No início deste ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um relatório em que apresentava uma conclusão surpreendente: "em média, as estratégias de consolidação orçamental não reduzem o rácio da dívida pública sobre o PIB". A conclusão não surpreende propriamente pelo conteúdo, mas sim pelo facto de ser enunciada pela instituição que foi a campeã da austeridade ao longo da última década. No relatório, o fundo reconhecia ainda que o fracasso dos programas de austeridade neste domínio se devia, em parte, ao facto de "a consolidação orçamental reduzir o crescimento" da economia.
Além de ser um entrave ao desenvolvimento económico, a austeridade tem também profundos impactos distributivos: um estudo de quatro investigadores da Universidade de Boston, publicado em 2021, avaliou o efeito dos programas de ajustamento do FMI em 79 países em desenvolvimento ao longo das últimas duas décadas e concluiu que a imposição de medidas de austeridade mais rígidas está associada ao aumento das desigualdades e da pobreza. De acordo com este estudo, os programas de austeridade tendem a concentrar o rendimento nacional nos 10% do topo, ao passo que todos os outros escalões saem a perder.
No entanto, muito pouco parece ter mudado. Uma análise da Human Rights Watch (HRW), que avaliou os empréstimos concedidos pelo FMI a 38 países desde o início da pandemia e as condições associadas aos mesmos, conclui que "apesar das suas promessas de aprender com os erros do passado, o FMI está a promover políticas que têm um longo historial de exacerbação da pobreza, de desigualdade e de enfraquecimento de direitos."
A esmagadora maioria dos empréstimos concedidos tem como condição explícita o "aperto do cinto" por parte dos Estados que os recebem. Mais de metade prevê o aumento de impostos ou a imposição de limites ou cortes aos salários dos trabalhadores da administração pública, minando também a qualidade dos serviços públicos nestes países. Segundo a HRW, as promessas feitas pelo FMI após a pandemia sobre o seu compromisso com a mitigação dos impactos perversos da austeridade "falharam ou foram ineficazes", colocando em causa os "direitos económicos, sociais e culturais" das populações.
A maioria dos programas do FMI foi dirigida a países do Sul global, que foram particularmente afetados pela pandemia. No entanto, os princípios são aplicados de forma generalizada: para Portugal, por exemplo, um dos últimos relatórios recomenda que, apesar da descida significativa do rácio da dívida pública em apenas dois anos, o país continue a restringir a despesa pública pelo menos até... 2028. Apesar da retórica de mudança, o FMI continua a insistir numa política que sabe que não resulta em reduções da dívida, mas que é bastante eficaz a transferir rendimentos da base para o topo.
Vitor Gaspar, agora no FMI, mudou de ideias? De uma coisa estou certo, deve tecer rasgados elogios a Fernando Medina. Pensa como ele, faz como ele e, se o deixarem, com mais uns furos, mas tudo sem verborreia English.
ResponderEliminarOs empréstimos do FMI, o fim político do FMI, é criar dependências de forma a melhor explorar os recursos da periferia em favor de poucos no centro do sistema capitalista mundial. Este tipo de admissão de técnicos do FMI nunca alterou nem vai alterar nada.
ResponderEliminarPubliquem a lista dos mentirosos que andaram a afirmar que a consolidação orçamental reduz o racio da dívida pública sobre o PIB.
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