Parece que o livro de Stiglitz mexeu com o conformismo dos media. Foi preciso esperar mais de três anos, desde o Prós e Contras de 15 Abril de 2013, para que novamente se tenha discutido o euro num programa de televisão. Esperemos que tenha chegado ao fim o tabu.
O Público também nos deu a conhecer a opinião de José Soares da Fonseca (JSF), professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, sobre o mesmo livro (A saída do euro: e se o divórcio amigável não for opção?). Dado que o artigo sistematiza vários argumentos para, discordando de Stiglitz, sustentar que Portugal não tem condições para sair do euro, contraponho aqui o meu ponto de vista sobre um dos mencionados custos da saída. Para não me alongar, guardo para mais tarde a discussão de outros argumentos do artigo.
Quando JSF aborda as limitações de uma política monetária soberana, diz o seguinte:
uma pequena economia aberta ao exterior tem muito pouca autonomia para levar a cabo uma política monetária independente. Isto porque, neste tipo de economia, o crescimento significativo da massa monetária leva facilmente ao aumento de importações de bens e serviços e à saída de capitais, das quais resultam subidas das taxas de juro que afectam negativamente o investimento. O desemprego gerado pela redução do investimento e de outra despesa privada interna, poderia então anular ou suplantar o emprego entretanto criado pelo aumento da despesa pública.Esta afirmação assenta num pressuposto: o país manteria a livre circulação de capitais. Ora os recentes casos da Islândia, Grécia e Chipre recordam-nos que, num contexto de grave crise financeira, é imperativo instituir um controlo dos movimentos de capitais. O que significa que, mesmo num cenário de “divórcio amigável”, o banco central do país terá de adoptar um sistema de controlo que trave a fuga do capital especulativo. Ou seja, adoptaria um novo instrumento de política que até o FMI já se viu obrigado a legitimar em certas circunstâncias.
Por conseguinte, a saída do euro não exigiria aumentos da taxa de juro para travar a fuga de capitais e, assim sendo, não afectaria negativamente o investimento e o emprego. Bem pelo contrário, fora do euro e controlando os movimentos de capital especulativo, e apenas estes, a política monetária pode fixar o nível da taxa de juro mais adequado às condições de uma economia estagnada e longe do pleno emprego. Dessa forma, é possível usar a política monetária para apoiar uma política orçamental expansionista.
Sabemos que há diferentes formas de exercer o controlo dos movimentos de capitais e que a sua eficácia não está garantida à partida. Há países que foram muito bem sucedidos, outros nem por isso. Daí que, tendo-se alcançado a desejável estabilidade financeira, convenha introduzir alguma flexibilização nos controles e passar a um regime de taxas de câmbio flexíveis. A transição terá de ser cautelosa e, acima de tudo, integrada numa estratégia de desenvolvimento do país que minimize as pressões do capital financeiro (ver aqui e aqui).
Deste modo, dispondo de uma taxa de câmbio ajustável à dinâmica comercial do país, no contexto de uma política cambial articulada com outras políticas, Portugal teria condições para evitar a recaída no gravíssimo endividamento externo em que a entrada na moeda única o lançou. Em síntese, o aumento do desemprego, como um custo da saída do euro, é um argumento que não tem fundamento.
Note-se que a impossibilidade da desvalorização cambial foi a principal causa do endividamento externo dos países da periferia da zona euro. Sem a restrição das reservas cambiais, e sem a supervisão de um banco central digno desse nome, o sistema bancário europeu financiou (e lucrou com) os défices externos destes países até ao dia em que, como em qualquer bolha especulativa, o pânico se instalou e os Estados socializaram as perdas dos seus bancos (ver aqui).
Hoje, ouvimos todos os dias os comissários europeus (e os seus megafones em Portugal) falar de “reformas estruturais” e “flexibilidade laboral” para obter ganhos de competitividade-preço que substituam a desvalorização cambial. Foi precisamente com esta política económica que os governos enfrentaram inicialmente a crise financeira de 1929 num regime de câmbios fixos e livre circulação do capital, como era o padrão-ouro. Os economistas têm a obrigação de saber que essa política acabou por converter uma grande crise financeira numa Grande Depressão. Por isso, quanto mais depressa a zona euro for desmantelada, mais depressa a Europa sairá da gravíssima crise em que mergulhou.
58 comentários:
De Robert Skidelsky: "A zona euro é inviável":
"Para recuperar o controlo sobre a política monetária, Portugal teria de abandonar a zona euro. Deve fazê-lo?"
R.S.:"Não e não acho que qualquer pequeno país possa fazê-lo.
O Reino Unido é suficientemente grande para poder sair da União Europeia. O Reino Unido não precisa, sequer, da zona euro ou da União Europeia. Precisa de algumas vantagens de ser membro, mas estas espero que venham a ser negociadas durante o processo de saída, apesar de achar que estou, provavelmente, a ser otimista.
Mas Portugal só pode tomar decisões em conjunto com outros países.
Portugal tem de fazer parte de um lobby de países que reclamem uma reestruturação da zona euro, quer nas instituições, quer nas políticas."
Ainda de R. Skidelsky "A zona euro é inviável":
"Acho que a política orçamental está de regresso à atualidade e como financiá-la, tendo em conta as dificuldades de muitos países em matérias de finanças públicas. Mas, uma vez mais, tem de haver um número de saídas, como a possibilidade de mexer na taxa de câmbio.
Portugal tem um problema de competitividade, mas também é verdade que os principais mercados para as exportações também não têm crescido.
Há situações em que a solução de uma taxa de câmbio flexível não é suficiente para usar a solução das exportações com o objetivo de acelerar o crescimento. É o que sucede se os mercados mais importantes estão estagnados.
A única forma de superar os problemas que se verificam é a de União Europeia, no seu todo, encontrar uma solução para estimular o crescimento económico.
Isto não significa que cada país não deva tomar medidas para tornarem as economias mais competitivas. Mas tem de haver condições para o aumento da procura"
Unabomber, a transcrição está correta, mas acho que transmite uma imagem enviesada da entrevista, ao Observador, de Robert Skidelsky, prestigiado biógrafo de Keynes, que leio com atenção e frequentemente com apreço. Pessoalmente, enfatizo mais a resposta que precede a sua primeira transcrição, verdadeiro libelo contra a permanência de Portugal na moeda única.
«Pergunta: Portugal tem constrangimentos. O investimento não arranca. O setor privado, e não apenas o Estado, está muito endividado. E a redução do investimento público tem sido uma das armas para conter o défice. Como se resolve esta equação?
Resposta: Bem, se o setor privado está a aumentar a poupança e se o setor público está a fazer a mesma coisa, numa situação em que a economia não está sobreaquecida, pelo contrário, cresce muito abaixo do potencial, então esta é, simplesmente, a receita para uma espiral negativa. Portugal não tem dinheiro para investimento? Isto acontece porque o país não pode imprimir dinheiro. Um governo terá sempre condições de financiar um défice se tiver um banco central. A emissão de dívida para financiar um programa de investimentos estará sempre coberta e o crescimento da economia acabará por reduzir o peso da dívida sobre o produto. O problema é que Portugal não tem um banco central. E as injeções de dinheiro do BCE na economia europeia não estão a funcionar. Muito deste dinheiro não é gasto, desaparece na compra de ativos em vez de financiar investimento produtivo. Beneficia os ricos.»
