segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Da luta pela democracia


No sábado, fomos muitos, muitos mil a gritar: “justiça para Odair” ou “vida justa, estamos fortes”. O contraste ético-político com o viva a morte da escumalha fascista, na ordem das dezenas, não podia ter sido maior. A democracia, a vida justa para todos, defende-se na rua, de forma militantemente antifascista. 

Ontem, entrei numa livraria e dei de caras com um livro marcante, traduzido com quase três décadas de atraso, da autoria de Christopher Lasch (1932-1994), um historiador e crítico norte-americano. O leitor português não tem direito a uma introdução contextualizadora e enquadradora, numa obra publicada postumamente, em 1996, naturalmente datada aqui e ali, escrita tomando por referência sobretudo o contexto dos EUA, com um olhar por vezes demasiado nostálgico em relação ao passado democrático. Às vezes até é melhor não ter introdução à edição portuguesa, dados os frequentes atentados intelectuais, da deturpação ao pretensiosismo. 

Lasch soube precocemente que a desdemocratização é um projeto de elites crescentemente globalistas, um processo com um conteúdo de classe evidente, em sociedades com fracturas socioeconómicas e culturais crescentes. O perigo não vem das massas, não vem das classes trabalhadoras enraizadas, pelo contrário, vem mesmo de cima, incluindo do apoucamento elitista e ideológico do Estado nacional, sem o qual não há democracia. Esta e outras pistas importantes dão à obra a sua atualidade, digamos. 

O saudável populismo democrático de Lasch contrasta com preconceitos antigos, propagados por elitistas como Ortega y Gasset, um dos muitos liberais que permaneceu silencioso e pretensamente equidistante quando era necessário lutar contra os fascismos, por exemplo ali entre 1936 e 1939. Houve liberais que fizeram pior, claro. Não se pode contar com os liberais no sentido continental do termo.

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