domingo, 14 de julho de 2024

Tempo, tempos


Viva o 14 de julho de 1789, hoje feriado revolucionário em França. Há uma semana, milhares de pessoas estavam imensamente expectantes e logo ficaram imensamente felizes. Algumas choraram, assim que foram conhecidas as primeiras projeções à boca das urnas nas eleições francesas. Estavam reunidas na praça da Batalha de Estalinegrado, em Paris, quartel-general dos insubmissos que fizeram frente. 

Em França não se esqueceu que a Batalha de Estalinegrado decidiu a Segunda Guerra Mundial, que o sacrifício do povo soviético deu o contributo decisivo, livrando-nos de grande parte da “escumalha fascista”. O povo português continuou a tarefa, do outro lado do continente, quase três décadas depois. 


Há duas ou três semanas, vi um episódio de um banal documentário norte-americano sobre a Segunda Guerra Mundial. Lá se falava de Estalinegrado, como se tivesse sido menos importante do que o desembarque na Normandia, mas dando a palavra a uma veterana da batalha. De lágrimas nos olhos, esta cidadã sublinhou o patriotismo soviético. 

Na passada segunda-feira, vi uma foto do meu historiador favorito. Eric Hobsbawm (1917-2012), aos 19 anos, estava em Paris, a apoiar a Frente Popular, num desfile. Tinha fugido da Alemanha para Inglaterra, com a tomada do poder pelos nazifascistas. 


Em Tempos Interessantes, a sua autobiografia, publicada em 2002, este marxista dizia pertencer “à era da unidade antifascista e da Frente Popular”, que “continua a determinar o meu pensamento estratégico em política”. Aí alertou de forma presciente: 

“Dez anos depois do fim da União Soviética, é possível que o medo tenha voltado (...) Graças ao enfraquecimento da social-democracia e à desintegração do comunismo, o perigo vem dos inimigos da razão; fundamentalistas religiosos, etnotribais e xenófobos, entre eles os herdeiros do fascismo (...) O mundo ainda se arrependerá de, perante a alternativa formulada por Rosa Luxemburgo – o socialismo ou a barbárie –, ter preterido o socialismo.” 

Estamos sempre a tempo do socialismo, incluindo contra a barbárie que vem dos EUA.

4 comentários:

  1. Caro Joao Rodrigues,
    A batalha de Estalinegrado nao decidiu a IIGM. Foi a Uniao Sovietica quem ganhou a guerra para os aliados, mas nao foi em Estalinegrado.

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  2. Isso mesmo, caro João, a batalha de Stalingrado, a maior e mais sangrenta de toda a história humana, foi, de facto, o momento mais decisivo e, precisamente, o grande ponto de viragem na Segunda Guerra Mundial.

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  3. Bom dia João Rodrigues.
    Por mais que possa parecer tonto, gostaria que os seus textos aqui na "Ladrões de Bicicletas" fossem um pouco mais longos.
    Talvez por identificar-me com as suas opiniões, fico sempre com vontade que desenvolva mais o seu pensamento.
    No texto sobre a obra de Gramsci, faltou no contexto português identificar a obra "Gramsci A cultura, os subalternos, a educação", com introdução e tradução de Rita Ciotta Neves.

    Continuação de bom trabalho, Ana Pereira.

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  4. Muito obrigado, Ana Pereira, pela referência e pelo incentivo.

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