sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Brincar às casinhas?


Pedro Brinca participou na mais recente edição do podcast do Expresso Chave na Mão, sobre o agravamento dos preços da habitação em Portugal e a dificuldade das famílias em aceder a um alojamento a preços compatíveis com os seus rendimentos. Em cerca de 18 minutos de conversa, e como seria de esperar, o economista apontou o dedo «à falta de oferta e de incentivos à construção».

Ou seja, em cerca de 18 minutos Pedro Brinca não teve uma palavra que fosse sobre o impacto nas novas procuras na subida dos preços e na origem da atual crise, preferindo insistir na narrativa tão dominante quanto simplista da falta de casas, com base na ideia de que, cito de memória, «há dez anos que não se fazem casas em Portugal». Daí à defesa da agilização do licenciamentos e da adoção de benefícios fiscais, entre outros incentivos à construção, foi só um passo.

Reforçando a tese sobre a resposta à crise de habitação, diz ainda o economista: “Quando aterro em Lisboa não vejo arranha-céus a perder de vista. O que não falta é espaço para construir. Algo se passa aqui”. Pois passa, passa-se até mais do se vê da janela de um avião: ao contrário de cidades como Tóquio e São Paulo (que Brinca cita como exemplos de construção em altura), ou de Nova Iorque, a população que vive em Lisboa tem vindo a diminuir desde os anos 80.

Não basta, portanto, olhar para as casas. É preciso ver mais longe e perceber que há hoje diversas procuras, incluindo as especulativas, que impedem que se continue a encarar a questão da habitação como o jogo simples entre alojamentos e famílias. Ou seja, para fazer um diagnóstico adequado, e encontrar as respostas certas, é necessário considerar o impacto e a presença dessas novas procuras (internas e externas, a par das associadas ao turismo), potencialmente inesgotáveis e para as quais a habitação constitui essencialmente um ativo financeiro.

Em contrário, e sem a adoção de medidas robustas de regulação, corre-se o risco de apenas estarmos a brincar às casinhas, sem resolver problema nenhum, e nomeadamente a questão da inacessibilidade dos preços para as famílias.

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