O Serviço Nacional de Saúde britânico faz hoje 75 anos: “Como um académico chato e um ex-mineiro construíram o NHS”, informa-nos Ana Sá Lopes.
Adicionalmente, é preciso não esquecer que, há 75 anos, o Reino Unido tinha uma dívida pública, em percentagem do PIB, de 238%. Tal não impediu esta criação civilizadora do trabalhismo. É que havia uma dívida incomensurável para com um povo que resistiu ao nazi-fascismo e que queria institucionalizar a ideia de que estamos todos juntos nisto, sem temor pelos supostos direitos associados à propriedade privada, num contexto internacional marcado pelo ascenso do socialismo.
E havia a confiança no poder público, dada pela herança de Keynes, falecido dois anos antes. O economista William Beveridge era o tal “académico chato”, oriundo do liberalismo, tal como Keynes, e responsável principal por um relatório imortal, em 1942. Sabia que o Banco Central e o Tesouro podem trabalhar conjuntamente e que tudo o que é socialmente útil pode ser pago, porque as restrições não são financeiras, mas antes de recursos reais.
Recupero então a lição de Beveridge, que Paulo Coimbra e eu aprendemos num livro escrito em 1944: «Pode perguntar-se, o que acontece se o Governo quiser pedir emprestado e gastar 100 milhões de libras e o público não estiver preparado para subscrever mais de, digamos, 60 milhões em obrigações de longo ou curto prazo “on tap” [ou seja, obrigações cujo preço de mercado resulta de baixas taxas de juro implícitas]? A resposta, mais uma vez, é simples. Tendo sido decidida uma despesa deficitária de 100 milhões de libras à luz da situação económica geral, o Governo financia-se em 40 milhões por adiantamentos obtidos através da conta “Ways and Means Advances” que detém no Banco de Inglaterra».
Até é relativamente simples do ponto de vista intelectual, uma vez demolido o pensamento convencional, mas hoje é politicamente tão complicado no capitalismo realmente existente, monetariamente nas mãos de bancos centrais como o BCE, apostados em destruir tudo o que é civilizado. Além disso, no contexto das regras da UE, seria muito mais difícil, para não dizer impossível, nacionalizar as CUF desta desgraçada vida. Lá chegaremos, claro. Haja esperança.
The Birth of the National Health Service: Your Very Good Health - 1948
ResponderEliminarhttps://youtu.be/VFhEB3gG8HA
Este desenho animado britânico de 1948 foi criado para explicar o novo serviço nacional de saúde à população.
Tempos diferentes, quando se pensava a sociedade de forma diferente, quando o liberalismo estava mais domado e não impedia projectos ambiciosos com objetivos de melhoria generalizada da qualidade de vida de serem executados.
Agora "não há dinheiro" para nada a não ser para as máfias dos bancos, guerras pelos "valores ocidentais" e oligarquias falidas...
E não se atrevam de dizer que há dinheiro para um serviço nacional de qualidade a não ser que desejem que o euro-liberal especialista em finanças Francisco Seixas da Costa vos repreenda via Twitter! É muito intimidante!
O liberalismo é tão bom, mas tão bom e nós cada vez mais desesperados, precarizados, empobrecidos, com serviços degradados, sem acesso ao básico, como habitação...
Sim, liberalismo, uma ideologia que vale a pena manter!! lol
Ainda bem que pelo menos alguns nesta distopia liberal podem viver em apartamentos de luxo com piscina, e como brinde os possamos ouvir dizer que não vai haver água!
https://www.publico.pt/2023/06/21/azul/noticia/antonio-costa-nao-vamos-futuro-agua-hoje-2054125
Gostei do elogio ao liberal Beveridge
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