Muito caminho já se fez, quando Siglitz ou Skidelsky respondem assim. Há que continuar a caminhar.
Parece mesmo que o livro de Stiglitz mexeu com o conformismo dos media.
Curiosamente o jornal citado, o Público, tem-se caracterizado por um discurso (ainda) mais agressivo contra qualquer solução que não passe pelo discurso dominante da UE e da sua senda neoliberal.
Um dos maiores problemas é esse mesmo. Romper com o denominado"conformismo dos media". Porque a questão não reside só ai, no referido "conformismo". Os media fazem objectivamente parte do jogo, são parte interessada e constituem pontas de lança avançadas e activas a operar de acordo com os interesses económicos a que estão submetidos e que defendem
O barão Skidelsky tem aposto aí umas frases suas, educadas como é seu timbre.
(Regista-se que desta vez Unabomber tenha identificado de quem são as frases, já que por vezes só tira a máscara depois de ser desmascarado).
Skidelsky defende que a zona euro “Tal como está construída actualmente, não é viável”.
"A zona euro, como um todo, é disfuncional. Sobretudo, implica que nações mais fracas não possam utilizar a ferramenta da alteração da taxa de câmbio.
Mas há outros países que têm défices. O único ajustamento que podem fazer é a desvalorização interna, o que envolve a aplicação de medidas de austeridade e incorrer em riscos políticos elevados, porque há um limite para o nível de austeridade que as populações estão realmente preparadas para aceitar. No fundo, o que o Reino Unido fez, embora não esteja na zona euro, foi olhar para as instituições e não as encarar como ‘sacrossantas’. Se as instituições impõem custos que parecem ser inaceitáveis..."
Para a União
Um Primeiro Ministro
+ Um ministro das Finanças
+ Um Ministro da economia
= Um Banco Central
Um ministro dos Negócios Estrangeiros
Para cada uma das nações constituintes da União
Ministros com pastas sectoriais tais como, infraestruturas, cultura, ambiente, etc
"Não será uma FEDERAÇÃO" mas, a continuar com o EURO, não vejo como é que se poderá resolver o pântano a que se chegou...
Mas Skidelsky identifica outros problemas que outros tentam calar ou ocultar:
"se o sector privado está a aumentar a poupança e se o sector público está a fazer a mesma coisa, numa situação em que a economia não está sobreaquecida, pelo contrário, cresce muito abaixo do potencial, então esta é, simplesmente, a receita para uma espiral negativa. Portugal não tem dinheiro para investimento? Isto acontece porque o país não pode imprimir dinheiro. Um governo terá sempre condições de financiar um défice se tiver um banco central. A emissão de dívida para financiar um programa de investimentos estará sempre coberta e o crescimento da economia acabará por reduzir o peso da dívida sobre o produto. O problema é que Portugal não tem um banco central. E as injeções de dinheiro do BCE na economia europeia não estão a funcionar. Muito deste dinheiro não é gasto, desaparece na compra de activos em vez de financiar investimento produtivo. Beneficia os ricos".
Mas o que defende Skidelsky?
Defendeu que a zona euro devia ser partida em dois blocos. Um seria liderado pela Alemanha, outro teria como referência o Reino Unido. Depois da vitória do Brexit, qual a viabilidade de um cenário como este ficou definitivamente hipotecada.
E defende isto:
"Parece-me que é necessário que exista um país que assuma a liderança e esteja preparado para ser o credor de última instância para seis ou sete países. Mas a Alemanha não está preparada para desempenhar este papel, constantemente. É por este motivo que pessoas como Wolfgang Schäuble [ministro das Finanças alemão] pretendem uma rutura que dê origem a dois grupos, evitando que a Alemanha fique na posição de ser o credor de última instância, para sempre, de outros países. Os membros do euro que não estão a conseguir bons resultados deviam juntar-se e colocar em prática uma política alternativa à moeda única".
Ou isto:
"quando se constrói uma solução coerente sob o ponto de vista económico, os bloqueios políticos podem começar a ser combatidos. E o maior obstáculo político é a Alemanha. A Alemanha fará o mínimo necessário para adiar a crise por um ano, mas não mais, porque não está preparada para ser líder. O papel de líder é o de um governo. Nestas uniões, nas que funcionam como sucede nos Estados Unidos, existe um governo, existe um Estado. E o Estado é responsável pelo bem-estar de todo o país. Isto não existe na Europa. O que existe são 27 [sic] Estados que tentam ser responsáveis perante os seus eleitores".
Mas quando inquirido sobre se "Existem condições para avançar para uma união política?" responde desta forma:
"O que eu receio é que, se tudo isto continuar assim, a oposição política vai continuar a aumentar. Pode vir da esquerda ou da direita, mas um descontentamento crescente e uma desconexão crescente entre as pessoas e as elites complacentes que falam, falam e falam… Mário Draghi diz que vai fazer isto e aquilo, mas ninguém acredita, porque toda a gente sabe que ele não pode fazer nada sem a concordância da Alemanha. Isto vai continuar assim. É um sistema frágil e exposto a choques".
..."Aquilo que enfrentamos, neste momento, é a possibilidade de um novo crash. E isto é a coisa mais provável de acontecer nos próximos dois anos. Não são apenas os bancos que alimentam a ‘caça ao rendimento’, mas também as empresas e os investidores individuais. Vendem os ativos de baixa rendibilidade e em que alternativas vão aplicar o dinheiro? Em ativos de maior risco, o que cria ‘bolhas’, que acabam por estourar. Este é um grande risco para a Europa".
Ou seja Skidelsky defende que os países que não estão a beneficiar com o euro deviam formar um novo bloco. Mas defende o avanço da união política?
Skidelsky fala que a zona euro é inviável. Mas diz que a única forma de superar os problemas que se verificam é a de "a União Europeia, no seu todo, encontrar uma solução para estimular o crescimento económico".
A pergunta que salta à vista é:
Mas que união europeia? A dos dois blocos? Com os seus interesses afirmados e confirmados claramente divergentes? Pelo próprio Skidelsky? E o que resta depois do Brexit?
Pelo que são bem vindos todos os projectos alternativos a este buraco sem fundo que a cada dia que se passa se torna mais patente.
E porque para lidar com mecanismos de submissão há só uma solução. Quebrá-los. Como outrora fizeram os escravos com as suas grilhetas.
Também diziam que estes não sobreviviam sem a canga
O Euro poderá ser uma armadilha que quando se entra dificilmente se pode sair.
A União Europeia está a atravessar uma Gravíssima recessão económica, para o qual os
Eurocratas já demonstraram que não têm qualquer solução, e que está a afectar brutalmente os países do Sul que estão a ver o seu sistema a bancário a entrar numa situação de grande debilidade.
Eu só acredito no Euro, quando.
