segunda-feira, 31 de março de 2025

Ideias ricas


Em resposta a mais uma denúncia sobre o papel dos financiamentos milionários na política liberal até dizer chega, houve liberais que perguntaram de forma singela: qual é o mal? 

Para um liberal, reconheço que não há mal nenhum. Para um democrata, o mal está no impacto antidemocrático das desigualdades económicas cavadas geradas pelo capitalismo sem freios e contrapesos à altura. 

De facto, os mais ricos encontram cada vez mais formas de transformar riqueza em influência político-ideológica, seja financiado direta e indiretamente partidos, seja financiando toda uma infraestrutura intelectual com nomes em inglês e tudo, seja controlando meios de comunicação social, seja oferecendo prebendas a uma elite do poder cada vez mais venal. 

E nem é preciso falar do agigantado poder estrutural do capital, por via de mecanismos como a ameaça de fuga, num contexto com décadas de liberalização. 

Num autêntico círculo vicioso, os mais ricos promovem a sua agenda de redistribuição, de baixo para cima, dos rendimentos, da riqueza e logo do poder, ou seja, da liberdade: redução da progressividade do sistema fiscal, inflação dos direitos patronais e correlativa deflação dos direitos do trabalho, privatizações sem fim, rendas sem fim, transferências orçamentais sem fim... 

A alternativa, como sempre, é tentar organizar a resistência, portadora de alternativas, num contexto enviesado, sabendo que quem não quiser falar de capitalismo neoliberal, deve calar-se sobre as tendências neofascistas assim geradas.

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