quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Um jornal com boas questões


No seu discurso de encerramento do Congresso do Partido Socialista (PS), em 7 de Janeiro de 2024, o seu novo secretário-geral, Pedro Nuno Santos, trouxe algumas novidades ao debate político português. Uma das mais marcantes, numa crítica mais ou menos velada a décadas de política económica, foi a ideia de que Portugal precisa de ser mais selectivo no apoio público à actividade económica, apostando em sectores mais dinâmicos, tecnologicamente mais avançados e com maiores margens de lucro. Assim se permitirá salários melhores e maior receita fiscal para financiar serviços públicos. Enquanto a direita alertava para a sovietização da economia portuguesa, a proposta de Pedro Nuno Santos parece, de alguma forma, seguir o actual zeitgeist de política económica nos Estados Unidos e na União Europeia.

«Bidenomics», «neoindustrialização», «homeland economics», «New Deal verde», «economia guiada por missões» são algumas das expressões recentes que procuram dar conta das mudanças na forma como o Estado intervém na economia, tendo como centro a política industrial. Uma realidade nunca totalmente abandonada pelas economias mais desenvolvidas, mas pervertida e escondida pelos mantras neoliberais das últimas décadas. O propósito comum é agora o do desenvolvimento das forças produtivas em determinados sectores, considerados estratégicos, que, como argumentado por Pedro Nuno Santos, tenham efeitos de arrastamento na restante economia, sejam estes as energias renováveis, a electrificação de processos produtivos ou os microprocessadores. Como em qualquer mudança paradigmática de política económica, são muitas as variações geográficas deste novo activismo público, mas todas elas passam pela flexibilização das regras orçamentais que limitam a despesa pública, pela ressurreição da política comercial, com a protecção destas indústrias nascentes via barreiras alfandegárias e regulatórias mais ou menos veladas e pela reconfiguração da política monetária, de forma a apoiar o crédito aos sectores escolhidos.

Nuno Teles, A política industrial voltou?, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, fevereiro de 2024

Se Nuno Teles não vem ao blogue, o blogue vai até ao professor de economia da Universidade Federal da Bahia, na bela cidade de Salvador, em pleno Carnaval. É o melhor artigo que conheço sobre a lógica da nova política industrial na presente conjuntura político-ideológica nacional e internacional.

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