1. O preço do dinheiro for igual para todos os países.
Isto é, uns comprarem dinheiro, euros, a juros negativos e outros comprarem a mesma moeda a juros de 3%, 4% o 8%, não será possível numa comunidade.
2. Salário igual para trabalho igual em todos os países da comunidade.
Se todos concordam que “a trabalho igual deve corresponder salário igual” porque há divergências de salários tão acentuada entre os países da EU tão acentuada, de 1 para 3 e mais?
Os dois textos de Fonseca e de Sapir são bem interessantes, mas não li ainda o paper cujo link o Jorge Bateira forneceu. Só que, como sempre, sou cético. Permita-me citar o texto de Fonseca de modo mais extenso 'O problema é que o banco central duma pequena economia aberta ao exterior tem muito pouca autonomia para levar a cabo uma política monetária independente. Isto porque, neste tipo de economia, o crescimento significativo da massa monetária leva facilmente ao aumento de importações de bens e serviços e à saída de capitais, das quais resultam subidas das taxas de juro que afectam negativamente o investimento.' Ora, o problema não é apenas o controle de capitais, mas também o controle da inflação que Sapir também salienta como relevante. Eu percebo que o primeiro ajuda no controle da segunda, mas não chega. E se a inflação aumentar, isso obriga a um aumento das taxas de juro, no mínimo para compensar a perda das poupanças (como aconteceu nos anos 80). Depois, como Sapir bem salienta, é necessário que os bancos disponham de fortes reservas financeiras (o que obriga a uma forte recapitalização à custa de dívida pública, imagino que contraída ao banco central) e que sejam 'obrigados' a dispor como ativos de uma quantidade significativa de obrigações públicas (a repressão financeira). Depois, Sapir salienta que a França partiu de um baixo limiar de industrialização. Não é esse exatamente o caso hoje, nem em Portugal, pelo que as situações não são comparáveis e os fortes ganhos de produtividade do pós-guerra nunca mais se reproduziram. Finalmente, e aqui é que a porca torce o rabo, como Fonseca bem salienta, a saída do Euro obriga a que se mantenham os empréstimos do exterior e ninguém imagina que um credor, que vai perder parte daquilo que emprestou, não imponha condições (leia-se continuação da austeridade). Ou seja, o Jorge Bateira terá uma situação de desvalorização, que lhe cria uma 'inflação instantânea' de talvez 12,5% (para usar o seu número), mais uma inflação alta mas controlada (imaginemos à volta de 10%) nos anos imediatamente a seguir ao abandono da moeda única, associada à continuação da austeridade para a manutenção do financiamento externo (o que lhe limita a capacidade de aumentar as prestações sociais, até porque também quer controlar a inflação), mais desemprego causado por falências de empresas com contratos de dívida sujeitos as jurisdições externas. O que isto significa? Perda de rendimentos (já não falo em perda de poupanças) e não será nada difícil que seja superior aos tais 25% que as famílias mais pobres perderam de 2009-2014 e que a Geringonça tanto se esforça por reinstaurar...
A geringonça e o esforço para reinstaurar os rendimentos perdidos?
Ora ainda não se percebeu que não há hipótese de sair deste marasmo com os pés e as mãos atados a este euro e com a chantagem perpétua da UE e do seu directório?
Como alguém aí diz, muito caminho já se fez, quando Siglitz ou Skidelsky respondem assim.
Irremediavelmente começam a vislumbrar-se e com cada vez mais nitidez alternativas a este buraco que é a zona euro. A continuar assim como estamos, estamos condenados a mais do mesmo e a um rastejar perpétuo perante as chantagens da Comissão e dos seus tentáculos.
"Há um golpe em curso. Como no Brasil não se trata de um golpe militar, mas um golpe de pantufas, lento, burocrático, hipócrita.
A opinião pública vem há muito a ser preparada e intoxicada para o aceitar, designadamente através dos meios de comunicação oficiais com destaque para a RTP. O país está em estagnação desde que o Euro entrou em circulação. Com o governo PSD /CDS a economia afundou-se, o PIB teve uma queda histórica, bem como o investimento público e privado. Aumentou dramaticamente o desemprego, a emigração e a dívida pública e nem saímos da situação de défice excessivo. Se se continuasse com a mesma política a situação era hoje bem pior, pois nem sequer teríamos o estímulo do consumo interno no quadro do abrandamento da economia europeia e da forte quebra de importantes mercados das nossas exportações. A que há que juntar as situações apodrecidas do BANIF, Caixa e Novo Banco vindas do governo anterior e os inaceitáveis constrangimentos do défice a limitarem fortemente o aproveitamento dos fundos europeus e portanto o investimento público.
Isto é conhecido.
No entanto continua-se a carregar nas tintas pretas, como se o peso da situação não viesse de trás.
As grandes acusações feitas a este governo , embora nem sempre explicitadas são: a reposição dos vencimentos dos trabalhadores da função publica, modesta, as 35 horas, a diminuição do IVA na Restauração. “O exacto oposto do que deveriam fazer” dizem os agentes da Troika, opinião sempre amplificada por certa comunicação social e pelos bitates dos Schaubles e Dijsselbloens. Só que a opinião destes últimos e as ameaças de sanções da Comissão já tiveram efeito negativo nas taxas de juros sobre a dívida pública portuguesa, factura que lhes devia ser endossada. Pintado o quadro de negro e não se dando saída para o investimento público, o golpe está em marcha e uma das suas etapas decisivas já está marcada para 21 de Outubro. O executante na sombra será o BCE seguindo as orientações mais ou menos explícitas, dos Schaubles e dos Dijsselbloens e contando com as habituais posições à Pilatos dos Holandes, Renzis e companhia.
Antes disso teremos mais uma intensa campanha de preparação da opinião pública que terá o seu auge a 15 de Outubro, com Bruxelas a pressionar e a chantagear com as propostas do Orçamento de 2017 e com as medidas ditas excepcionais em alternativa às sanções e a direita a falar na “teimosia do governo”. Depois da preparação da opinião pública o quadro político será analisado e o BCE ponderará – pois terão sempre que medir as consequências de uma nova crise na UE – crise em Portugal, Espanha, Itália com referendo prometido – perto das eleições alemãs e francesas. Se o clima for favorável o BCE será tentado a sugerir à sua correia de transmissão – a agência de rating canadiana DBRS – a baixar numa primeira fase as perspectivas da dívida portuguesa de estável para negativa com as consequentes aumentos de juros ou mesmo a baixar o rating permitindo o corte de financiamento do BCE. O golpe final de baixar o rating pode ser decidido mais tarde, mas tudo isto feito debaixo da aparência de neutralidade técnica e com a direita em pose pesarosa a justificar a decisão da agência de rating. Na realidade tratar-se-á de uma decisão puramente política visando punir os maus exemplos.
Pode ser que as circunstancias da altura não aconselhem o desencadear do golpe, mas que ele está ensejado, está!
Como afirmou recentemente Stiglitz enquanto Portugal se mantiver no Euro estará sempre sujeito a este tipo de golpes e chantagens e nós acrescentamos: e pressionado a compensar as perdas de competitividade devido ao Euro pela redução dos salários e pensões e com taxas de crescimento ao nível da estagnação.
