Como já aqui assinalado, a edição de 2022 do PISA, a mais relevante aferição internacional das literacias dos alunos a Matemática, Leitura e Ciências, ficou marcada pelo impacto generalizado e «sem precedentes» da pandemia (termo a que recorreu a própria OCDE). Não tendo os alunos portugueses ficado imunes a esse impacto, registando também descidas significativas nos resultados, o comentariado de direita (ou próximo dela) assumiu uma tarefa: relativizar o impacto da pandemia, para tentar estabelecer, à força, uma relação entre a queda de Portugal e a política educativa.
«Os nossos alunos de 15 anos pioraram mais do que a média dos outros países da OCDE em todos os domínios», escreveu Miguel Herdade. «A queda portuguesa não é um caso isolado, mas quando comparamos com a média da OCDE, a nossa queda é 6 pontos superior a Matemática e 5 pontos superior em Leitura e Ciências», referiu Pedro Freitas. «Apesar de o trambolhão nos resultados ser generalizado, o que reflete a catástrofe educacional da pandemia, em Portugal foi pior», garantiu Susana Peralta. «A queda dos alunos portugueses foi mais acentuada do que a queda média da OCDE: -15 pontos em Leitura e -20 pontos em Matemática. Esta constatação sugere que algo correu pior em Portugal», remata Alexandre Homem Cristo. Com nuances, o coro foi uníssono.
Importa lembrar, desde logo, que os resultados de Portugal no PISA de 2022 estão alinhados com os da OCDE. A Matemática, o mesmo valor obtido à escala daquela organização (472 pontos). A Leitura, Portugal (477) com um ponto acima da OCDE (476). A Ciências, um ponto a menos para Portugal (484). O que significa que, na média das três literacias, Portugal e a OCDE registam exatamente o mesmo valor em 2022: 478 pontos.
Em termos de variação dos resultados entre 2018 e 2022, por outro lado, não basta dizer, como Alexandre Homem Cristo, que a queda de Portugal é de 15 valores a Leitura e 20 a Matemática. Importa referir, nesse contexto, e para não escamotear o impacto da pandemia, quanto desce a OCDE (cuidado que teve Pedro Freitas). E perceber, assim, que as diferenças face à organização (-5,9 pontos a Matemática e -5,3 pontos a Leitura) não são estatisticamente significativas, como se constata na página da OCDE e assinala o João Marôco (que daí infere, contudo, a conclusão inversa). Ao contrário do que sucede com países como a Alemanha, França, Finlândia e Países Baixos, entre outros à escala da UE, cujas diferenças permitem falar, aí sim, em quedas relevantes face à da OCDE.
Deduzimos então que os resultados dos alunos portugueses foram bons e que não nos devemos preocupar pois as políticas educativas para a escola pública estão no caminho certo... Ou não queremos ver a realidade ou queremos tapar o Sol com a peneira...
ResponderEliminarNão, cara Margarida. Diria que devemos deduzir que, fundamentalmente, os resultados dos alunos portugueses foram afetados pela pandemia com um impacto em linha com a OCDE. Quanto às políticas educativas, e na medida em que as mesmas têm procurado valorizar o desenvolvimento das competências dos alunos (aplicação de conhecimentos a novas situações, mais do que a memorização de conteúdos) - que é justamente a filosofia do PISA - estamos certamente no bom caminho, com desafios de melhoria que é preciso enfrentar.
ResponderEliminarUma análise destas está desfasada da realidade. Aconselho o autor da análise a visitar qualquer escola sem a máquina de propaganda partidária e perceberá a verdadeira realidade. Como também sou docente do ensino superior há muito que vejo os resultados da falácia da educação pela competência. O que se vê é uma escola de mínimos a formar pessoas muito aquém das suas verdadeiras capacidades e potencialidades!
ResponderEliminarCaro anónimo,
ResponderEliminarTalvez não seja preciso visitar uma escola para avaliar o que diz. Bastará acompanhar os filhos nos estudos. Dou-lhe a minha experiência pessoal: quem diz que hoje não há exigência - tanto na perspetiva dos conteúdos e competências como do trabalho dos professores - não tem filhos em idade escolar ou, tendo-os em idade escolar, não os acompanha nos seus estudos (e portanto não faz ideia da matéria e da exigência que estão em causa).