Ainda sobre os resultados dos exames, a fraude dos rankings na comparação entre o ensino público e o privado e as poucas boas análises que se vão fazendo nesta matéria - e que contrastam com as habituais parangonas preguiçosas - vale a pena regressar ao texto de Diogo Camilo (Rádio Renascença) a que já se fez referência aqui.
Se dúvidas houvesse em relação à inflação de notas no privado - cuja diferença face ao público quase desaparece quando se comparam as médias internas com os resultados dos exames (passando-se de uma diferença de 2,2 valores para 1,0) - a distribuição claramente anómala das classificações internas dos alunos do privado deveria ser suficiente, logo à partida, para dissipar tais dúvidas.
Não é expectável, de facto, que a distribuição do número de alunos nas classificações internas (0 a 20), seja a de um contínuo crescente (ensino privado) e não a tendência para uma concentração em valores intermédios (ensino público). De facto, se no privado a moda corresponde à classificação de 20 (a que é obtida mais vezes, por 21% dos alunos), no público é de 17 (com apenas 6% a atingir a nota máxima). Nas três melhores notas (18 a 20), o ensino privado concentra 57% dos seus alunos, mais do dobro dos alunos da escola pública com essas classificações (25%).
Diferenças que se desfazem, como referido, quando todos os alunos são submetidos à mesma prova (exames nacionais), evidenciando a vantagem artificial de partida dos alunos do privado, mas que não deixa ter peso na classificação final de conclusão do ensino secundário, com reflexos, por exemplo, no acesso ao ensino superior. E mesmo que, mais tarde, venha a demonstrar-se que a escola pública prepara melhor os alunos para a universidade. Até desse ponto de vista, e para lá da intolerável iniquidade, os ganhos do privado são só aparentes.
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