Na imprensa económica, Javier Milei tem merecido elogios pela contenção da taxa de inflação argentina. Ao fim de um ano de governação, em dezembro, a taxa de inflação mensal foi de 2,7%, o que contrasta com a taxa de 25,5% registada no mesmo mês do ano anterior, como foi assinalado pela revista The Economist, onde se pode ler que as medidas de Milei tiveram um efeito "dramático" sobre a taxa de inflação.
No entanto, este não é o único dado relevante apresentado no artigo: "Os preços de alguns produtos essenciais, dos quais dependem as famílias mais pobres, subiram de forma desproporcional desde que Milei assumiu o governo. [...] A eliminação dos subsídios aos transportes e energia significa que os preços dos bilhetes de autocarro e comboio aumentaram de mais de 300%. Os preços da eletricidade e do gás dispararam em 430%".
Quando se olha apenas para o valor da taxa de inflação, não se tem em conta as diferenças na evolução dos preços de diferentes produtos ou serviços. Por outras palavras, ao olhar para a evolução média dos preços, não se tem em conta a variância. Como os padrões de consumo variam consoante o rendimento das pessoas, há subidas de preços que afetam mais uns grupos do que outros. Tipicamente, a subida dos preços em bens ou serviços essenciais (energia, alimentos, transportes, etc.) tendem a prejudicar mais as pessoas que ganham menos, uma vez que gastam uma parte maior do seu salário nestes bens.
A eliminação dos subsídios públicos por Milei é parte de uma vaga de cortes nos serviços públicos, que tem tido consequências severas para a sua qualidade em áreas como a saúde, a educação ou a investigação científica. Além disso, a austeridade também contribuiu para acentuar a crise em que o país se encontrava: na primeira metade de 2024, a economia contraiu mais do que se esperava e a Argentina entrou em recessão técnica, com o desemprego a aumentar. É difícil ignorar os custos sociais da política económica de Milei. Nesse sentido, o artigo da The Economist termina com uma conclusão razoável: "A tolerância do público para crescimento baixo e desemprego e pobreza elevados não durará para sempre, mesmo que a inflação tenha sido mitigada".
Caro Vicente Ferreira, e demais Ladroes:
ResponderEliminarhttps://billmitchell.org/blog/?p=62308
O aumento das taxas de juro do BCE para combater a inflacao teve efeitos... inflacionistas! Diz um relatorio... do BCE!!!
O Japao, passou todo este episodio inflacionista com taxas de juro negativas e controlou melhor a sua inflacao que todas as outras economias ditas avancadas juntas.
A inflacao caiu a pique sem aumento de desemprego ou recessao - sinal claro de que NAO foram as taxas de juro que induziram esse comportamento - a teoria economica ortodoxa falhou nos seus proprios termos.
Agora o BCE...
Como e que e possivel assistir-se a uma falha grosseira de politica economica, assistir-se a uma falha grosseira da generalidade dos bancos centrais no cumprimento das suas "raisons d'etre", de se assistir a uma falha grosseira e de proporcao gigantesca das teorias centrais da "ciencia economica ortodoxa" sem qualquer registo mencionavel nos media de massas?
Caros Ladroes: mexam-se caramba! Usem o poder que tem!
Os eleitores não comem macroeconomia, e são geralmente indiferentes aos parâmetros macroeconómicos que lhes são apresentados. Com uma excepção: detestam, detestam de verdade, a inflação. E detestam-na mesmo quando é acompanhada de um aumento proporcional nos rendimentos nominais, porque estes parecem prometer uma melhoria na capacidade de compra que acaba por não se verificar. Esta aversão à inflação talvez explique o benefício da dúvida que os argentinos estão a dar a Milei, e a disponibilidade para viverem pior agora em troca de viverem melhor no futuro. Mas quanto tempo estarão os argentinos dispostos a esperar por esse futuro? E o que acontece se ele nunca chegar?
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