domingo, 28 de dezembro de 2025

Insistir no diagnóstico errado e na solução que, por si só, não funciona

A tendência que se desenhava há cerca de um ano converteu-se entretanto numa evidência incontornável: desde que o governo da AD tomou posse, a subida dos preços da habitação acelerou a um ritmo sem precedentes. Entre o 1º trimestre de 2024, com o anúncio eleitoral dos incentivos à procura, e o 3º trimestre de 2025, o Índice de Preços da Habitação (IPH) aumentou cerca de 27%, valor nunca atingido em períodos idênticos anteriores, desde 2009.


Em termos homólogos, trata-se não só da maior subida anual desde que há dados (17,7%), mas também do maior aumento face à variação homóloga anterior (7,9 p.p.), confirmando assim que o efeito de aceleração de preços se acentuou em 2025. Em linha, de resto, com o aumento da avaliação bancária de imóveis, que atingiu um novo recorde em novembro (2.060€ por m2) e a maior variação homóloga anual (18,4%), desde que o INE publica dados (2011).

A ideia de que a atual crise de habitação traduz apenas um mero problema de escassez de oferta - bastando construir mais e dispensando quaisquer medidas de regulação das dinâmicas especulativas associadas às novas procuras - continua a prevalecer no debate público. Mesmo quando essa ideia é contrariada pela realidade. De facto, o aumento gradual da construção de alojamentos nos últimos anos (de cerca de 7 mil fogos em 2015 para cerca de 25 mil em 2024), não teve qualquer efeito na estabilização dos preços, que continuaram a aumentar.

Por isso, e ao contrário do que afirma o ministro Pinto Luz (com as suas rendas moderadas de 2.300€), nada indica que seja «o incentivo do mercado» a fazer baixar os preços, sendo por outro lado difícil perceber em que elementos se baseia o ministro Castro Almeida, adepto da mesma tese (a crise resulta de uma mera falta de casas) e da mesma lógica de incentivos, para assegurar que «vão começar a sentir-se diferenças» no preço das casas no final de 2026.

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