«Não entrámos na bancarrota em 2011 porque houve uma Europa Solidária, uma Europa composta de muitos países, muitos deles mais pobres do que Portugal. Com subsídios de desemprego que valem muito menos que os nossos; com um PIB per capita, com uma riqueza por cada cidadão, muito menor do que nós temos; com um Estado Social menos avançado do que o nosso - onde não há saúde para todos. Foram muitos desses países que nos ajudaram a vencer as dificuldades.»
(Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, na Festa do Pontal)
A propósito deste excerto do discurso do primeiro-ministro na rentrée laranja, vale a pena ler na íntegra o artigo de Pedro Adão e Silva no Expresso de ontem (e que o Câmara Corporativa disponibiliza aqui). Aí se assinala, muito oportunamente, que:
a) No que concerne à Europa (excluindo portanto a contribuição do FMI), o resgate português foi financiado por dois mecanismos, o MEEF e o FEEF. O primeiro «assenta em fundos dos mercados financeiros garantidos pela Comissão, com o orçamento comunitário como colateral». O segundo mecanismo é assegurado pelos dezoito países membros da zona euro. O que significa, portanto, que «a solidariedade europeia é parcialmente assente numa garantia dada pelo orçamento da União, que tem como contribuintes líquidos doze estados-membros» (entre os quais a Dinamarca e a Suécia, que não pertencem ao euro). Isto é, Portugal beneficiou de um suporte financeiro, sob a forma de empréstimos, que é assegurado por dezoito «países membros da zona euro, mais dois países escandinavos».
b) Entre os vinte países que nos «ajudaram», apenas a Espanha e a Grécia (que também não são, tal como Portugal, contribuintes líquidos da UE) tinham, em 2011, taxas de pobreza superiores à do nosso país (18%). Em linha, aliás, com o PIB per capita: «enquanto a média da União é de 27.500 euros, em Portugal é de 19.400, a menor dos vinte países (inclusivamente inferior ao valor grego)».
c) Sendo a questão do subsídio de desemprego mais difícil de comparar (dada a significativa variabilidade dos esquemas de protecção), e «apesar de a relação salário/subsídio em Portugal ser generosa no contexto europeu (consequência dos baixos salários)», a verdade é que «mais de metade dos desempregados não têm protecção e o valor médio mensal do subsídio é muito baixo (€460)». E se «pensarmos em qualquer outra prestação social, Portugal perde na comparação».
d) No campo da saúde, todos os países da União Europeia têm sistemas universais, «apesar da diversidade de prestação de cuidados e dos modelos de financiamento (nuns casos impostos, noutros contribuições para a Segurança Social). Em Portugal, 66% do total da despesa em Saúde é assegurada pelo Estado, um valor mais baixo do verificado na UE27 (73%).»
Pedro Adão e Silva assinala, ainda, uma outra diferença: muitos dos países a que Pedro Passos Coelho se referiu no discurso do Pontal «têm primeiros-ministros que sabem do que falam». O que deixa no ar uma outra questão: quantos militantes e simpatizantes de outros partidos social-democratas europeus permitiriam este tipo de insulto, mesmo que em contexto de comício, à sua inteligência?
4 comentários:
Não é líquido que militantes partidários tenham inteligência para poder ser insultada.
Mas é absolutamente líquido que esta frase acima é de um simpatizante de doutrinas totalitárias/fascizóides. Manifestação do ódio à diversidade de opiniões na sociedade civil de que os partidos são os representantes mais legítimos.
Deixar passar este tipo de opiniões incólumes é pactuar com o que um melhor que eu chamou "a ditadura dos palermas", até estarmos prontos para uma nova erupção de ditaduras preparadas ideologicamente por estes idiotas úteis.
Diria mesmo mais: deixar afirmações palermas como as proferidas no Pontal pelo Primeiro-ministro de Portugal incómules é pactuar com o que um melhor do que eu chamou "a democracia dos palermas", até estarmos prontos para uma nova erupção de ditaduras preparadas ideologicamente para estes democratas inúteis.
JGC
Pedro Passos Coelho é de facto a versão fedorenta e salazarista do PSD. Ele que é nem mais nem menos que um filho do Estado Social e que por isso em vez de estar agradecido, cospe na mão que o alimenta.
Talvez quem o educou lhe tenha ensinado mal as regras da boa educação onde se inclui por ex,a gratidão, a rectidão, e a verdade(esta tão mal tratada por este mal agradecido filho do Estado Social).
Se não foi falha de quem o educou, então muito grande foi a falha da JSD(que também educa mas sabe-se hoje que muito mal os seus apaniguados).
Seja como for este exemplar da Juventude do PSD é de facto um exemplo que não se recomenda, tantas e tão grandes e tão graves são as suas constantes piruetas.
A demagogia e a mentira neste triste exemplar da Juventude do PSD (donde melhor, aliás, também não se podia esperar) é de facto a sua intrinseca natureza.
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