Saberá o PS tirar as conclusões que se impõem? "
(Carlos Carvalhas)
Caro Jaime Santos
Pelo facto de JSF falar da "dificuldade no acesso ao mercado de capitais", isso não significa que o argumento não seja contestável. Por isso, não se entusiasme com a (imaginada) persistência da austeridade ["a saída do Euro obriga a que se mantenham os empréstimos do exterior e ninguém imagina que um credor, que vai perder parte daquilo que emprestou, não imponha condições (leia-se continuação da austeridade)."].
Mas não tenha pressa porque voltarei ao artigo para discutir o problema da inflação. Até lá, não diga disparates.
Carlos Carvalhas:
Disse: «Saberá o PS tirar as conclusões que se impõem?»
Que, para si, seria propor a saída do euro.
Coisa fácil, pois então!
Pelo menos para os irresponsáveis que nos apontam permanentemente esta «fácil» solução instantânea, pronta a usar a qualquer momento: é só rasgar o pacote e pôr o pozinho numa chávena; acrescentar água a ferver, mexer e tomar.
Nada mais simples.
Isto porque nunca contam ter a plena responsabilidade política de a enfrentar com as suas terríveis consequências.
Lembre-se da situação dramática por que passou a Grécia e do facto de os Gregos terem preferido ficar no euro, quando, aparentemente, ainda teriam razões mais prementes para dele saírem do que nós.
E há duas coisas importantes a considerar na adopção dessa opção:
1.ª- A opinião dos Portugueses, cuja maioria, bem ou mal, quer continuar no euro;
2.ª - As terríveis consequências práticas no dia-a-dia da esmagadora maioria dos Portugueses.
Disso os defensores da saída do euro nunca falam:
- primeiro, porque nunca contam ter de assumir a responsabilidade política de gerir essa situação;
- segundo, porque fazem essa proposta apenas por razões ideológicas.
É evidente que foi um erro a nossa entrada no euro com uma economia e uma produtividade tão fracas e com um capital humano com tão baixas qualificações.
As nossas elites visionárias meteram-nos numa camisa de 11 varas, com o entusiasmo de alguns, a complacência de muitos e a indiferença ignorante da maioria dos Portugueses.
E é evidente que a nossa permanência numa moeda disfuncional nos vai aniquilando lentamente (tal como aos outros países periféricos e mais débeis).
Mas as consequências da saída serão uma bomba atómica que nos mata de uma só vez.
A nossa escolha é entre a morte lenta ou a morte súbita.
Portanto, na minha modesta opinião, resta-nos lutar contra a disfuncionalidade do euro na tentativa de melhorar o possível e aproveitar uma saída o mais ordenada possível quando ela se vier a dar para o grupo de países que não aguentam esta moeda.
Coisa que parece inevitável e que o todo poderoso Schäuble tem na sua mente há muito tempo.
Mas quando tal acontecer veremos os limites do «paraíso» que é o escudo, com o qual vivemos durante 90 anos: não me parece que tivéssemos vivido muito abastados.
Pelo que tenho dificuldades em compreender o entusiasmo dos defensores da saída.
Certamente que o fazem por razões que não têm que ver com o nosso bem estar: apenas por razões político-partidárias.
Gostava de poder penetrar no íntimo dessa gente para ver quanto hipócritas muitas dessas pessoas são, apregoando uma coisa mas desejando outra.
Sair do Euro poderá dar origem a uma inflação galopante a par de outros efeitos perversos. Se ficarmos no Euro poderá haver também uma situação que nos vai levar a uma gravíssima crise económica e social de consequências imprevisíveis que a única coisa que sabemos é que não nos trará nada de bom.é necessário uma terceira via que até à data ainda ninguém apontou.Uma possível solução seria a criação de uma espécie de federação de países da Europa do Sul em completo antagonismo com a Alemanha e seus satélites que colocasse esse país fora do Euro.Terá que haver uma rotura com a Alemanha ou então o impasse será total e haverá uma crise permanente cujo fim não se prevê.
Manuel Silva:
Deixe-se de baboseiras a metro, qual vendedor de banha da cobra, ou de processos de intenção ofensivos
Não são só os comunistas (alguns) que põem em causa o euro. Olhe aqui neste blog que frequenta. E até para muitos como Siglitz.Portanto meta o hipócrita no sítio que lhe convier.
Veja se cresce e se deixa destas alarvidades malcriadas. Pensa que está a falar com crianças?
Caro Jorge Bateira, Eu não me entusiasmo nada com a opinião de Fonseca, limito-me a constatar que ele chamou a atenção para o mesmo ponto para o qual eu já chamei aqui atrasado, e que o Jorge se limitou a despachar dizendo que não havia problema, bastava recorrer às reservas de ouro, que não podemos facilmente vender e que arriscámos a ver arrestadas judicialmente em caso de default (veja-se o que aconteceu com a litigância a que foi sujeita a Argentina em tempos recentes). Para quem não é Economista, eu diria que não está mal... Quanto à questão da inflação, qual é o disparate? O Jorge acredita que num cenário de produção reprimida por falências industriais (você alertou para esse risco por via dos contratos de dívida sujeitos a jurisdições que não a nossa, se bem me recordo) e em que o País disponha de poucas reservas de moeda forte para importar os bens que deixam de ser produzidos, ela não é um risco (e nem falo em hiperinflação)? Não espero convencê-lo da bondade da permanência no Euro (eu próprio acho que é o menor dos males, pelo menos até vermos resolvidos os problemas do setor bancário), mas o que espero é que nos forneça argumentos o mais quantificados quanto possível dos riscos de algo que será sempre um verdadeiro tremor de terra sobre a nossa Economia e de qual a alternativa que apresenta para além dos lugares comuns sobre a necessidade de uma política de inovação (algo com que todos concordámos, estou certo) e para além dos argumentos de autoridade de que A ou B defende isto e aquilo... O Euro foi um erro, mas a questão é qual o plano para se sair dele, porque não se corrige um erro cometendo outros mil...
Caro Jorge Bateira, E, já agora, não resisto à provocação. Será que num futuro artigo o Jorge vai revelar-se de facto um monetarista que acredita que o controle da massa monetária é suficiente para controlar a inflação? Fico ansiosamente a aguardar...
Ao senhor Anónimo das 13h30:
Ao menos podia identificar-se.
O anonimato não é boa companhia para ninguém.
Para além de não tolerar opiniões contrárias, há por aí muito «democrata» assim, também não sabe o verdadeiro significado da palavra hipócrita, que significa apenas que o que a pessoa expressa não é o que pensa no seu íntimo.
Ou o senhor é a pessoa a quem me dirigi, que agora não se identificou, ou é outro seu correligionário que o vem defender em público.
Porque se mostra ofendido quando eu critiquei apenas as opiniões mas não critiquei a pessoa?
Muito menos a ofendi pessoalmente?
