segunda-feira, 30 de abril de 2007

A ignorância "Liberal" (II) - Os velhos espectros ainda metem medo

Embora a Helena Matos pareça um poço de erudição ao pé do João Miranda, recomenda-se aos dois este ciclo de conferências (via Bitoque). Para algum esclarecimento histórico.


Só a resiliência histórica do socialismo pode explicar postas como esta. O velho fantasma parece ainda meter medo a muita gente.

12 comentários:

L. Rodrigues disse...

Falando de liberais ignorantes, vocês que são economistas sabem-me dizer até que ponto Polanyi é conhecido por cá? E se não valia a pena editar "The great transformation" em Portugal, já que que eu saiba a única edição na lingua é brasileira.

Hayek até em livros aos quadradinhos aparece. Estou farto de ouvir "Hayek isto e o hayek aquilo..." Dir-se-ia o Nosso Senhor do LIberalismo, o que faz sentido sendo aquilo matéria de fé.

Nuno Teles disse...

Caro L. Rodrigues,

Acho que o contacto com o Karl Ponalyi em Portugal depende da sorte de cada um com os professores que teve. Lembro-me do Prof. João Caraça defender que "A grande Transformação" era imprescindível para "um economista culto" ;).

Entretanto, por cá, vai-se fazendo algum do trabalho sobre Polanyi. Por exemplo, aqui (em inglês):

http://dinamia.iscte.pt/uploads/
files/wp27-2002.pdf

Quanto às edições, a lista de livros a publicar em Portugal é interminável e penso que os ultra-liberais têm tanta razão de queixa quanto nós. Enfim, se a "Teoria Geral (...)" do Keynes não está editada, acho que temos que esperar até chegarmos ao Polanyi.

L. Rodrigues disse...

Estou a ver... fica na categoria da literatura especializada... mercados pequenos, e tal. Obrigado pela resposta.

A. Cabral disse...

Resta tambem saber qual e' a vantagem das traducoes. Preferia antes que o mercado de importacao do livros fosse mais acessivel ao bolso.

Miguel Madeira disse...

Ao que sei, há dois exemplares da "Grande Transformação" na biblioteca do ISEG - não sei se são traduções ou na língua original, nem seu se são os únicos em Portugal.

Nuno Teles disse...

a.cabral:

Acho que as traduções são valiosas. Uma boa tradução e um bom enquadramento teórico permitem uma enorme divulgação do autor em causa graças não só ao simples facto de se encontrarem os livros nos escaparates, mas também pela publicidade que acompanha qualquer novo livro.

As edições brasileiras são obviamente uma alternativa, mas são muitas vezes (pelo menos para mim) de difícil leitura para um português e realmente muito caras.

L. Rodrigues disse...

Eu obtive o meu exemplar na Amazon UK, caso haja interessados.

A. Cabral disse...

nuno teles,

Nao sei se estes textos podem ter entendimentos de massas. Tanto a Grande Transformacao como a Teoria Geral nao sao textos que se leiam bem, quer porque sao de prosa tortuosa quer porque tem de ser lidos na medida das varias interpretacoes que motivaram.

A maioria dos intelectuais luso-brasileiros sabe uma ou varias linguas estrangeiras, porque nao ler o original ou uma traducao a bom preco?

Podem me acusar de elitista (va, acusem!), mas parece-me que um texto de divulgacao ou de polemica sobre a Grande Transformacao, desenhado para o publico, pode valer mais que uma traducao do texto original. E com a vantagem de impor criacao e actualizacao, no lugar da devocao beata ao texto original. (Afinal todos temos os classicos em casa, mas sera que alguem os leu? Nao estarao la para conforto e moldura cultural?)

João Rodrigues disse...

Percebo o que dizes A. Cabral. Embora deva dizer que a GT é de leitura bem mais fácil do que a TG. Agora é preciso ter cuidado com as popularizações. Vê o prefácio do Stiglitz à edição de 2000 da GT. Até parece que nem leu o livro.

Acho que há vantagens evidentes em proporcionar a leitura do original. E já agora fazer um esforço para realizar um enquadramento histórico e intelectual. O John Stuart Mill está a ser muito servido em Portugal.

Já que estamos em matéria de traduções quero recomendar o que julgo ser a única coisa publicada do K. Polanyi em Portugal. Chama-se a "Ilusão da Economia". Saiu numas edições do jornal Público e da Sá da Costa em 1999 com uma tradução de luxo do Pedro Tamen (o do Proust). Em 60 páginas estão lá todos os temas do Polanyi: a critica à mentalidade de mercado, à teoria económica convencional e à ficção mercantil que procura instituir, o papel da reciprocidade, a recuperação de um conceito substantivo de economia à Aristóteles...

Se forem a alguma feira do livro usado procurem bem...

A. Cabral disse...

"Agora é preciso ter cuidado com as popularizações."

Porque? Porque nao respeitam o original? E se nao respeitam o original quem e' arbitro das interpretacoes? Ha so' uma?

E porque e' que a "minha" popularizacao feita com ideia do presente (da sua linguagem e seus debates) e' pior que o texto do Polanyi?

Gosto de textos a cheirar a fresco.

João Rodrigues disse...

Não há árbitros. E é bom que haja múltiplas interpretações. E que da conversa se possam apurar as melhores...

Por exemplo, quando o Stiglitz diz que as ideias do Polanyi são interessantes, mas que os economistas têm hoje conceitos mais robustos para identificar as falhas do mercado, eu posso dizer que essa forma de ver as coisas distorce os objectivos que o Polanyi traçou para a GT.

O Polanyi não andava atrás de falhas de mercado, O Polanyi andava atrás da ficção grosseira que procura reorganizar a sociedade à luz de uma certa ideia de mercado. O Polanyi queria o socialismo democrático e cooperativo. Quando alguém prefacia a GT para vincar as suas opções teóricas e políticas sem se engajar na prática com a obra, eu posso dizer que se trata de uma má poularização do Polanyi. Ou não?

A. Cabral disse...

Pois, mas sera que interessa recuperar a intencionalidade do Polanyi? ou o entendimento do debate intelectual de ha 50 anos?

Parece-me mais interessante e dialogante dizer:
1. o Stiglitz tem esta leitura do Polanyi que provavelmente e' aquela que um economista comum tera ao ler o livro. E' tambem a leitura que historicamente muitos economistas deram ao livro. E nesse sentido e' um livro meio morto, que nao tem muito a acrescentar.
2. ha uma outra leitura, a tua (e compinchas), que localiza na obra temas ainda actuais e interrogacoes que ficaram por responder.

Qualquer das interpretacoes e' legitima, uma e' pautada pelo conforto de obra que se le por identidade historica, a outra e' a da leitura de trabalho e de polemica. E nenhuma e' inata no texto. Portanto acho que nao precisamos de Polanyi em mais linguas, precisamos de divulgacoes e de polemicas.