segunda-feira, 22 de julho de 2024

Uma história da presente política económica


A política económica deste governo é a versão periférica, 13.0, da Reaganomics. Com este governo não se negoceia. Este governo tem de ser combatido nos planos social, político e ideológico, sem separações artificiais, antes com fusões espontâneas. A espontaneidade tem sempre de ser organizacionalmente cultivada, como sabemos da leitura atenta de Hayek. 

Dado que a lógica é a mesma, talvez valha a pena recuperar, pela enésima vez, a formulação do economista social-democrata John Kenneth Galbraith (1908-2006), feita na origem, em 1982, sobre a Reaganomics 1.0: “Os pobres não trabalham porque têm demasiados rendimentos; os ricos não trabalham porque não têm rendimentos suficientes. Expande-se e revitaliza-se a economia dando menos aos pobres e mais aos ricos”.

Dois anos depois do falecimento do pai, James Kenneth Galbraith publicou The Predator State: How Conservatives Abandoned the Free Market and Why Liberals Should Too. Um liberal é a versão born in the USA de um social-democrata na Europa. Neste livro, o economista social-democrata defendeu que a Reaganomics 1.0 conciliou a redistribuição regressiva de rendimentos com algum crescimento económico, graças aos maiores défices orçamentais da história dos EUA, o que apodou de “keynesianismo para ricos”. 

Os défices foram o resultado da baixa de impostos aos mais ricos e do reforço do investimento no complexo-militar-industrial (o chamado keynesianismo militar) e no complexo prisional racializado, que viu o número de presos explodir desde aí (o chamado keynesianismo penal). 

Tratou-se de usar o Estado, que retinha e retém amplos poderes, para restabelecer a autoridade plena dos negócios privados, eliminando os poderes compensatórios, dos sindicatos a formas de regulação contrárias à lógica das forças de mercado, que o mais eficaz e justo “keynesianismo progressista” tinha criado. 

A contrarrevolução conservadora beneficiou de uma condição político-ideológica nova dos anos 1980 em diante: “o keynesianismo progressista perdeu força política quando o marxismo deixou de ser ameaçador”. Quem me lê sabe que esta é uma hipótese que reputo de fundamental para compreender a história deste nosso sombrio presente. 

Em 2024, nesta periferia acorrentada ao euro e às suas regras orçamentais, haverá apenas redistribuição regressiva do rendimento. Não é keynesiano quem quer, mas sim quem pode.

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