Tenho andado a colecionar as frequentes tiradas elitistas da «esquerda brâmane» em Portugal, termo cunhado por Thomas Piketty e coautores para dar a ver o afastamento em relação às classes populares maioritárias daquilo que passa por elite diplomada, cada vez mais dominante na social-democracia ou nos ecologistas com bombas e sem luta de classes nos países do Atlântico Norte. Em Portugal, o Livre é o partido da esquerda brâmane por excelência.
O resto do artigo pode ser lido no AbrilAbril.
Caro João,
ResponderEliminarO seu artigo aparenta descrever esquerda brâmane como algo negativo. Contudo,
1- Tanto quanto sei, e pelo o que demonstra, o João tem bastante educação e certamente que é de esquerda. Contudo, não me parece que se rotulasse como esquerda brâmane.
2- Talvez o João se rotulasse como esquerda brâmane de acordo com o artigo citado, mas também certamente que Álvaro Cunhal também o faria.
Que o Livre e o Rui Tavares não sejam particularmente de esquerda, acho que isso é claro. Que o Livre e o Rui Tavares tenham merecido o voto de muita gente educada, e menos educada que queira se libertar da tirania do capitalismo, e ache que é um passo em frente, talvez seja algo que não seja mau lembrar. Tentar usar adjectivos com conotação negativa por estes camaradas talvez não seja o caminho.
Eu não creio que o Rui Tavares se "queira livrar da tirania do capitalismo'". Essa é a questão!
Eliminar@ Manuel,
EliminarCunhal nao tinha ilusoes sobre a natureza da classe social de onde ele proprio emergira. De si proprio disse Cunhal que era "um filho adoptivo do proletariado" - ou seja reconhecia a partida os seus inatos instintos para favorecer uma ordem burguesa porque nasceu e cresceu no seio da pequena burguesia portuguesa do inicio do Sec XX. A grande diferenca entre lideres dos movimentos socialistas do Sec XX face aos actuais lideres do "centro-esquerda" e que as actuais liderancas que tomaram esses partidos nao se olham ao espelho e nao contactam as classes que dizem representar. Alias, se o Manuel ler o livro de Pikety onde a expressao Esquerda Bramane e primeiro cunhada vera que Pikety faz uma critica semelhante: Pikety diz que a esquerda moderna ao inves da esquerda, digamos dos anos 50/60 ja nao atrai voto por via da magnitude e tipo de rendimento do seu eleitorado (baixos rendimentos dependentes do trabalho) para se transferir para um "eleitorado identitario" onde o principal factor preditivo da intencao de voto sao as habilitacoes escolares.
A critica a esta esquerda Bramane e que ao deixar de se auto-reconhecer como "filha adoptiva do proletariado", perde nocao da realidade no limite torna-se irrelevante no campo politico. Julga-se "representativa do classe media" quando na realidade representa apenas os interesses de certas fraccoes da pequena burguesia. Negam a natureza opressora e exploradora inerentes ao sistema de producao capitalista - essencial para a sua continuada existencia alias - enquanto lamentam a exploracao e opressao mitigada que a "classe media" (como eles lhe chamam AKA pequena burguesia) experimenta.
Convencem-se que termos como "trabalhador", "trabalho", "capitalista", "burgues", "guerra de classes", "classe social", "proletariado" sao anacronicos.
Um erro crasso que se pagou e paga caro na forma da regressao social em curso.
O problema e que talvez como resposta ao paternalismo inerente a pratica das elites socialistas do inicio do sec XX como Cunhal que se reconheciam como "minoria esclarecida" mas que serviria de guia a maioria numa alianca proletariado/ pequena-burguesia - paternalismo que degenerou em corrupcao. A resposta da esquerda dita mais moderna consiste em tentar recriar essa alianca proletariado/pequena-burguesia tentando fazer do proletariado "filhos adoptivos da pequena-burguesia". Ora a historia revela que agora em vez de corrupcao teremos aniquilacao com esta estrategia.
E ninguém está a "adjectivar negativamente" os equivocados eleitores do Livre. A "conotação negativa" é dirigida, exclusivamente, ao Tavares & Cia. Lá está: "jamais confundir o povo com os inimigos do povo. Nunca cair na tentação de odiar o povo».
EliminarEnquanto certa esquerda sectária não perceber que o óptimo é inimigo do bom, e que maus vale unir esforços para conseguir, pelo menos, os ganhos para as classes trabalhadoras que são transversais a toda a esquerda, a direita esfrega as mãos de contente. Muito se conseguiu em 2015 quando fizeram um esforço incipiente, mas muito mais se teria conseguido se PCP e BE tivessem exigido estar no governo e assumir verdadeiro poder e responsabilidade. Infelizmente, um e outro preferiram manter-se puros, esquecendo que poder sem ideologia é perigoso, mas ideologia sem poder é fútil.
ResponderEliminarA ideia é a coisa mais poderosa do mundo. Não há exercício do poder sem ideologia e é perigoso imaginar o contrário. Abraçar a má ideologia, só para estar no "governo" é muito mais que não "manter a pureza" ideológica. É admitir que melhor é impossível. E isso é, apenas, errado.
EliminarRevisionismo historico puro: o pau para toda a obra dos incompetentes.
EliminarQuem sabotou a Gerinconca diligentemente de 2018/19 para a frente foi o PS na ansia da maioria absoluta.
Anónimo: é a sua opinião. Respeito, mas discordo. A política é a arte do possível, não do ideal irrealizável.
EliminarLowlander: continue a iludir-se e a manter-se puro.
A Arte é uma coisa linda. Mas, o "possível"? O "realizável"? Atenção à falsa consciência e ao seu inevitável corolário "do mal, o menos". A sugestão de adaptar o preferível ao "possível", colaborando objectivamente com quem estreita o campo das possibilidades, explica a inutilidade e, até, a contra-indicação do Livre na defesa dos interesses da classe trabalhadora.
EliminarEu veja a coisa deste modo: ou há Social-Democracia, ou a Democracia propriamente dita degenera no primado dos demagogos e da demagogia sobre o populacho imbecil em que os seus críticos sempre afirmaram que ela havia de degenerar. Resumindo e concluindo, não há democracia sem social-democracia. E a social-democracia acabou.
ResponderEliminarA Social-Democracia, em especial a de pendor liberal encerra em si mesma contradicoes que so podem redundar no colapso da democracia.
EliminarHa uma contradicao fundamental entre o ideal democratico e o ideal do liberal.
Democracia pressupoe a definicao de um universo eleitoral, tem de se definir a prior onde estao os limites da jurisdicao de uma democracia. E por isso mesmo que so existe democracia no seio do Estado Nacao. Isto tem um nome feio para muitos: exclusao. A democracia pressupoe exclusao de muitos para dar voz politica a outros num determinado espaco. Leia-se historia.
Ora a ideologia liberal pressupoe que todos sao iguais. Que a voz de todo e cada um e igual e tem igual valor. Que sera a discussao de ideias - todas as ideias de todo e cada um - que gerara um consenso - o tal "consenso liberal" - e que determinara a melhor forma de guiar a sociedade. No limite, o liberalismo defende a abolicao de fronteiras politicas e a abertura do debate a todos.
Esta contradicao e irreconciliavel.
É ao contrário: a "social-democracia" não é causa, é consequência . A coisa foi uma concessão que o capitalismo foi abrigado a fazer, para sobreviver em democracia. A democracia não é essencial ao capitalismo e o capitalismo' não é, de todo, essencial à democracia. São essencialmente opostos.
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