quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A retórica da reacção


Num livro editado já há uns bons anos entre nós com um título diluído, O Pensamento Conservador, o saudoso economista político Albert Hirschman analisou “a retórica da reacção”, indicando que esta tipicamente tem assumido ao longo da história contemporânea três modalidades argumentativas mais ou menos complementares: perversidade – a mudança produz consequências contrárias às pretendidas –, futilidade – no fundo, nada muda – e risco – a mudança tem consequências negativas em ganhos anteriormente obtidos.

Face à possibilidade de um governo apoiado pelas esquerdas, na retórica da reacção lusa, e para lá da irracionalidade, tem dominado a modalidade do risco, seguida pela da perversidade. Entretanto, começo a notar que, aqui e ali, a modalidade da futilidade vai fazendo o seu caminho: é muito menos provável que as coisas mudem, ou, melhor, que a direcção das coisas mude no essencial, do que mudem aqueles que querem mudar a direcção das coisas, afiançam. Dado o seu conhecimento das objectivas estruturas de constrangimento europeias e dos seus efeitos, estou em crer que é nesta modalidade que os sectores mais ilustrados da sabedoria convencional, reaccionária ou não, irão cada vez mais apostar e é nesta modalidade que as nossas atenções devem estar mais seriamente concentradas.

8 comentários:

Jose disse...

A dominante progressista é tão só isso mesmo: estigmatizar com palavras ofensivas tudo o que lhes limite delírios e devaneios.

E dessa retórica sustentam seus egos...

Anónimo disse...

Jose
Como sempre muito atento e muito rápido no gatilho das palavras
é pena é nunca dizer nada de jeito para lá da K7 do costume e de alguns perdigotos e insultos
depois raramente fala das questões levantadas
deves ser muito infeliz e amargo pois para ti na vida só há uma via e também não deves ter vida, pois passas todo o tempo aqui à coca de mais um post dos "esquerdalhos" para denunciar as "tretas"
tadito...vê se arranjas gaja, mas de jeito

Anónimo disse...

"a modalidade da futilidade vai fazendo o seu caminho"
O maior argumento a favor desta modalidade advém da análise do percurso de Tsipras. Talvez Varoufakis contribua, ao vivo, para reforçar ainda mais este argumento. Certamente ao contrário do que Varoufakis pretende, mas ainda assim a favor desta modalidade.

Carlos disse...

Caro João,
Pois, de facto essas "objectivas estruturas de constrangimento europeias" são o maior obstáculo para qualquer mudança. No fundo, o PS ao aceitar essas mesmas estruturas limita as possibilidades de qualquer alternativa. A esperança que alguns no PS têm é que, com falinhas mansas e palmadinhas no ombro, talvez se consiga alguns efeitos positivos para Portugal. Estou céptico. Mas há que dar uma chance porque, em todo o caso, a via seguida pela Direita Radical (PaF), o ir além da Troika, já deu provas mais do que suficientes do Desastre Social a que conduz. Pelo que: pior não é possível! A estratégia do PCP e do BE será desmarcarem-se do governo do PS (e a Catarina Martins já deu a argumentação: "estamos conscientes da nossa força eleitoral, o governo é do PS, não é o nosso, nós faríamos de outro modo, etc"), mas ambos sabem muito bem que, se deixarem cair o governo do PS a meio da legislatura, irão ser fortemente punidos numas próximas eleições. Assim irão fazer tudo para que esse governo PS cumpra o seu mandato.

Anónimo disse...

"O ponto de honra para o PS é poder ter, para levar ao Presidente da República, um acordo que garanta a estabilidade, mas que também tenha presente a necessidade de restrições orçamentais. Um deles é colocar o país fora do procedimento de défice excessivo ..."
http://www.ionline.pt/artigo/417320/ps-quer-programa-comum-pcp-acordos-pontuais-?seccao=Portugal_i

As negociações com o PCP e o BE deviam precisamente ter começado por este ponto específico. O problema não é a NATO, a permanência no Euro (em abstracto), ou o Tratado Orçamental (em abstracto). O problema está no concreto: "... colocar o país fora do procedimento de défice excessivo ...", ou seja, que o PCP e o BE estejam dispostos a aceitar viabilizar medidas orçamentais neste sentido que, da parte do PS, não serão de natureza muito diferente das da Coligação (talvez no grau). Medidas essas que correm o risco de ser consideradas "austeritárias" pelo PCP e BE, logo inaceitáveis.

Em vez de perder tempo com o acessório (deste ponto de vista) era urgente que PS, PCP e BE decidissem rapidamente se convergem nesta questão.

meirelesportuense disse...

Se os velhos Socialistas soubessem o quanto a Direita gosta deles até emigravam...Manuel Alegre, Mário Soares, António Arnaut, Jorge Sampaio.Se soubessem como são apelidados pelos potenciais votantes da PAF até gemiam de vergonha por terem sustentado durante tantos anos estas políticas.E António Costa não escapa -ai se ele soubesse- assim como não escapou Guterres -de todo- ou por exemplo o José Sócrates.

meirelesportuense disse...

-É, os Políticos não prestam, só se querem Governar, mas eu voto sempre nos mesmos!
-Votar nos outros para quê, são todos iguais, só querem tacho, mas eu voto sempre nos mesmos e faço questão de convencer todos os outros a votar neles!
-Mudar as coisas é uma Utopia, não sejam românticos, não se consegue mudar nada, os Homens são assim, por isso eu voto sempre nos mesmos!

meirelesportuense disse...

-O pai da noiva recusada por ser má figura, foi finalmente libertado!
A razão talvez seja compreensível porque o ex-noivo, necessita hoje, de dinheiro fresco para poder casar com a filha do cristão-Novo que mora ao fundo da rua no lado direito e para pagar a renda da casa onde irá habitar e a poder sustentar.