Tenho um primo que há muitos anos começou a trabalhar numa empresa por turnos. Trabalhava 4 dias por semana, descansava 4. Os horários em rotativos. Manhã, tarde, noite. Os dias de descanso nunca davam para recuperar da exaustão e do jetlag permanente. Não aguentou.
Tinha um colega na universidade, trabalhador-estudante, que também tinha a semana de 4 dias, na Tyco em Évora. Também por turnos. Começou a descompensar e com graves problemas de saúde física e mental. Esta vida quebra os homens. Fica mais difícil organizarem-se e resistir.
Isto da semana de 4 dias é muito bonito, mas se é para avançar, falemos de aumentar salários, diminuir jornada semanal de trabalho e acabar com a desumanidade do trabalho noturno e por turnos, a não ser quando seja absolutamente necessário, e não para fazer batatas fritas.
Ainda a propósito desta discussão, estamos preparados para discutir o encerramento do comércio aos domingos e feriados, como propõe o CESP? Debates contemporâneos sobre avanços civilizacionais não se fazem sem isto.
Um dos problemas de certa esquerda é não conhecer a fundo as questões relacionadas com a mais importante, do ponto de vista económico-político, das relações sociais, a que determina quase tudo o que uma imensa maioria social pode fazer nas, e com as, suas vidas. Daí as propostas genéricas dessa esquerda: ou se foge da relação laboral (através do RBI, por exemplo) ou se propõe a semana de quatro dias como panaceia geral.
Em sociedades de assalariamento generalizado, a liberdade começa pela redução da jornada de trabalho, sabemo-lo a partir do país distante, o que mostrava ao resto do mundo um dos seus futuros.
É preciso fazer mais análise concreta de situações laborais concretas, até para chegar a propostas mais robustas para o Estado social (sistema que só é coerente se articular trabalho organizado e com direitos, serviços públicos e segurança social universais e política económica de pleno emprego). A luta de classes democrática exige toda a robustez.
Uma coisa é a semana de 4 dias, outra completamente diferente é o horário por turnos, que é sabido não ser bom para a saúde. Confundir os dois não serve os interesses dos trabalhadores nem contribui para a credibilidade da esquerda.
ResponderEliminarTambém histórias pessoais são a forma mais fraca de evidência, úteis para para exemplificar, e para quando não se tem mais nada, mas fracas para demonstração de um ponto,
Por falar em credibilidade da esquerda, esta seria um factor importantíssimo para ajudar os trabalhadores a terem o retorno a que têm direito.
O texto em análise, ao referenciar casos concretos, pretende ilustrar uma realidade que atinge milhares de trabalhadores. Não pretende por isso atomizar e individualizar casos excecionais, ao contrário, dimensiona e humaniza uma situação presente e que deve ser contemplada na questão da semana de 4 dias, em paralelo com outras dimensões da condição laboral, tal como aponta o texto do João Rodrigues.
ResponderEliminarAssim se credibilizará a discussão necessária sobre este assunto.
Trata-se de definir prioridades. O que é, de facto, urgente: ressuscitar a contratação colectiva ou falar em semanas de 4 dias?
ResponderEliminarE essa do RBI só lembra à esquerda de trazer por casa! Desligar as noções de trabalho e rendimento é coisa de liberal com iniciativa...
No contexto de retrocesso que é o nosso, rbi e semanas de 4 dias só poderão ser cavalos de troia para intensificar a exploração. Aquilo que dá músculo ao trabalho no confronto com o capital, como a contrataçao coletiva, é que deveria merecer prioridade das forças que supostamente defendem a dignidade de quem trabalha.
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