Veja como respondeu: «baboseiras a metro» / «vendedor de banha da cobra» / «meta o hipócrita no sítio que lhe convier» / «Veja se cresce» / «se deixa destas alarvidades malcriadas».
Portanto, um verdadeiro democrata, como dizia o Sérgio Godinho na canção «O meu compadre».
«O meu compadre
Que é rico disse-me:
Eu cá sou democrata
Cumprimento as vizinhas
Como pão e sardinhas
Até as como da lata
Que eu cá sou democrata».
Ou se quiser, o aforismo popular também se lhe aplica: «Bem prega Frei Tomás, fazei o que ele diz, não o que ele faz».
O Euro foi um erro e nada indica que o vai deixar de o ser!
Por muito que os euro-fanáticos não queiram ver a realidade cada vez mais adversa ao Euro/ UE a realidade não vai deixar de o ser só porque os senhores não gostam dela.
E não sejam desonestos, se dizem que os anti-Euro são ideologicamente motivados o que serão aqueles que querem manter o Euro a todo o custo? Não serão também ideologicamente motivados?
Os senhores que continuam a defender o Euro são uns derrotistas e miserabilistas, dizem que querem que o Euro continue porque sem o Euro ai Jesus! É o Apocalipse! Mas nada, nada, nada apresentam de alternativo a este infeliz caminho que a sociedade portuguesa está a ser empurrada!
Julgo que é mais ou menos consensual que em caso de saída do euro será "imperativo instituir um controlo dos movimentos de capitais", para de certa forma limitar a saída de capitais "especulativos".
No entanto, lembre-se que o tendencial "aumento de importações de bens e serviços" resultante do "crescimento significativo da massa monetária" (conforme refere JSF)implicará saídas de capital (não especulativo). Nesse caso, resta saber se a desvalorização cambial impulsionará suficientemente as exportações (e alguma substituição de importações) de molde a compensar o valor do tendencial aumento das importações.
A este respeito talvez se deva reflectir um pouco sobre esta parte das respostas de
Robert Skidelsky (no referido artigo "A zona euro é inviável"):
"Portugal tem um problema de competitividade, mas também é verdade que os principais mercados para as exportações também não têm crescido.
Há situações em que a solução de uma taxa de câmbio flexível não é suficiente para usar a solução das exportações com o objetivo de acelerar o crescimento. É o que sucede se os mercados mais importantes estão estagnados.
A única forma de superar os problemas que se verificam é a de União Europeia, no seu todo, encontrar uma solução para estimular o crescimento económico"(...)
Ainda neste âmbito é também interessante o gráfico exibido pelo Ricardo P.M., no programa de televisão indicado pelo J.Bateira, sobre a correlação entre a tecnologia produtiva e endividamento em países da UE (incluindo curiosamente países fora do euro), em que se verifica que quanto menor a tecnologia produtiva maior é o grau de endividamento (pouco importando na correlação se o país pertence ou não à zona Euro).
Ao Sr. Anónimo das 20:42, Não é quem defende a permanência no Euro que deve apresentar alternativas, mas sim quem defende a saída. Dizer que se sai e pronto, fica tudo no melhor dos mundos não convence ninguém sério. É preciso enumerar os riscos e conceber planos de contingência de modo a minimizá-los, apresentá-los às pessoas e depois deixá-las decidir (e aceitar a decisão). E assumir plenamente esses riscos, em vez de contar histórias da carochinha como a de que a saída do RU da UE proporcionaria 350 milhões de libras por semana ao Serviço Nacional de Saúde Britânico. Até agora, não vi ninguém fazer isso. Quando vir, talvez mude de opinião, depois de analisar os ditos planos. Antes, não. E mais, não deixarei de chamar a atenção para o populismo associado a essa atitude. E, já agora, todas as posições políticas são ideologicamente motivadas (como dizia Mário Soares, os estudos só servem para as sustentar), só que nuns casos a ideologia é plenamente assumida e sabemos ao que as pessoas vêm, noutros casos esconde-se por trás de palavras bonitas como o patriotismo (o que naturalmente implica que quem contra tal posição se coloca deve engrossar a categoria dos traidores à pátria). Resumindo, ser-se honesto relativamente àquilo em que se acredita e que se deseja também é um sinal de que se é um democrata...
Sair do euro é tão importante para controlar as importações, como para estimular as exportações (já agora, o turismo também é uma exportação). O crescimento da massa monetária saindo do euro seria na nova moeda nacional e não teria um efeito automático nas importações, uma vez que estas têm que ser pagas numa moeda internacionalmente aceite e, numa primeira fase, pelo menos, a nova moeda nacional não seria convertível. As comparações com a Venezuela e Zimbabwe são absurdas. Portugal pode ter um problema de competitividade, e o Euro está entre os principais dessa falta de competitividade. Mas será que o RU, a França, a Itália ou a Finlândia também não têm problemas de competitividade? E até a Alemanha tem problemas de competitividade (http://europesworld.org/2015/02/23/germanys-sickly-economy/#.V-EY9lJkDQw) Mas Portugal é um país desenvolvido, incomparavelmente mais que a Venezuela ou o Zimbabwe. Tem muita capacidade produtiva por aproveitar.
Meu caro Unabomber, Torna-se difícil criticar as propostas do Jorge Bateira quando faltam pormenores. Devemos abandonar o Euro e permanecer numa banda larga de 30% (ou 50%) á volta da moeda única, como defendeu Otávio Teixeira em tempos? Se sim, iremos precisar de defender a moeda contra ataques especulativos, como refere JFS. Chega para isso controlar os movimentos de capital especulativo (e o que é isso realmente, incluiu os lucros de empresas estrangeiras ou não, o que em caso afirmativo teria repercussões no investimento), sem aumentos da taxa de juro e sem o recurso a alguma forma de ajuda externa, como também refere JFS (que implicaria sempre condições)? Faço lembrar que a queda do preço do petróleo em Angola obrigou o Governo local à introdução de medidas de austeridade, e também à introdução de restrições à exportação de capitais (incluindo lucros das empresas e salários de estrangeiros a viver em Angola). Pois, olhe só onde já vai a inflação em Angola: http://pt.tradingeconomics.com/angola/inflation-cpi. Claro, Portugal não é Angola e não está dependente de um só produto no que diz respeito às exportações. Mas parece-me que o efeito da perda de receitas externas pode ser perfeitamente 'simulado' se uma parte das nossas empresas que têm a sua dívida não sujeita à lei portuguesa entrasse em processo de falência no momento da saída da moeda única e deixasse de exportar (reduzindo a entrada de divisas estrangeiras) e de produzir para o mercado interno (o que obrigaria a substituir os produtos produzidos por importações). E o desemprego aumentaria também. Os economistas até têm um nome para uma situação destas: https://en.wikipedia.org/wiki/Stagflation. Na verdade, a saída do Euro teria efeitos semelhantes a um 'choque de procura', julgo que exatamente o que se passa em Angola. Eu não fiz contas e não conheço os riscos, que dependem da percentagem do PIB gerada pelas ditas empresas em risco sério de falência em caso de saída da moeda única e do número de postos de trabalho ameaçados. Espero que se o Jorge Bateira as fez ou tem acesso a quem as tenha feito, nos forneça aqui o link...
