Partilho a angústia do Ricardo quanto ao futuro da União Europeia. E vejo essa angústia ampliada por documentos como o recente Livro Verde, apresentado pela Comissão Europeia, intitulado «Modernizar o direito do trabalho para enfrentar os desafios do século XXI». Sob o mote desse novo chavão chamado flexisegurança, o documento não passa de uma permanente defesa da necessidade de flexibilizar o mercado de trabalho europeu. Deixo só duas notas sobre o seu conteúdo que me impressionaram particularmente: 1- a desvalorização explícita dos contratos colectivos de trabalho (como se o contrato de trabalho fosse um contrato de relações de poder entre iguais!); 2- a ausência de qualquer discussão sobre a protecção social aos desempregados (a parte da segurança!!!).
Na linha deste brilhante artigo do Habermas, acredito que o modelo social europeu (nos seus muito variáveis desenhos) é o principal património partilhado pelos europeus, podendo servir de "cimento" identitário a uma maior integração. Infelizmente, com documentos como este, vemos a União Europeia a corroer os seus próprios alicerces.
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3 comentários:
Numa democracia onde as aparências, os outdoors e a eloquência é que elegem os líderes, numa democracia sem ideais, baseada na especulação e nas sondagens, não ademira que se usem "palavras mansas" para designar o neo-liberalismo.
Se o tal livrinho verde falasse abertamente em "liberalização do mercado", "flexibilidade no trabalho e redução das regalias sociais", "menos estado social", "privatização dos serviços públicos" e "capitalismo", não tinha qualquer hipótese na Europa.
"Flexisegurança" é um termo inventado para que os europeus aceitem melhor este projecto político de liberalismo económico.
E provavelmente vão aceitá-lo.
Custa-me ver um continente que tem
- mão-de-obra em abundância (até pelos imigrantes que vêm para cá)
- produtos em abundância,
- poucas desigualdades sociais,
- qualidade de vida muito acima da média mundial,
enveredar por um sistema de mais trabalho, mais sacrifícios, mais concorrência, tudo em nome de uns supostos "desafios do século XXI".
Porque é que a Europa quer ser a América, assim de repente?
A Europa, ao dizer que quer estar "ainda melhor" mostra egocentrismo e até algum desrespeito pelos países que estão tão mal.
E não culpem mais uma vez os EUA. Se a Europa deixar de ser Europa, a culpa será, de uma vez por todas, nossa. Porque deixamos passar estas medidas.
Viva o "European Way of life"!
Concordo e subscrevo, camarada Nuno!
Marcuse advertiu para o perigo destes eufemismos que se tornaram, creio eu, ainda mais vulgarizados. It's diplomacy stupid!
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