quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Vermelho é cor


No debate na FEUC, em que confrontei o fascista e os liberais até dizer chega, tive a oportunidade de falar de política de habitação, sublinhando que, com 2% de habitação social no total, Portugal está bem abaixo da média da UE (9%), já para não falar da “liberal” Holanda (29%). Aproveitei para referir de passagem a experiência de Viena de Áustria. Repito então o que já aqui escrevi sobre essa experiência com história intelectual e política.

Como é que se diz PREC em alemão austríaco?

Sabem qual é o maior senhorio da Europa? É o município de Viena, que resistiu à privatização dos anos 1980 e 1990, mantendo e expandindo o parque público, hoje com centenas de milhares de casas de rendas controladas (mais de metade do total), fazendo desta cidade um oásis de segurança e de liberdade sociais. Não há outras formas decentes de segurança e de liberdade. 

Tudo começou há um século na “Viena vermelha” liderada pelos austro-marxistas do partido social-democrata. Tendo vivido em Viena, nos anos vinte, Karl Polanyi escreveu sobre este socialismo municipal, considerando-o o maior avanço moral e cultural desse tempo no seu livro clássico de economia política histórica. 

De tal forma que os liberais só conseguiram bloquear esta grande obra social a ferro e fogo, com o expediente fascista. Este foi apoiado por Ludwig von Mises, que chegou a consultor do ditador Engelbert Dolfuss: Mises é um economista político liberal que o Chega e a IL têm hoje explicitamente por referência, tal como os intelectuais bolsonaristas no Brasil. Está tudo ligado, estão a ver? E tudo começa pela retórica.

Um dos maiores blocos de apartamentos, confortáveis e elegantes, com amplos jardins, porque as classes trabalhadoras merecem o melhor, tem o nome de Karl Marx. Está lá uma placa a assinalar os que aí tombaram a resistir ao fascismo em 1934. A Viena vermelha “acabou por sucumbir ante o ataque de forças políticas poderosamente sustentadas por argumentos puramente económicos”, afirma Polanyi em A Grande Transformação. A derrota não foi definitiva, no entanto. 

Temam sempre os “economistas puros”.

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