificou a sua existência durante décadas: pleno-emprego e estado providência...
Salário minimo gera desemprego? Assim, sem mais? Olha que não. Pelo contrário. Quando o problema está na procura...
João,
ResponderEliminar"alário minimo gera desemprego? Assim, sem mais? Olha que não. Pelo contrário. Quando o problema está na procura... "
Não foi isto que eu quis dizer, aturalmente. Mas a sua subida a partir de um certo gera com certeza, e ataca em particular o trabalho nao-qualificado, que pode ser facilmente substituído por uma máquina.
"Política monetária obcecada com a inflação a 2% (quando se sabe que a inflação pode ir acima dos 10% sem prejudicar o crescimento"
Mas crescimento baseado em quê? Sem afectar as exportações, que são o motor da economia europeia?
"pleno-emprego e estado providência... "
Os arranjos institucionais que prevaleceram noutras épocas não são replicáveis hoje numa escala global de competitividade global.
E o pleno-emprego ele existe praticamente nas sociedades nórdicas, que saõ mas mais capazes de financiar os respectivos Estados-providência. São as economias políticas incoerentes do centro da Europa que estão em crise de sustentabilidade.
"Quando o problema está na procura... "
O problema na procura? Isso está por provar. Com o acesso ao credito que existe? Nunca se consumiu como dantes; o pior é que estamos a consumir dinheiro que não é nosso e desequilibrar a balança de pagamentos.
"o aumento da dívida pública é o resultado de uma trajectória de crescimento anémico que só pode ser invertida com políticas coordenadas de relançamento do mercado interno europeu. "
ResponderEliminarPara isso tens de saber crescer sem endividar ainda mais o Estado. Isto é que é crescer sustentada. O que mudou relativamente há décadas atrás foi que o Estado tem que assumir compromissos muito mais pesados do que outrora.
"Sem afectar as exportações, que são o motor da economia europeia?"
ResponderEliminarIsto e' uma profecia auto-realizavel. Se os salarios crescem abaixo dos aumentos de productividade, ate abaixo da inflacao, entao o crescimento so pode vir das exportacoes e da procura externa.
O Socrates no debate dos dois anos de governo apontava o crescimento das exportacoes como grande vitoria. Ficou por dizer se esse aumento fica abaixo ou acima do crescimento da procura global. E' que claramente nao chegou para tirar a economia portuguesa do buraco.
"Isto e' uma profecia auto-realizavel. Se os salarios crescem abaixo dos aumentos de productividade, ate abaixo da inflacao, entao o crescimento so pode vir das exportacoes e da procura externa"
ResponderEliminarParece-me que continuamos a falar de mercado interno" como se estivessemos em 1950.
"E' que claramente nao chegou para tirar a economia portuguesa do buraco."
Como se isso fizesse num ano e meio.
Quem tem emprego talvez tenha paciencia a ver se isto vai la assim. Quem esta entre contratos a prazo, prefere talvez nao esperar...
ResponderEliminarHugo,
ResponderEliminarMercado interno é a UE para onde vão mais de 70% das nossas exportações.
Se todos adoptam políticas recessivas o resultado global é um mercado interno (UE) em quebra. É um caso de falácia da composição. O que é racional do ponto de vista de cada Estado gera um resultado ao nível da UE com muita pouca racionalidade. Não são só os mercados que estão cheios de problemas de coordenação...
"Os arranjos institucionais que prevaleceram noutras épocas não são replicáveis hoje numa escala global de competitividade global". Adoro estas formulações. Estamos trancados numa situação que foram os Estados centrais que em larga medida criaram. Mas não há nada a fazer. É a vida...
"Mercado interno é a UE para onde vão mais de 70% das nossas exportações."
ResponderEliminarVamos ver até quando. De qualquer forma, isso é sustentável porque porque existe um equilíbrio institucional que pode perfeitamente alterar-se se mexeres numa das peças do sistema. Mesmo que troques dentro de um amplo sistema, não quer dizer que não haja ameaça de "exit" se alterares as regras. É por isso que o "mercado externo" conta, nem que o seu papel seja potencial e não efectivo.
"Estamos trancados numa situação que foram os Estados centrais que em larga medida criaram. Mas não há nada a fazer. É a vida... "
Não disse que estavam trancados; disse que as regas mudaram e que os constrangimentos são outros - mesmo que criados pelos Estados pressionados pelo imperativo competitividade e do resto.