quarta-feira, 19 de junho de 2024

Reacionários até dizer chega


A ideia é evitar que em Portugal possa haver situações em que quem não trabalha tenha rendimentos dados pelo Estado que favoreçam a situação de se manter como está em vez de fazer procura activa de emprego e de trabalhar (...) não pode haver pessoas a ganhar mais por subsídio de desemprego ou por prestações sociais do que se estivessem a trabalhar.

A ministra que não é do trabalho, mas sim do capital, repete o fraudulento mantra neoliberal, revelador do projeto de classe, tão bem resumido há mais de 40 anos por John Kenneth Galbraith, economista social-democrata norte-americano: “Os pobres não trabalham porque têm demasiados rendimentos; os ricos não trabalham porque não têm rendimentos suficientes. Expande-se e revitaliza-se a economia dando menos aos pobres e mais aos ricos”. 

Somem a redução do IRC que está sendo planeada, por exemplo, à conversa reacionária da ministra e têm a mesma lógica de sempre: redistribuir de baixo para cima. 

Entretanto, vale a pena dizer mais três ou quatro coisas.

Em primeiro lugar, o subsídio de desemprego não é dado pelo Estado, é um direito que resulta dos descontos de quem cria tudo o que tem valor. 

Em segundo lugar, o subsídio de desemprego não cobre integralmente o rendimento perdido, longe disso. Tem por função garantir rendimento, reduzindo o desespero e a compulsão que podem levar o trabalhador a aceitar reduções ainda mais substanciais no salário num futuro emprego. Assim se atenua a possibilidade de círculos viciosos, com salários ainda mais baixos.    

Em terceiro lugar, o Governo aproxima-se do Chega, com quem sabe que pode ter maioria nesta área, incluindo à boleia da conversa: os pobres, de quem se deve desconfiar, não querem trabalhar, porque ganham muito, ouça.

Em quarto lugar, o Governo pretende perverter a lógica do subsídio de desemprego, usando-o para subsidiar salários. Assim se promove o patronato mais medíocre.
 

3 comentários:

  1. No quarto ponto penso que o objectivo é fazer o desempregado aceitar salários mais baixos.

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  2. Diria, e eu não sou de esquerda, que o quarto ponto merece de facto reflexão.

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  3. O salário mínimo não dá para sobreviver e é algo que este energúmenx do Ferraz, todos os anos se opõe ferozmente, depois à a mentira descarada, ninguém "ganha" mais de subsídio de desemprego ou de prestações sociais do Estado, mas este não sabe ou não quer saber, porque nunca teve a remuneração mínima.

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