domingo, 17 de março de 2024

Da miséria do «jornalismo» dominante


A questão é mais que superficial, quase nem chegando a ser um fait-divers. Mas ao mesmo tempo é bem ilustrativa do jornalixo que temos, e que tem entre os seus desportos favoritos a campanha constante de descredibilização das instituições, e muito em particular do Governo. O «"jornalismo" politizado» a que se referia Pacheco Pereira no Público de ontem, «que começa de manhã, depois circula o dia todo nas rádios e televisões e, por muito que isso indigne os próprios, é hoje maioritariamente, e muito, de direita».

Sim, o jornalismo que, nos últimos anos, como assinala Pacheco Pereira, recorreu muitas vezes a «casos pontuais para “alimentar”, dia após dia, a ideia da “crise”, mesmo quando «as estatísticas mais sólidas [não] confirmavam a [sua] agudeza». O jornalismo em que esteve «sempre presente a ideia, às claras ou subliminar, de que a “crise” se devia à “ideologia estatista” contra os privados», em que «muitos dados pertinentes, como seja a comparação entre os tempos de espera dos hospitais privados e os públicos, nunca tiveram nenhum papel na “informação”».

O caso é ridículo, mas ilustrativo. Numa notícia sobre o novo Cartão do Cidadão, Rodrigues Guedes de Carvalho (ver aqui), esperto até dizer chega, faz notar que a foto escolhida para ilustrar o novo cartão é o de uma mulher com aspeto jovem, mas com 74 anos, considerando a data de nascimento (1950). «Bastava ter um nadinha de atenção antes de enviar a imagem», diz Guedes de Carvalho, acrescentando que «todos gostaríamos de saber o segredo da juventude», antes de se referir às novidades que traz o novo cartão, «além de fazer boas cirurgias plásticas».

E pronto, o número de demonstração da incompetência, no denegrir como forma de vida e atitude profissional, está feito. Nem lhe terá passado pela cabeça contactar o Ministério da Justiça para obter esclarecimentos, podendo ter como resposta que a incongruência era intencional, para que se percebesse que o cartão não se referia a nenhuma pessoa real (porque se assim fosse haveria igualmente polémica, por se exporem os dados de alguém que existe). Como não o refere, supomos que não terá perguntado, nem sequer pensado nisso. Mas não importa, o objetivo não é propriamente informar, pois não?

4 comentários:

  1. Este carvalho preferia que o cartão tivesse a fotografia do Francisco pinto Balsemão.

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  2. E é com fair divers ainda por cima discutíveis, desde que seja para dizer mal que se faz o nosso jornalixo. Para que mais é que estaremos guardados.

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  3. É a mesma SIC que em Janeiro, numa das notícias de abertura do Jornal da hora de almoço, entrou em directo com uma repórter que estava num Hospital da grande Lisboa (não me recordo agora qual) para, pela enésima vez nessa semana, nos mostrar o "caos" dos Hospitais públicos, numa fase do Inverno em que estavam a existir muitos casos de Gripe A.

    Infelizmente para eles, a repórter relatou que os constrangimentos estavam resolvidos e o dia estava a ser normal, apesar desta ainda ter tentado entrevistar populares e lhes ter perguntado se tinham lá estado uns dias antes, quando, efectivamente, existiram tempos de espera prolongados, ao que eles responderam que não e que tinham sido atendidos depressa. Foi azar.

    Vimos a mesma táctica na TVI e CMTV, que foram várias vezes para hospitais que já tinham anunciado com antecedência que as Urgências iam estar fechadas naquele dia apenas para entrevistar pessoas chateadas pelo facto de as Urgências estarem fechadas naquele dia.

    Não quero com isto dizer que não há problemas sérios no SNS, mas é bastante claro o objectivo destes orgãos de comunicação em estarem constantemente em directo dos Hospitais com problemas de falta de pessoal, sempre a repisar o mesmo assunto, dia após dia.

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  4. Numa altura em que em várias partes do mundo há jornalistas ( verdadeiros) a arriscarem a vida pelo direito à informação e liberdade de expressão, em Portugal opta se pela desinformação

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