A submissão é o que . Pintá.la com as cores que se quer é um pecadilho usado por todos os que a defenderam e defendem ao longo dos tempos. Ficar amarrado a um destino sem futuro é próprio de quem prefere manter.se na mmediocridade e ir sobrevivendo pq ainda tem lastro para o efeito. Proprio duma burguesia dwcadente e que prefere hipotecar o futuro dos mais jovens através tb de jogadas con os donos disto tudo. No fundo querem a vidinha deles assagurada enquanto se afundam o país e os portugueses
" E assumir plenamente esses riscos, em vez de contar histórias da carochinha como a de que a saída do RU da UE proporcionaria 350 milhões de libras por semana ao Serviço Nacional de Saúde Britânico."
Uma prova de desonestidade.
De desonestidade porque quem disse tal foi um agente de direita que votou pelo Brexit.
Ora ao contrário do que Jaime Santos andou a fazer vender, quem votou Brexit não foi nem só o autor desta frase nem só xenófobos de extrema-direita.
Pelo que a frase mais não é que mais do mesmo. Uma tentativa ínvía e desonesta de fazer passar a sua mensagem que se cria ultrapassada. JS continua a manipular os dados. E esconde a vergonhosa manipulação, a ultrajante manipulação, a abjecta manipulação que todos os grandes interesses económicos fizeram a favor do Remain. Não só na City, como também no Banco de Inglaterra. Não só no RU, como também por todo o directório europeu.
Basta de demagogias baratas e rascas
Portanto se
"nuns casos a ideologia é plenamente assumida e sabemos ao que as pessoas vêm, noutros casos esconde-se por trás de palavras bonitas como o patriotismo "
Mais uma vez não corresponde à verdade. Há testemunhos escritos a dizer exactamente o oposto daquilo que JS diz.
Há casos que se escondem atrás ou à frente. Há quem tente passar ao lado das ideologias. Há quem tente esconder a sua ideologia. Mas o que interessa mesmo é as posições que se defendem e por que se luta.
Porque depois pode-se partir para um outro campo em que as ideologias necessariamente irão estar em confronto.
Mas ainda não foi esclarecida a prova de desonestidade da frase que inicia este comentário. Porque o seu autor original esqueceu-se de acrescentar por um mínimo de coerência que há outros casos que se escondem atrás de palavras bonitas como o federalismo. Ou o europeísmo. Ou a germanização. Ou a Venezuela. Ou o Zimbabué. Ou estórias da carochinha sobre o SNS inglês liquidado por thatcher mas que continuou a afundar-se com a terceira via. (Ou seja o neoliberalismo dá cabo do SNS. Vem a mesma direita depois tentar fazer campanha pelo dito SNS, a tentar corrigir o tiro para efeitos eleitorais. E depois querem colar este imundo processo a quem não lhes segue os passos nem os métodos.
Como se vê lá como cá e cá como lá).
Amigo José M. Sousa:
"O crescimento da massa monetária saindo do euro seria na nova moeda nacional e não teria um efeito automático nas importações, uma vez que estas têm que ser pagas numa moeda internacionalmente aceite e, numa primeira fase, pelo menos, a nova moeda nacional não seria convertível."
- Será que o amigo poderá aqui explicar melhor de que modo o facto da moeda não ser convertível vai obstar automaticamente que os aumentos (eventualmente grandes) da massa monetária não provoquem o aumento das importações.
.....
(Portugal)"tem muita capacidade produtiva por aproveitar":
- Para que tipo de produtos? Produtos com elevada tecnologia? Outros (quais)?
.....
- Será que são minimamente comparáveis os problemas de competitividade de Portugal com os dos países que o amigo indicou?
Unabomber diit:
"Será que são minimamente comparáveis os problemas de competitividade de Portugal com os dos países que o amigo indicou?"
Sejamos honestos. Muito mais comparáveis do que aqueles que andam por aqui e ali a comparar a situação com a Venezuela e com o Zimbabué.
Um mínimo de decência ao menos. E de coerência , já agora
Concordo totalmente com o amigo anónimo das 00.34:
Felizmente que a competitividade de Portugal não é comparável com a da Venezuela e muito menos com a do Zimbabwe.
Um pouco tarde a emenda, mas chegou.
Saúda-se esta posição de Unabomber, ele que andou por aí com a Venezuela e com o Zimbabué, na boca, num exercício penoso, um pouco circense
Bom
A coisa explica-se quase por si própria , se a moeda não é convertível, não tem poder de compra perante o estrangeiro. Por outro lado, a importação de produtos de luxo fica automaticamente mais cara.
Sim, produtos de alta tecnologia. As comparações com o Portugal dos anos 70 e 80 é outro absurdo. Nessa altura tinhamos pouquíssimos economistas, engenheiros e cientistas. Hoje estamos a desperdiçá-los deixando-os sair para a Alemanha e outros.
Sobre a comparação da competitividade com outros países:
Itália: https://yanisvaroufakis.eu/2012/06/03/italys-own-goal-guest-post-by-joseph-halevi/
Finlândia: http://www.telegraph.co.uk/finance/12001895/Finlands-depression-is-the-final-indictment-of-Europes-monetary-union.html
Cito apenas “We are in a similar situation to Italy and have lost a quarter of our industry"
Obrigado José M.Sousa. Pela clareza das suas intervenções
Amigo José M. Sousa:
"A coisa explica-se quase por si própria , se a moeda não é convertível, não tem poder de compra perante o estrangeiro"
- Concretamente o que significa isto?
- Será que (por exemplo) um cidadão que tenha 10 milhões de novos escudo e queira comprar um carro importado que custe 5 milhões de novos escudos, não poderá faze-lo porque a moeda não é convertível?
- E, será que o vizinho do lado, que guardou no colchão 25.000 Euros, já poderá faze-lo?
Amigo José M. Sousa (continuação):
A grande maioria dos produtos importados não são produtos de luxo, pelo contrário, são produtos indispensáveis ao funcionamento da economia e ao bem estar da população - como por exemplo: combustíveis, alimentos, veículos utilitários e pesados, maquinaria, medicamentos e equipamento médico, eletrodomésticos, equipamento informático e eletrónico, etc..
(continuação)
Diz o amigo:
(Portugal)"tem muita capacidade produtiva por aproveitar":
- (Para que tipo de produtos? de alta tecnologia?)
"Sim, produtos de alta tecnologia. As comparações com o Portugal dos anos 70 e 80 é outro absurdo. Nessa altura tinhamos pouquíssimos economistas, engenheiros e cientistas"
Sobre esta sua opinião, deixo aqui as seguintes frases do Ricardo P. Mamede:
"(...) na maioria dos casos, os países levam muitos anos, senão décadas, a especializar-se na produção de alguns bens e serviços.
Em geral, quanto mais sofisticados são os produtos, mais tempo demoram a desenvolver as competências necessárias à sua produção e comercialização.
