sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Políticas erradas agravam a crise

O Expresso dá hoje nota de que os «preços das casas nunca subiram tanto como no 2º trimestre». De facto, tal como já tinha sido assinalado aqui, trata-se não só do maior aumento trimestral desde que há dados (2009), como se assiste a uma inversão da tendência de redução do ritmo de aumentos, que vinha a registar-se desde o segundo trimestre de 2023. Ao que acresce, ainda, como demonstra também o semanário, a descolagem crescente dos preços da habitação face aos rendimentos das famílias, desde 2014.


Deste artigo do Expresso, a ler na íntegra, é possível retirar duas ou três notas importantes, que vale a pena reter.

Por um lado, a subida registada, que ocorre nos primeiros três meses do governo de Luís Montenegro, não reflete ainda medidas como a isenção de IMT e Imposto de Selo (nem a garantia pública a partir de hoje em vigor), na compra da primeira casa por jovens até aos 35 anos. Contudo, como refere Rafael Ascenso (Porta da Frente), o simples anúncio destas medidas «veio mexer com o mercado», considerando que «a mudança de uma política mais restritiva, como a anterior, para esta, fez com que tanto compradores como promotores estivessem mais ativos».

Na mesma linha, outros agentes imobiliários ouvidos pelo Expresso constataram um aumento da procura e de preços na sequência do anúncio das medidas, traçando o seu perfil: «pessoas que não estariam abrangidas pela medida e investidores que se posicionaram no mercado antecipando um novo boom na procura por parte dos jovens», acrescentando que «de forma geral, o aumento de preços quase anula o desconto nos impostos decretado pelo Governo para os jovens».

Ora, tendo estas e outras medidas do governo (nos retrocessos ao nível do Alojamento Local, por exemplo) um efeito contraproducente, é de facto expectável que os preços continuem a subir. Isso mesmo assinala Ricardo Amaro, economista na Oxford Economics, ao Expresso: «ao facilitarem o acesso ao crédito por parte de jovens e reduzirem os custos extra associados a uma compra», trazendo «mais compradores para o mercado» e aumentando «o valor que alguns estão disponíveis a pagar», estas medidas «não baixarão os preços».

As políticas e os seus sinais contam. O retrocesso do atual governo de direita em matéria de habitação, em sintonia programática, aliás, com a IL e o Chega, não só não resolverá, como agravará, a crise habitacional que o país atravessa.

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