Esta é, pois, a terceira razão pela qual é importante para o crescimento futuro aquilo que uma economia sabe produzir: simplesmente, nenhum país consegue mudar o seu perfil de especialização num curto espaço de tempo"
Ricardo P.M. (Livro: o que fazer c/este país - subcapítulo: "Quando o que se sabe fazer vale pouco")
Com certeza, mas alguma vez tem que se começar e a questão aqui é que, em Portugal como nos outros países citados, estamos a caminhar no sentido contrário. Estamos a perder indústria e competências por pertencermos a uma área monetária disfuncional que não serve os nossos interesses.
Este senhor dá alguma luz sobre estes processos (políticas de fomento industrial; e suponho que a experiência do Prof. Jorge Bateira nesta área também é muito relevante): http://hajoonchang.net/
Repare, Portugal tem uma razoável taxa de cobertura das importações pelas exportações (se somarmos os serviços aos bens, foi até superior a 100% para 2015, segundo a Pordata – isto também se deve certamente à contracção da economia, mas ainda assim.) A questão, pelo menos no que diz respeito à balança dos bens, é cobrir a diferença – não se está a defender que o país, de repente deixe de importar. Mas há de facto excesso de importação de automóveis (e muitos de luxo, pelo menos para o padrão médio de rendimentos – considero que Mercedes de 50.000 euros para cima, pelo menos (já estou a ser generoso), se enquadram nessa categoria; e um país que estoira tanto combustível, quando devia investir a sério nos transportes públicos (o contrário do que foi feito nos últimos anos – estranha austeridade que não se ocupa destes aspectos), também teria alguma margem aqui.
Quanto aos euros no colchão, essa pessoa não poderá adquirir directamente o tal carro. Terá que cambiar euros por escudos e aí certamente pagará comissões e taxas. Terá que haver regras que dissuadam esse tipo de prática (euros debaixo do colchão), além de que, ao contrário do que sucede hoje, a inflação e os juros reais (juros activos e passivos) serão mais altos, penalizando quem tenha dinheiro debaixo do colchão, até porque o câmbio da nova moeda irá progressivamente recuperar valor face ao euro, se o país for melhor gerido.
Deixemos para lá o exemplo do colchão e do vizinho do colchão porque extrapolar a partir de casos pontuais a este nível é simplesmente querer desconversar.Mas tal serve de alerta, alerta para tomar medidas a tempo e para não deixar cair as coisas de podre como sucedeu com a rendição (traição?) do primeiro-ministro grego.
Indo ao fundo da questão: mais uma vez José M. Sousa põe o dedo na ferida. Vamos para onde? Queremos ir para onde?
"Estamos a caminhar no sentido contrário". É precisamente isso que se passa. E há quem aceite este estado de coisas e há quem não aceite esta morte lenta. O euro beneficia claramente a Alemanha e prejudica a periferia. E só alguém dotado de má fé o pode negar.
A saída para esta UE disfuncional permanece uma tão grande incógnita que faz hesitar os mais sinceros euroipeístas quando se lhes pergunta quais as saídas políticas e económicas para a presente situação. Os pontos de tensão estão aí tão presentes que custa ver como se foge desta forma ao que se passa à volta.
Mas há um outro dado que tem que ser avaliado. Que é esta contínua interferência das "instâncias" supra-nacionais na governação do país. É ver as afirmações inaceitáveis do FMI; é ver as posições chantagistas dos comissários europeus; é ver o desplante asqueroso de alguns dos membros do BCE. A espada sempre por cima do país. E há quem pactue com tal estado de coisas, esquecendo que a questão não é saber se vão desferir o golpe mas sim de saber quando o vão desferir
As coisas atingem foros de esgoto quando se sabe que os mais altos representantes de tais instituições estão metidos até ao pescoço em processos sujos. Desde o caso
Luxembourg Leaks até ao caso de corrupção a que Lagarde está associada. Agora descobriu-se que uma ex-comissária estava metida até às orelhas num desses offshores que sangram os povos e os cidadãos.
E sempre, sempre a sombra da Goldman-Sachs.
Com diria J Bateira há quem opte pelo respeito à soberania nacional e se orgulhe de tal atitude. E há quem...
"Arquivos da Comissão Europeia revelam que havia proximidade entre Barroso e Goldman Sachs"
"Os banqueiros faziam chegar “confidencialmente” ao gabinete de Barroso sugestões de alteração às políticas da União Europeia".
"Ariadne, Aeolos e Atlas: os swaps que afundaram a Grécia"
"Goldman Sachs ajudou a esconder mais de cinco mil milhões de dívida grega, e depois apostou pela sua falência"
Público
"Governo de Durão contratou Goldman para negócios caros e falhados"
"Em 2004 o Goldman prometeu privatizar a Galp e reestruturar a EDP, a troco de um pagamento de18 milhões de euros. As coisas não correram bem. Em 2008 o banco vendeu à Metro do Porto o swap “mais estúpido do mundo”.
(Paulo Pena- Público)
Amigo J.M. Sousa:
(...)"Portugal tem uma razoável taxa de cobertura das importações pelas exportações (se somarmos os serviços aos bens, foi até superior a 100% para 2015, segundo a Pordata – isto também se deve certamente à contracção da economia, mas ainda assim.")
- Conforme refere o amigo, o equilíbrio da balança corrente só foi possível devido à brutal contracção da economia que, entre outras coisas, destruiu muitíssimos empregos.
Antes disso, durante anos a fio, a balança corrente apresentou défices enormes, de 8% a 10% do PIB.
É natural que voltando a expandir a economia os défices regressem, mesmo que (regressem) em apenas metade daquelas percentagens (4% a 5%), representam necessidades de financiamento (em moeda estrangeira) muito elevadas.
E, se depois, não pudermos recorrer ao massivo endividamento externo vai-se colocar a questão:
"A questão, pelo menos no que diz respeito à balança dos bens, é cobrir a diferença – não se está a defender que o país, de repente deixe de importar"
- Como vamos cobrir a diferença? Sabendo que 3% do PIB corresponde aprox. a 5.000 milhões de euros, "proibir" apenas a importação de Mercedes acima de 50.000€ não chega a quase nada, seria necessário "proibir" a importação de uma enormidade de produtos.
Na prática, esta "proibição" corresponderia a mini-racionamento de produtos importados, com todas as consequências que daí resultam.
Parece que Unabomber, no seu afã de tentar vender a ideia de pobrezinhos mas desonrados, ainda não percebeu que o racionamento da vida vem a caminho
Com todas as consequências que daí resultam.
Embora se saiba que quem recusa a ideia que foi a Alemanha que mais lucrou com o euro é bem capaz de só olhar para o lado da UE. Da submissão à UE, claro
De Robert Skidelsky: "A zona euro é inviável":
"Para recuperar o controlo sobre a política monetária, Portugal teria de abandonar a zona euro. Deve fazê-lo?"
R.S.:"Não e não acho que qualquer pequeno país possa fazê-lo.
O Reino Unido é suficientemente grande para poder sair da União Europeia. O Reino Unido não precisa, sequer, da zona euro ou da União Europeia. Precisa de algumas vantagens de ser membro, mas estas espero que venham a ser negociadas durante o processo de saída, apesar de achar que estou, provavelmente, a ser otimista.
Mas Portugal só pode tomar decisões em conjunto com outros países.
Portugal tem de fazer parte de um lobby de países que reclamem uma reestruturação da zona euro, quer nas instituições, quer nas políticas."
O Unabomber argumenta como se estivéssemos a viver no melhor dos mundos: sem emigração maciça nos últimos anos, apenas comparável ao do tempo da ditadura, sem o acesso dificultado à saúde, sem a deterioração de serviços públicos, sem a venda de sectores estratégicos ao exterior (um dia vamos ver as verdadeiras consequências), sem a falência generalizada do sector bancário. Etc., etc.
«A liberalização das importações de automóveis, que se traduziu
num ajustamento de stock, contribui também para a
forte deterioração da Balança Comercial ocorrida em 1988.» Documento do BP
Parece que os argumentos de unabomber estão como ele.
A falhar.
Pelo que há que os repetir, como se tais sucedâneos constituíssem novos dados ao que se debate.
Skidelsky já foi suficientemente escalpelizado e já se viram as suas limitações. Basta ler o que se escreveu a tal propósito. Unabomber insiste como se o papagaio fosse um animal inteligente.
É lá com ele.
Fica mais uma peça para avaliar tal peça.
De Robert Skidelsky: "A zona euro é inviável":
"Para recuperar o controlo sobre a política monetária, Portugal teria de abandonar a zona euro. Deve fazê-lo?"
R.S.:"Não e não acho que qualquer pequeno país possa fazê-lo.
O Reino Unido é suficientemente grande para poder sair da União Europeia. O Reino Unido não precisa, sequer, da zona euro ou da União Europeia. Precisa de algumas vantagens de ser membro, mas estas espero que venham a ser negociadas durante o processo de saída, apesar de achar que estou, provavelmente, a ser otimista.
Mas Portugal só pode tomar decisões em conjunto com outros países.
Portugal tem de fazer parte de um lobby de países que reclamem uma reestruturação da zona euro, quer nas instituições, quer nas políticas."
Amigo José M. Sousa:
Obviamente que todos sabemos que não estamos "a viver no melhor dos mundos".
Não obstante, tal não impede que economistas como José Soares da Fonseca, Ricardo P. Mamede, Robert Skidelsky, e outros, considerem que Portugal não deve, ou não pode, efectuar uma saída Unilateral do Euro.
......
Ninguém coloca em causa a importância que a importação veículos tem na balança comercial.
O que se coloca em causa é o tamanho do "racionamento" de bens que será preciso fazer para equilibrar a balança corrente após uma forte expansão da economia, em resultado da expansão monetária na nova moeda.
Volta o Unabomber a repetir-se
Um processo velho, da velha ordem que dizia que algo mil vezes repetido passava a ter estatuto de verdade.
Segue e soma, coitado.
Quem recusa a ideia que foi a Alemanha que mais lucrou com o euro é bem capaz de só olhar para o lado da submissão à UE.
Como de dar o dito pelo não dito. Como essa de vir tirar a máscara quando já foi desmacarado.
Agora atabalhoadamente vem dizer que afinal o que se pretende é tão só colocar em causa uma saída unilateral do euro. Ou que os veículos importados já não tem importância. Afinal parece que vai mesmo haver uma forte expansão da economia pós-saída do euro e a massa económica com ela
Onde estão aqueles pedaços bem cómicos :
"Será que (por exemplo) um cidadão que tenha 10 milhões de novos escudo e queira comprar um carro importado que custe 5 milhões de novos escudos, não poderá faze-lo porque a moeda não é convertível?
- E, será que o vizinho do lado, que guardou no colchão 25.000 Euros, já poderá faze-lo?"
Terão já sido cedidos graciosamente aos economistas citados para aumentarem o seu nível argumentativo?
(...) "Para ser claro, as consequências de uma decisão UNILATERAL de abandonar a zona euro seriam muito DIFICEIS de GERIR, pelo que tal decisão deve ser EVITADA. Isto não significa que ela deva ser posta de parte em qualquer circunstância, nem que não seja possível o desmantelamento do euro em condições menos penalizadoras (nomeadamente, num processo coordenado a nível multilateral).
Há duas coisas sobre as quais podemos estar certos: primeiro, o quadro institucional do euro tem sido e será desastroso para países como Portugal, pelo que faz todo o sentido debater alternativas; segundo o recurso a argumentos absurdos, visando construir cenários catastróficos, não só não ajudam ao debate público como nos devem fazer desconfiar das razões de quem os utiliza. O debate sobre a permanência de Portugal na zona euro está a ganhar espaço na sociedade. Isso, seguramente, não faz mal nenhum ao país".
De Ricardo Paes Mamede
.......
Diz o superanónimo:
"RPM não precisa nem de tradutores, nem de revisores, nem de mangas de alpaca que façam o corte e costura mais adequado"
- Tem toda a razão o superanónimo, certamente que o Ricardo não precisa de tradutores como o superanónimo: aliás, quem quiser ler uma obra séria sobre a situação da nossa economia sugere-se que leia o livro " O que fazer com este país" (digo isto sem qualquer intuito publicitário)
Se o superanónimo ainda tiver duvidas relativamente à opinião do Ricardo P.M., expressa no comentário de 08 de Setembro de 2016, sugere-se que veja o ultimo programa da RTP3: "os numeros do dinheiro".
16 de setembro de 2016
"Recorde-se que nas duas intervenções anteriores do FMI, em que se teve também de DESVALORIZAR muito o escudo para aumentar a competitividade das exportações portuguesas, e assim aumentar as exportações, foram os períodos em que os trabalhadores e pensionistas perderam mais poder de compra.
Entre 1977 e 1979, 1º período de intervenção do FMI, os preços aumentaram 93%, o salário mínimo subiu 87% e a pensão média da Segurança Social aumentou a
penas 58%.
Entre 1982 e 1984, período de 2ª intervenção do FMI, os preços subiram 98%, o salario mínimo nacional aumentou 54%, e a pensão média da Segurança Social subiu 71%.
Nestes dois períodos, a perda de poder de compra acumulada do SMN foi de 27%!!! e da pensão média de 29%!!!!!.
Foi também nestes dois períodos em que a parte dos salários no PIB mais desceu: 1º período: - 13,1% (queda de 6,7 pontos percentuais); 2º período: - 16,9% (redução de 7,4 pontos percentuais).
E tenha-se presente que não se teve de fazer desvalorizações da moeda de 30%".
(De Eugenio Rosa)
Ahahah.
Ó Unabomber vossemecê é mesmo uma delícia.
Vai mais uma para o seu historial de homenzinho à procura de espaço e de propaganda. De forma muito pouco transparente mas enfim.
Mas esperávamos que dissesse algo sobre os carros e os milhões e a expansão e as outras tretas que debita desta forma tão papagueada.
Terão já sido cedidos graciosamente aos economistas citados para aumentarem o seu nível argumentativo? E ficámos nós sem direito a ouvir tais tais preciosidades?
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